Camilo Santana questiona tentativa de ampliar CPI da Covid: "querem confundir a população?"
Em entrevista exclusiva ao programa PontoPoder, o governador falou sobre a abertura de investigação no Senado, com a inclusão de estados e municípios
O governador Camilo Santana (PT) defendeu a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar a condução do combate à pandemia pelo Governo Federal, mas criticou a tentativa de serem incluídos estados e municípios. “Será que querem realmente fazer uma investigação que tenha resultados efetivos ou querem confundir a população?”, pontuou o governador, citando o grande volume de gestões a serem inseridas.
A declaração foi feita em entrevista exclusiva ao programa PontoPoder, que estreou nesta terça-feira (13), na TV Diário.
O governador do Estado falou ainda da falta de coordenação do governo federal e do Ministério da Saúde quanto às ações de enfrentamento à pandemia e da urgência quanto à autorização para a vacina Sputnik V pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Confira a entrevista completa:
Começamos uma reabertura gradual de algumas atividades. Isso ocorre também após algumas pressões de setores da economia, mas com o sistema de saúde ainda pressionado. Como o senhor avalia o processo de retomada?
Temos um comitê que, há mais de um ano, se reúne semanalmente e (do qual) fazem parte os Três Poderes, o Ministério Público Federal e o Estadual e um comitê científico. Todas as decisões têm sido tomadas com a orientação dos nossos especialistas da saúde. Estamos numa redução, numa tendência de queda da transmissão. Há queda da pressão no sistema de saúde, na demanda e na procura, e uma queda no número de casos. Isso fez com que o comitê decidisse pelo início de uma abertura das atividades que não estavam autorizadas.
Mas é fundamental a compreensão da sociedade, da população e dos setores econômicos de que a gente respeite os protocolos, respeite os percentuais autorizados (na capacidade dos estabelecimentos) para que não haja retrocesso.
Nós queremos que a gente possa continuar em queda na pandemia e já iniciar um processo de retomada da economia cearense, que a gente sabe que é muito importante, são importantes o emprego e as atividades econômicas do estado. Portanto, é fundamental a compreensão da sociedade em relação a esse momento que o Ceará está vivendo.
Em relação à vacinação, o senhor ajuizou, no Supremo Tribunal Federal (STF), ação para tentar agilizar a aprovação da vacina russa, Sputnik V. Só o Ceará comprou mais de 5 milhões de doses e o processo está parado. Ao que o senhor credita esse atraso?
É inadmissível que uma vacina que já é aplicada em mais de sessenta países no mundo inteiro, que já foi aprovada por agências internacionais, que tem uma lei federal que permite a importação dessa vacina de forma imediata e emergencial, tenha esse atraso na autorização da Anvisa. O Ceará comprou diretamente mais de 5,8 milhões de doses da Sputnik, (produzida) na Rússia. Inclusive, aplicada aqui na Argentina. Com essas vacinas a gente já poderia ter dado um avanço importante na imunização dos cearenses.
A única forma que a gente tem de retomar a normalidade, retomar a economia é com a vacinação.
O que está travando tanto esse processo? Em relação ao diálogo com a Anvisa, qual a justificativa dada?
A justificativa que a Anvisa está colocando não condiz com a legislação federal aprovada pelo Congresso Nacional e que diz claramente que a importação de vacinas que já estejam aprovadas por agências reguladoras internacionais, não precisa mais passar por todo o trâmite, quando ela é importada já pronta. Então, é isso que nós estamos solicitando e, por isso, entramos no STF com pedido de urgência de autorização.
O senhor tem colocado que o momento não é de politicagem, mas de união e de unidade. Nesse sentido, há diálogo com a oposição em âmbito estadual?
Sou homem de diálogo. Esse é o meu perfil desde quando eu iniciei enquanto governador desse Estado. Sempre tenho colocado que nós só temos um inimigo comum que é o vírus, que é a pandemia, portanto, todos nós deveríamos estar unidos. O problema é que existe uma questão ideológica colocada hoje no Brasil, de um negacionismo dessa pandemia, infelizmente. Temos colocado que isso é errado para esse momento do Brasil, que está sendo ruim para o Brasil. O Brasil já é um dos países com maior mortalidade no mundo, o epicentro da pandemia mundial, hoje, é o Brasil. Não há uma coordenação nacional, não há uma diretriz nacional.
E, além da gente ficar enfrentando todos os dias o combate à pandemia, estamos vivendo hoje um combate às fake news, que são pessoas que de forma, muitas vezes, desonestas, com maldade, procuram desinformar as pessoas, procuram levar informação inverídica e confundir a população, (o que é) fruto desse negacionismo.
Sempre à disposição e aberto ao diálogo com qualquer segmento, como sempre estive. Com a situação e com a oposição. Porém, nesse momento, a gente precisa combater aquelas pessoas que estão negando essa pandemia. (...) Deixa a pandemia passar, que na época da política, vamos discutir a política.
O senhor percebe que há uma abertura da oposição para esse diálogo ou não percebe isso mesmo que defenda essa unidade?
O diálogo sempre está aberto. Quando eu faço reuniões com os prefeitos de todo o Ceará, todos os prefeitos têm direito a participar, a questionar, a levantar. Quando faço reuniões com a bancada de deputados, todos têm (também esse direito). É o meu perfil.
O que tem sido colocado é que, nas redes sociais, muitas vezes, alguns parlamentares e alguns políticos estão utilizando esse momento de forma desonesta, tentando confundir a população.
E, repito, o momento agora é de todos estarmos unidos com um único objetivo: salvar vidas e combater a Covid-19.
Ainda em relação ao diálogo com a oposição, desde o início da pandemia, existem muitas reuniões dos governadores com ministros. Houve algum diálogo com o presidente Jair Bolsonaro diretamente?
Houve uma reunião onde o presidente da República, juntamente com o presidente do Senado e o presidente da Câmara - ainda, na época, o (Davi) Alcolumbre e Rodrigo Maia - (na qual) se discutiu ações que permitissem ser aprovadas no Congresso para apoiar o enfrentamento da pandemia.
É o que eu sempre coloquei: há um descaso com essa pandemia. Você imaginar um país que trocou quatro ministros durante um ano de pandemia. Falta uma coordenação nacional, falta uma diretriz. Essa é a grande falha. Eu não estou falando do ponto de vista político. O mundo inteiro se mobilizou para enfrentar essa pandemia e as grandes autoridades dos países lideraram esse processo. Então, faltou e ainda falta.
Nós temos um presidente que nega a pandemia, que nega as ações de prevenção, que nega o isolamento social, que nega a vacina. Essa é a realidade. E há um esforço gigantesco de governadores e prefeitos, baseado na ciência, de combater a pandemia e salvar vidas.
É um desastre o que está acontecendo no Brasil pelos números dessa pandemia, se for comparar com outros países do mundo inteiro.
O Ceará tem uma lei estadual que prevê punição para divulgação de fake news. Além dessa lei, o senhor tem adotado ou pensa adotar outras medidas para enfrentar esse problema?
Estamos discutindo com a Justiça de que forma podemos acelerar esse processo, porque esse é um problema não só no Ceará, mas no Brasil inteiro. Todos os governadores reclamam disso, os prefeitos reclamam disso. O Brasil precisa focar em quais medidas podem ser tomadas para diminuir as fake news, as mentiras que são divulgadas pelas redes sociais. A coisa mais importante é que a população sempre procure seguir as informações verdadeiras, através da imprensa oficial, através dos meios de comunicação oficial.
O mundo inteiro precisa discutir ferramentas e mecanismo para diminuir e combater essas mentiras e fake news que existem hoje nas redes sociais.
Está em evidência a CPI da Covid e a tentativa de incluir governadores e prefeitos nesta investigação. Qual a opinião do senhor sobre a CPI e sobre a inclusão de governadores?
Sou a favor de qualquer investigação, qualquer apuração, de qualquer fato, em qualquer âmbito e qualquer esfera. É tanto que, no Ceará, defendo muito a importância da transparência do Poder Público. (...) O que parece que precisa ser questionado, precisa ser avaliado, é como uma CPI que está sendo proposta pela condução do presidente da República diante dessa pandemia, pela condução do Ministério da Saúde, que em nenhum momento definiu critérios de prevenção e isolamento social no Brasil; agora incluir estados e municípios?
Nós temos mais de 5 mil municípios, são 27 estados. Será que, quando envolvem tanto estados como municípios, querem realmente fazer uma investigação que tenha resultados efetivos ou querem confundir a população, confundir a sociedade?
Sou a favor de qualquer tipo de investigação, mas precisamos avaliar qual interesse real da inclusão, nesse momento, de estados e municípios, se não é para desvirtuar o objeto que está sendo questionado, que é a forma como o presidente da República, e como o seu governo, está conduzindo essa pandemia, que está sendo questionado no mundo inteiro, pela Organização Mundial da Saúde e por outros países, porque isso afeta o mundo inteiro.
Imagina uma CPI para investigar mais de 5 mil municípios, 27 estados. Sou a favor que se investigue qualquer coisa, em relação não só aos posicionamentos ou questões relacionadas a estados e municípios.
O Comitê Nacional da Covid foi criado após sucessivas cobranças por coordenação. O senhor sente que esse comitê tem tido desdobramentos práticos desde a criação?
Como é que se cria um comitê, uma coordenação sem envolver estados e municípios que estão na ponta no dia a dia? Quem é que está montando os leitos para cuidar dos pacientes? Quem é que está fazendo a ação de prevenção lá na ponta? São os municípios e estados.
Como é que se cria uma coordenação onde exclui estados e municípios? Nós estamos em uma federação. Qual o interesse disso?
Criamos um comitê aqui desde o início do meu governo, aliás, dois comitês. (...) Acho que se dá transparência e é importante o diálogo e a construção coletiva. Sentir os os problemas do dia a dia, ouvir a população, ouvir os segmentos, ouvir os setores. As reclamações, as sugestões. Somente dessa forma, nós conseguimos enfrentar uma pandemia como essa.
Então, imagina criar uma coordenação sem a participação dos Estados e municípios. Qual é o resultado efetivo dessa coordenação? O que, até agora, essa coordenação trouxe de efetividade para o Brasil?