Vacina para adolescentes é segura, reforçam especialistas; Ceará teve apenas uma reação leve

Com quase 200 mil jovens vacinados, o Estado registrou apenas um evento adverso, mas não grave, segundo a Secretaria da Saúde

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Anvisa esclarece que reações mais graves são raras e, ainda que ocorram, evoluem clinicamente bem.
Foto: Fabiane de Paula

A vacinação contra a Covid-19 para jovens de 12 a 17 anos continua sendo uma medida segura para frear a contaminação da doença, mesmo após o Ministério da Saúde recomendar a interrupção do processo entre adolescentes sem comorbidades. É o que reforçam especialistas em saúde, para quem o benefício é muito maior que eventuais riscos.

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que, entre os 196.835 adolescentes vacinados até a última quarta-feira (15), foi notificado apenas um evento adverso pós-vacinação (EAPV), mas considerado leve. A Pasta não detalhou os sintomas e nem onde o caso aconteceu.

Não houve registro de casos de EAPV graves.

Em todo o Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou 167 eventos adversos na vacinação, dos quais 62 com o imunizante da Pfizer, único liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para essa faixa etária. Dos 62, apenas seis foram graves. 

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é o percentual que representa os seis casos graves entre os 3.511.751 adolescentes vacinados com a Pfizer no país, até o dia 5 de setembro.

Segundo a Anvisa, os eventos adversos mais comuns após a vacinação são dor no local da aplicação, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, dor nas articulações e febre.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) se posicionou a favor da continuidade da vacinação nesse público. Segundo a instituição, “não há evidências científicas que embasem a decisão de interromper a vacinação de adolescentes, com ou sem comorbidades".

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Eventos adversos

A SBim lembra que, dos 1.545 eventos relacionados à vacinação em jovens registrados pelo Ministério, 1.378 (93%) foram erros de imunização, ou seja, quando se aplicaram doses de imunizantes que não a Pfizer.

Reações às vacinas respondem por apenas 7% do total nacional, sendo a maioria nas aplicações de Coronavac e Astrazeneca, que não foram autorizadas para adolescentes.

Miocardite e pericardite

A Anvisa investiga a morte de uma adolescente paulista de 16 anos, por mal súbito, no dia 2 de setembro. Oito dias antes, ela havia recebido a primeira dose da Pfizer. Porém, a Agência esclarece que ainda “não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina”.

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A Agência explica que a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) pós-imunização é um evento adverso raro conhecido após outras vacinações, sobretudo contra a varíola. Já a pericardite (inflamação do tecido que envolve o coração) pode ocorrer no contexto de várias doenças infecciosas e não infecciosas, “e pouco se sabe sobre sua real incidência”.

A SBim defende “rigor” na apuração do caso, mas recomenda “cautela para evitar a adoção de medidas precipitadas”. A Sociedade explica que a incidência de eventos adversos graves como miocardite (16/1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina, incluindo adultos) “é extremamente baixa e inferior ao risco da própria Covid-19”.

Legenda: Em Fortaleza, onde mais de 130 mil jovens foram vacinados, não houve registro de eventos graves.
Foto: Thiago Gadelha

O infectologista pediátrico Robério Leite, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), confirma que a possibilidade de miocardite existe, “mas é muito rara”.

Se for fazer avaliação de risco e benefício na nossa população, essa balança é mais fácil de ser avaliada porque, no Brasil, a mortalidade por Covid-19 em crianças e adolescentes é muito maior que na Europa e nos Estados Unidos.
Robério Leite
Infectologista pediátrico

A Anvisa também informa que “não houve relatos de casos de infarto” relacionados à vacina da Pfizer. “É importante alertar que a miocardite e a pericardite são mais comuns em pessoas com a infecção por Covid-19, e os danos ao coração podem ser graves após a infecção”, completa.

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Contradição do Ministério

A SBim ressalta ainda contradições nos argumentos do Ministério. Na mesma nota técnica em que recomendou a suspensão para os adolescentes, a Pasta traz que “mantém-se a recomendação de vacinação para toda população com indicação para o imunizante, principalmente pelo risco da doença COVID-19 e suas sequelas superarem o baixo risco de um evento adverso pós-vacinação”.

O documento também diz que “os episódios de miocardite/pericardite, com provável associação à vacina, ocorreram de forma leve e com boa evolução clínica”. 

Atenção a sintomas

A Anvisa alerta que falta de ar, dor torácica e palpitações não são sintomas comuns em jovens. Por isso, os vacinados devem ficar atentos aos sinais e sintomas e procurar orientação médica, caso apresente alguma alteração.

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