Bula da vacina contra a Covid-19 não traz reações graves em crianças de 5 a 11 anos; veja sintomas
Para médicos e autoridades de saúde, o maior risco à saúde é os pequenos contraírem a doença
A vacinação infantil contra a Covid-19 segue em todo o Ceará com quase 22 mil doses aplicadas, segundo o vacinômetro estadual. Porém, o número ainda está bem distante das mais de 416 mil crianças cadastradas e das 904 mil estimadas para o Estado.
Especialistas atribuem a demora à desconfiança sobre a vacina, mas a bula da Pfizer pediátrica não traz grandes riscos à saúde dos pequenos - e os efeitos adversos são semelhantes a outras vacinas do calendário comum.
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O documento que traz as orientações para o uso do imunizante descreve diversos sintomas que podem surgir após a aplicação entre pessoas de 5 a 11 anos. Contudo, a maioria se refere a sinais leves.
Veja a divisão:
Reações muito comuns (ocorrem em 10% dos pacientes)
dor de cabeça
dor muscular
dor no local de injeção
cansaço
calafrios
inchaço no local da injeção
vermelhidão no local de injeção
Reações comuns (ocorrem entre 1% e 10% dos pacientes)
diarreia
vômito
dor nas articulações
febre
Reações incomuns (ocorrem entre 0,1% e 1% dos pacientes)
aumento dos gânglios linfáticos (ou ínguas)
urticária (alergia da pele com forte coceira)
erupção cutânea (lesão na pele)
diminuição de apetite
náusea
dor no braço
mal-estar
Por fim, a bula não descarta reação alérgica grave (anafilaxia), mas explica que essa causa é desconhecida porque “não pode ser estimada a partir dos dados disponíveis”. Porém, apesar de serem comuns, nem todas as crianças sofrem com os efeitos da aplicação do imunizante.
Olívia Bessa, médica pediatra e diretora de Pós-Graduação da Escola de Saúde Pública (ESP-CE), reforça que a vacina foi aprovada “dentro dos mais rigorosos critérios, considerando para isso o conhecimento de profissionais médicos que atuam no dia a dia com crianças e imunização” e que tiveram acesso aos estudos do laboratório.
Reações semelhantes à nova vacina são vistas nas bulas de outras vacinas comumente aplicadas em crianças no Brasil:
- Influenza sazonal: dor de cabeça, no corpo e nas articulações, febre, mal-estar e tremores.
- Tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola): vermelhidão no local da aplicação, manchas avermelhadas no corpo, febre, dor local, dor de garganta, rinite e diarreia.
- DTP (contra coqueluche, tétano e difteria): irritabilidade, sonolência, reações no local da injeção, fadiga, diarreia, vômito, distúrbios gastrointestinais e distúrbios na atenção.
- Hepatite B: febre, cansaço, dor de cabeça, tontura e irritabilidade.
“A crise de confiança e os mitos em torno dos riscos das vacinas têm circulado pelas redes sociais. E isso é preocupante, sobretudo quando se trata de uma doença potencialmente grave e letal”, alerta a pediatra Olívia Bessa.
Só em Fortaleza, 5,8 mil crianças faltaram à primeira convocação, nos primeiros cinco dias de campanha, segundo balanço da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
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A médica cearense Denise Rocha Menezes também lembra que, até os 18 meses de vida, uma criança toma 26 doses de vacina, sem contar com as das campanhas de vacinação. Logo, não entende a resistência de alguns pais em aceitar a nova vacina.
“Erradicamos a varíola do Brasil há 50 anos. O último caso de poliomielite foi registrado em 1989. O sarampo, que havia sido erradicado em 2016, retornou em 2019 por falta de vacinação. Então, qual a dificuldade de vacinar nossas crianças para a Covid?”, questiona.
Para ela, está provado que a vacinação para os adultos já mostrou sua eficácia e “agora chegou a vez de nossas crianças”. “Não tenham medo da vacina, tenham medo da doença. As vacinas salvam, é o maior ato de amor”, pensa.
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Em nota aberta, a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, a Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras e o Coletivo Adelaides também manifestaram apoio integral à vacinação das crianças, ressaltando que a Covid-19 “já é a primeira causa de morte por doenças infecciosas em crianças”.
Para as pesquisadoras, a hesitação ou recusa vacinal é “mais frequente entre as camadas mais escolarizadas e de maior renda da sociedade, que egoisticamente recusam a vacina porque reconhecem como mais baixo seu risco de morrer”.
Dados confirmam segurança da vacina
Além disso, reforçam como a segurança das vacinas e possíveis efeitos adversos têm sido bem documentados. Primeiro, um ensaio clínico envolvendo mais de 2 mil crianças, publicado em novembro no The New England Journal of Medicine, não encontrou efeitos adversos sérios.
Os dados de farmacovigilância para a vacina da Pfizer nos Estados Unidos, até 31 de dezembro de 2021, mostram que, dentre 8,7 milhões de crianças vacinadas, apenas 4.249 tiveram reações adversas. Destas, 98% foram leves e somente 2% (100 dentre as 8,7 milhões) foram sérias - as mais frequentes envolveram febre e vômitos.
“Houve apenas 12 casos de miocardite, nenhum fatal; oito crianças se recuperaram e quatro ainda estavam em recuperação no momento da publicação dos dados. A taxa de miocardite em crianças de 5-11 anos foi 10 vezes menor do que entre os vacinados de 12-15 anos”, alertam.
Os dados americanos também indicam que não houve mortes associadas à vacinação.
Para essas associações, “é preciso combater com firmeza os negacionistas e suas fake news, sobretudo os médicos antivacinas, que tanto estrago podem causar com suas orientações e recomendações equivocadas, que constituem verdadeiro crime contra a saúde pública”.