Pico da 3ª onda de Covid no Ceará deve ocorrer em fevereiro com queda em seguida, projeta estudo

Estimativa de pesquisadores das Universidades Estadual do Ceará (Uece) e de São Paulo (USP) considera pessoas suscetíveis, infectadas e recuperadas da Covid

A visível alta de casos de Covid no Ceará deve chegar ao pico entre os dias 3 e 17 de fevereiro. É o que aponta um estudo elaborado por pesquisadores das Universidades Estadual do Ceará (Uece) e de São Paulo (USP), segundo o qual a 3ª onda já ocorre desde dezembro.

De acordo com o boletim, as novas contaminações diárias aumentam de forma consolidada desde a segunda semana de dezembro, e um pico de casos já foi registrado no dia 10 de janeiro de 2022, com 2.591 novos infectados no Ceará.

Nonato de Castro, cientista de dados, professor de Computação da Uece e um dos autores do levantamento, explica que a alta transmissibilidade da variante Ômicron, já detectada em mais de 90% das amostras entre cearenses, muda a dinâmica da atual leva de casos.

Como a variante Ômicron contamina muito e estamos sob o efeito da vacina, a curva acaba sendo amenizada ou prolongada. Tivemos um pico no dia 10 e a tendência é que, até março, haja outros vários.
Nonato de Castro
Cientista de dados e professor da Uece

O modelo matemático usado para a estimativa, assinada também por Luciano Ribeiro, doutorando em Estatística e Experimentação da USP, considera três populações:

  • Suscetíveis: pessoas expostas e ainda não infectadas pela Covid;
  • Infectados: pacientes atualmente positivos para o coronavírus;
  • Recuperados: pacientes que contraíram a doença e evoluíram para cura.

“Quando a curva de infectados diários (vermelha) for menor ou próxima da curva de retirados diários (verde), o pico passou. No dia 15 de janeiro, as curvas começam a se afastar novamente, dando indícios que virá outro pico nas próximas semanas”, aponta o boletim.

Além desses indicadores, os pesquisadores observam também a evolução da taxa de transmissão (R), crescente desde outubro no Estado. Em outubro, o “R” estava em 0,67; no início de janeiro, chegou a 0,89; e hoje, já está em 0,93

“R” é a letra que representa o termo “número de reprodução”, que indica, de forma aproximada, para quantas pessoas um paciente infectado com Covid está transmitindo o vírus. O ideal é que se mantenha abaixo de 1.

Quando os casos terão estabilidade no Ceará?

O cientista de dados Nonato de Castro explica também a influência da taxa de recuperados da Covid nos cálculos da 3ª onda e quando o cenário deve entrar em estabilidade. Ouça.

No início de 2021, o cálculo estatístico feito pelos professores Nonato e Antônio Vasques, também da Uece, projetou que o pico de casos da 2ª onda de Covid em Fortaleza aconteceria entre os dias 12 e 22 de março. A probabilidade tinha 98% de precisão, e se aproximou do cenário real, cujo pico se estabeleceu na primeira semana de março.

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A variante Ômicron começou a se propagar com maior rapidez nas duas últimas semanas de dezembro, em Fortaleza, como avalia o epidemiologista Antonio Lima, coordenador da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A subnotificação, como acrescenta, é um fator importante para a análise.

"Tem uma diferença que torna as estimativas mais difíceis: é uma variante que tem escape vacinal, mas a população está vacinada. A segunda é que a subnotificação é muito maior do que na 2ª onda, não dá pra estimar a partir de óbitos, porque a letalidade é muito baixa", pondera.

Variáveis consideradas

O coordenador avalia que o aumento intenso no número de casos não se reflete nos óbitos. O registro de mortes, em momentos anteriores da pandemia, era utilizado para prever os pontos de maior intensidade da doença.

A onda é mais ou menos de 45 a 60 dias. Considerando que a introdução em larga escala ocorreu nos 7 últimos dias de dezembro, teria janeiro e começaria a cair em fevereiro
Antonio Lima
Coordenador da Vigilância Epidemiológica da SMS

Ainda assim, são muitas variáveis capazes de interferir no comportamento da Covid-19. "Há incertezas sobre o que vai ocorrer, se teremos novas variantes, se serão mais leves, se teremos novo surto de influenza com as chuvas", lista Antonio Lima.

A reportagem também questionou à Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) se a Pasta acompanha os indicadores no sentido de estimar quando haverá estabilização e início de queda de casos, mas não houve resposta até esta publicação.