Relação entre Ceará e Argentina deve ser fortalecida, aponta indústria

Principal destino das exportações de calçados do Ceará, Argentina é também importante fornecedora de trigo para empresas do Estado. Indústria demanda perspectiva clara e de estabilidade nas regras de importação do país

Escrito por Redação ,
Legenda: De janeiro a novembro deste ano, o Estado exportou US$ 57 milhões em mercadorias para o País e importou US$ 161,5 milhões, resultando em um déficit de US$ 104,5 milhões

Tradicional parceiro econômico do Estado, a Argentina entra em novo momento com a posse do presidente peronista Alberto Fernández, que afirmou em seu discurso, ontem (10), que “pagará a dívida quando o país começar a crescer”. A Argentina é o principal destino das exportações de calçados do Ceará e importante fornecedora de trigo para os moinhos cearenses.

De acordo com a gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Comércio (Fiec), Karina Frota, o Ceará tem uma facilidade logística com a Argentina, o que torna os processos de importação e de exportação entre os países menos burocráticos, mas pondera que a conjuntura atual que a Argentina enfrenta pode afetar nas relações comerciais com alguns países, especialmente nas importações. 

Ela reforça a necessidade de que os dois países negociem uma política comercial que seja positiva para ambos os mercados. “O relacionamento Ceará-Argentina precisa ser fortalecido, não prejudicado pelos desafios que o mercado terá, como desemprego, inflação”, pontua. “Não acredito em uma crise entre Argentina e Brasil, porque os dois sairiam no prejuízo. O que nós precisamos neste momento é de uma perspectiva clara e de uma estabilidade nas regras de importação no mercado argentino”.

Exportações

De janeiro a novembro deste ano, o Estado exportou US$ 57 milhões em mercadorias para o País e importou US$ 161,5 milhões, resultando em um déficit de US$ 104,5 milhões. Na avaliação de Karina, porém, a situação não representa uma preocupação. “Nosso objetivo é internacionalizar a indústria cearense. Ela prevê bem mais que relações comerciais. No caso específico da Argentina, a importação principal é de um insumo, que é transformado em produto e exportado”, argumenta.

Ela ainda pondera a possibilidade de que a Argentina passe por um período de restrições a produtos importados, mas que não deve impactar as relações comerciais com o Estado por se tratarem de produtos relevantes para as duas economias – o que prejudicaria ambos os mercados. “Apesar da cautela, não vejo que haverá uma blindagem do mercado argentino. Estamos falando de uma parceria comercial longa e tradicional, em que os dois ganham. Seria um retrocesso”, aponta.

Para o economista e consultor internacional, Alcântara Macêdo, as relações comerciais entre Ceará e Argentina, a curto prazo, não correm risco de ser afetadas, já que as vendas dos produtos deles são feitas com carta de crédito, o que torna o risco mínimo de um possível calote pela Argentina. Ele pondera, entretanto, que pode ocorrer nos próximos meses uma diminuição das compras de itens cearenses, o que seria uma situação crítica, pois a parceria Ceará-Argentina é importante. 

“Não vejo uma situação que acenda uma luz amarela para o Ceará. Acho que, apesar dos posicionamentos diversos, temos que agir como nação. Os estados precisam de complementaridade. Este freio de não poder comprar, pode, evidentemente, causar algum problema nas indústrias que exportam para lá”, aponta. 

“Evidentemente, gostaríamos que a Argentina estivesse melhor e comprando mais, porque significa que produziríamos mais e empregaríamos também. A relação comercial pode sofrer alguma repressão, mas a Argentina não ficará em crise econômica para sempre. É melhor comprar do Brasil que de outros países, devido ao Mercosul”, argumenta o consultor.

Desafios

Fernández comandará um país com enorme dívida de curto prazo, sem acesso ao mercado de crédito e sem reservas internacionais para pagar as contas. Enfrentando uma crise econômica há dois anos, com uma inflação de 55% ao ano e 41% da população vivendo abaixo do nível da pobreza, a economia do país será o maior desafio. O fato, disse o presidente, faz com que a Argentina esteja em estado de “calote virtual”.

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