Em 15 dias, Ceará tem novembro com maior volume de chuva dos últimos 50 anos

A previsão para as próximas semanas é de continuidade das chuvas no Ceará, sobretudo na porção Sul do Estado

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Em Fortaleza, a Funceme já registra o acumulado de 17,8 milímetros. A média mensal para a Capital cearense é de 6,6 mm
Foto: Arquivo/Diário do Nordeste

O volume de chuva acumulado nos primeiros 15 dias deste mês atingiu uma marca inédita no Ceará. O índice já é superior a todos os outros meses de novembro desde 1972 - data em que a Funceme inicia o monitoramento no Estado.

Conforme levantamento realizado pelo Diário do Nordeste, com base nos dados órgão cearense, o Estado já acumula 73,7 milímetros nestas duas primeiras semanas.

Em nenhuma outra vez, nas últimas 5 décadas, novembro registrou tanta chuva. Este volume atual já supera em 10 vezes a média histórica para todo o mês, que é de apenas 5,8 mm. Os dados, no entanto, são parciais e podem sofrer alteração tanto para mais quanto para menos. 

Mas, o que explica tantos volumes pluviométricos neste mês que antecede a abertura oficial da pré-estação chuvosa (dezembro-janeiro) no Ceará?

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O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, explica que um fenômeno chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) tem atuado com intensidade e, isso, "contribui para ocorrência das chuvas".

"A La Niña continua atuando e ela está favorecendo as subidas das frentes frias até a Bahia - que avançam, em seguida, ao Ceará -, consequentemente formando a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)", detalha Flaviano. "Esse sistema [ZCAS] provoca bastante chuva em áreas isoladas, principalmente nas áreas mais ao Sul do Ceará", conclui.

A La Niña é o esfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Quando ela está atuando, aumentam as chances de ocorrência de chuvas em uma porção do Brasil, que contempla o Ceará.

Região mais beneficiada

Conforme explicou Fernandes, o Sul do Estado tem sido mesmo a região mais beneficiada. Os números corroboram a fala do especialista. Das oito macrorregiões cearenses, o Cariri é a que acumula o maior índice, com 126 milímetros. O volume é quase 6 vezes superior à média histórica mensal (22,5 mm).

Já a região com o maior desvio positivo é a Jaguaribana. A média para a macrorregião é de somente 3,1 milímetros e, até agora, a Funceme já registrou o acumulado de 57.1 mm, isto é, quase 18 vezes acima da normal climatológica. Esta ampla variação tem sido homogênea no Ceará. Todas as regiões já superaram, em apenas duas semanas, a média histórica mensal.

  • Jaguaribana - 57,1 mm (média histórica 3,1 mm)
  • Sertão Central e Inhamuns - 93,2 mm (média histórica 5,4 mm)
  • Litoral Norte - 17,6 mm (média histórica 1,5 mm)
  • Ibiapaba - 90,6 mm (média histórica 7,3 mm)
  • Litoral de Pecém - 22,2 mm (média histórica 2 mm)
  • Maciço de Baturité - 53 mm (média histórica 5,2 mm)
  • Cariri - 126,1 mm (média histórica 22,5 mm)
  • Litoral de Fortaleza - 17,4 mm (média histórica 3,8 mm)

O que esperar do futuro?

Os volumes que já são positivos - inclusive com recorde batido - podem ficar ainda melhores. Conforme antecipou Flaviano Fernandes, a previsão para as próximas semanas é de continuidade das chuvas no Ceará, sobretudo na porção Sul do Estado.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o próprio especialista do Inmet, juntamente com a também meteorologista do órgão federal, Morgana Almeida, apontaram possibilidade de chuvas acima da média nos três meses finais do ano.

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Em outubro, esse prognóstico se confirmou. O mês terminou com precipitações quase o dobro acima da média. No atual mês, a normal climatológica também já foi batida.

Para dezembro, a tendência é que o mesmo cenário seja registrado. Desta forma, o ano de 2022 terá tido apenas três meses (fevereiro, abril e setembro) com volumes abaixo da média histórica. Esses robustos índices, no entanto, não podem ser parâmetro para as chuvas futuras, de 2023.

A meteorologista da Funceme, Rafaela Gomes, explica que os períodos não têm relação entre si. Fenômenos que atuam durante a pré-estação chuvosa são diferentes daqueles que atuam entre fevereiro a maio, período que marca a quadra chuvosa no Ceará.

"De modo geral, os sistemas indutores das chuvas na pré-estação são os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), os sistemas frontais e também as zonas de convergência do Atlântico Sul. Já na quadra chuvosa, a atuação da Zona de Convergência Intertropical é o principal sistema meteorológico que define a qualidade da estação chuvosa", detalha Rafaela.

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