Setor avícola cearense busca milho nos EUA

Em 30 dias, as primeiras remessas devem chegar ao Estado, atendendo à demanda de 12 produtores de aves

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,
Legenda: A procura pelo milho vindo dos Estados Unidos, que chegará ao Ceará em contêineres, ocorre devido à escassez do produto no mercado interno. A produção foi afetada pela estiagem e pelo fim da tarifa de importação do grão
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Com escassez de milho no mercado interno e o fim da tarifa de importação do grão, granjas cearenses buscam adquirir o produto no mercado norte-americano. A expectativa é que nos próximos 30 dias comecem a chegar ao Estado as primeiras remessas, que atenderão à demanda de cerca de 12 produtores de aves. A novidade é que, diferentemente dos carregamentos recebidos da Argentina, que chegam em navios graneleiros, o milho dos Estados Unidos será entregue em contêineres.

"Ainda não há um acordo fechado, mas acredito que deveremos receber os primeiros contêineres em 30 dias", diz Jorge Reis, presidente da Associação Cearense de Avicultura (Aceav). "A importação de milho em contêineres ainda é uma coisa muito nova no Brasil, mas é tradicional eles exportarem dessa forma", afirma.

Uma das vantagens desse modelo é que ele permite que importador compre em menores quantidades. Além disso, o transporte de contêineres têm uma frequência constante, o que permite maior previsibilidade no recebimento das cargas. "Agora, em vez de ter de trazer 30 mil toneladas, podemos trazer 12 mil toneladas de milho", explica Jorge Reis.

Com a alta do preço do milho no mercado brasileiro nos últimos seis meses, que saltou de R$ 40 para R$ 55 a saca de 60 quilos, os produtores de aves passaram a buscar o produto, sobretudo, no mercado argentino, de onde o grão chega por menos de R$ 49 a saca. Entretanto, na última sexta-feira (22), o governo brasileiro zerou a tarifa de importação de milho, que era de 10%, para compras de fora do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Foi a partir dessa medida que o grão dos Estados Unidos (maiores exportadores mundiais) passou a ser competitivo.

"Nossa busca pelo milho americano é para abrir mercado, ampliar a oferta. Não será necessariamente um milho mais barato do que o argentino. O fato é que, com a nossa realidade de mercado, é mais vantajoso a gente importar", diz Reis.

Mercado interno

Segundo o presidente da Aceav, a escassez de milho no mercado interno é fruto da alta do dólar, que impulsionou as exportações do grão do País, o que resultou na falta do grão na principal região produtora, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. "O pouco que tem nessa região está com preço muito especulativo", diz Reis.

Para ele, as importações deverão ser temporárias. "Isso é uma questão nova. Quando o mercado interno estiver normalizado, com a saca por volta dos R$ 40, não será mais interessante importar", afirma.

A resolução que zerou a tarifa de importação buscou ampliar a oferta do milho diante de preços em patamares recordes, o que afeta as margens das indústrias de carnes. A medida, assinada pelo presidente da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Armando Monteiro, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, valerá por 180 dias, para uma cota de 1 milhão de toneladas.

Produção

A alta do milho tem repercutido nos resultados dos produtores de aves e ovos no Estado. De acordo com o presidente da Aceav, o insumo representa cerca de 60% do custo de produção, podendo chegar a 70%, dependendo da empresa. "O frango hoje é um produto muito barato, ele não remunera o produtor adequadamente. Estamos trabalhando com uma margem de segurança muito pequena", diz.

Após três anos sem apresentar crescimento, o Ceará produz 5 milhões de quilos de frango por semana e 4 milhões de ovos por dia. A produção é destinada exclusivamente ao mercado interno. "Está muito difícil repassar os custos do frango de corte. Houve uma queda no consumo, mas esperamos melhoras", finaliza Jorge Reis.

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