Venezuela considera 'intervencionista' nota do Brasil que manifesta preocupação com eleições
Ministério das Relações Exteriores brasileiro se posicionou acerca das restrições à inscrição de candidatos da oposição
O governo da Venezuela classificou como "intervencionista" o posicionamento do Brasil acerca do processo eleitoral do país, nesta terça-feira (26). Em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro se mostrou preocupado com as restrições à inscrição de candidatos da oposição para as eleições presidenciais de 28 de julho.
"O governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país (...) O Brasil reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo”, declarou, em nota, o Itamaraty, que até agora havia se mantido à margem das críticas contra o pleito no país vizinho.
A chancelaria venezuelana "repudiou o comunicado medíocre e intervencionista, redigido por funcionários do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, que parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos", segundo um comunicado divulgado pelo chanceler Yvan Gil.
O governo brasileiro se declarou ainda disposto a "cooperar" com a comunidade internacional nas eleições venezuelanas e reiterou seu repúdio a "quaisquer tipos de sanção" contra a Venezuela.
OPOSIÇÃO
A oposição venezuelana registrou dois candidatos para as eleições presidenciais após dias de entraves, com o desafio de chegar unida às presidenciais de 28 de julho para enfrentar o presidente Nicolás Maduro, que disputará seu terceiro mandato de seis anos.
Manuel Rosales, governador do estado petroleiro de Zulia (oeste) e ex-adversário de Hugo Chávez, formalizou sua candidatura no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no apagar das luzes do prazo para o registro de postulantes em um sistema automatizado.
O presidente do CNE, Elvis Amoroso, apresentou, nesta terça, uma lista dos candidatos e partidos registrados no pleito, que inclui Rosales e seu partido, Um Novo Tempo (UNT), e depois divulgou o nome do ex-embaixador Edmundo González Urrutia como candidato da Mesa de Unidade Democrática (MUD), antiga aliança absorvida pela atual Plataforma Unitária, que tem sua própria cédula eleitoral.
A principal formação da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), denunciou o bloqueio do acesso para a inscrição de sua candidata, Corina Yoris, nomeada por María Corina Machado como sua representante diante da impossibilidade de concorrer devido a uma inabilitação que a impede e ocupar cargos públicos por 15 anos.
O governo brasileiro "observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitária (...), sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados", assinados entre o governo e a oposição venezuelanas em outubro passado para a realização das eleições.
"O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial", acrescentou o Itamaraty na nota.
RELAÇÃO
Desde que voltou ao poder, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido relações cordiais com Maduro, isolado em grande parte da região. Em 6 de março, Lula pediu respeito à "presunção de inocência" e para não despertar "dúvidas" antecipadas sobre o processo eleitoral venezuelano e gerou polêmica pelas críticas veladas à opositora venezuelana inabilitada.
"Eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Em vez de ficar chorando, eu indiquei outro candidato", lembrou, em alusão a María Corina Machado, sem nomeá-la. Imediatamente depois, Machado acusou Lula de estar "convalidando os atropelos de um autocrata.”