Exame de DNA errado faz mãe de gêmeos passar por 'linchamento público' na Bahia
Dona de casa teve o casamento acabado, perdeu o emprego e foi despejada após resultado de teste
A dona de casa Elizabete Santos Reis de Lima, de 36 anos, sofreu linchamento público após erro em resultado de exame de DNA, na Bahia. Mãe de gêmeos, ela teve a fidelidade questionada pelo antigo companheiro, o professor de música Jeremias Batista Costa Filho, de 39, que decidiu levar somente um dos filhos do casal para realizar o procedimento, escondido da então parceira.
Segundo reportagem do portal Metrópoles, publicada nesse domingo (16), o exame, realizado em novembro de 2020, no “DNA Centro Laboratorial de Genética e Biologia Molecular”, em Salvador, indicou que a criança não seria filha do docente. O resultado marcou o início do fim do relacionamento dos dois.
Na véspera de Natal daquele ano, Jeremias mostrou o teste negativo para a então companheira, que ficou confusa e passou a teorizar que um dos filhos poderia ter sido trocado após nascimento. “Fiquei sem saber do que se tratava. Não tinha verdade ali. Falei para ele que, se ele não era o pai, eu não era a mãe”, contou ao jornal.
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Ao solicitar que o exame fosse refeito, ela teve o pedido negado pelo parceiro. Ao comparar a aparência dos garotos com o pai, a dona de casa desistiu da ideia de que um deles teria sido trocado.
Ao Metrópoles, o doutor em neurociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio) e especialista em genética forense, Eduardo Ribeiro Paradela, afirmou que os dois bebês deveriam ter sido submetidos ao exame, e não somente um deles.
Apesar de tecnicamente errado, o exame negativo resultou no fim do casal e nas descontinuações de projetos e investimentos de Elizabete, que trabalhava como auxiliar financeira de uma empresa de publicidade, além de administrar uma loja de roupas.
Segundo a dona de casa, o professor de música também iniciou uma campanha de difamação contra ela, usando o teste. “Fui agredida moralmente, submetida ao julgamento da sociedade de forma muito danosa.”
Antes do fim de 2020, ela e os dois filhos foram despejados da casa onde residiam e que pertencia a uma ex-cunhada dela. "Não tinha ninguém me apoiando. Não tinha nenhum ombro para chorar aquela injustiça.”
Exame de DNA errado
Ao procurar o local onde o exame foi realizado, a mãe dos gêmeos recebeu a resposta de que laudos de DNA “não erram”. No entanto, com apoio da advogada Vanessa Pinzon, especialista em direito civil, Elizabete entrou na Justiça para solicitar novos exames.
Em dezembro de 2022, a paternidade de Jeremias foi comprovada para os dois garotos, via exames realizados pelo laboratório Biocroma, a pedido do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA). O professor questionou o resultado e uma contraprova foi realizada, em novembro de 2023, confirmando novamente o parentesco dele com os gêmeos.
Conforme o jornal, o reconhecimento da paternidade foi homologado pela Justiça da Bahia, não cabendo mais recursos sobre o caso.
Desde então, a mãe das crianças tenta, ainda via judicial, garantir o pagamento de uma pensão alimentícia justa para os filhos, que atualmente têm 4 anos. A família do pai dos meninos deposita mais de R$ 1 mil, valor que seria insuficiente para cobrir gastos como os de educação, por exemplo. Para pagar as contas, Elizabete diz que faz serviços de diarista.
A injustiça ainda impera, apesar de termos provado a verdade. Ninguém fez o caminho de volta para falar que errou. Quem me difamou não se desculpou pelo que disse.”
Ameaça de morte e medida protetiva
Após ser ameaçada de morte por Jeremias, no fim de 2023, a dona de casa conseguiu uma medida protetiva contra o ex. No entanto, ele já descumpriu a decisão ao menos três vezes, como consta em boletins de ocorrência registrados pela Polícia Civil.
Ao Metrópoles, ele negou as acusações e afirma que antiga companheira “forjou uma medida protetiva” com o intuito de impedi-lo de ver os filhos e para o “invalidar perante a Justiça”.
“Aonde está [sic] as provas das ameaças que ela alega ter sofrido? Não há provas porque nunca houve ameaças”, afirma.
A defesa do professor, feita por três advogados, diz que o cliente “tem demonstrado respeito e cumprimento às decisões judiciais”, afirma trecho de nota.
Suposta agressão
Em abril deste ano, Jeremias violou a medida protetiva ao procurar Elizabete afirmando querer dar um "abraço da saudade" nos filhos. A mãe permitiu a aproximação dele com as crianças.
No entanto, no encontro, os gêmeos retornaram machucados, apresentando arranhões e hematomas. O pai atribui os ferimentos a fatores sobrenaturais, segundo conta a mãe. Desde o episódio, a dona de casa não permite mais que ele veja os garotos. O caso é investigado pela Polícia.
A defesa do professor alega que “não houve qualquer agressão”. As circunstâncias em que as crianças se feriram, acrescenta, é “minuciosamente” investigada.