TDAH: quais os sintomas e como conviver com o transtorno
Especialistas tiram as dúvidas e desmistificam crenças sobre a condição
A desatenção, a inquietação e a impulsividade são traços que todos podem apresentar em alguma circunstância do cotidiano por diferentes motivos. No entanto, quando esses comportamentos são combinados, persistentes e afetam as esferas escolar, profissional e pessoal, deve-se investigar se estão associados a outras condições, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O distúrbio é mais observado em crianças e adolescentes, mas pode perdurar até a vida adulta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 5% da população infantil.
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O que é TDAH
É um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado pelos sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção. Isso vale para adultos e crianças.
Os três tipos do transtorno são:
-
Desatenção predominante
-
Hiperatividade/impulsividade predominante
-
Combinado (une os dois acima)
Qual a diferença entre TDA e TDAH?
O psiquiatra e coordenador dos ambulatórios de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Alexandre de Aquino*, explica que algumas pessoas com o transtorno não apresentam hiperatividade
“Mas não existe TDA. Existe apenas o TDAH, mas sem esse fator associado ao quadro”, destaca.
É uma doença?
O médico Alexandre de Aquino explica que este é um transtorno do neurodesenvolvimento. "Inclusive, há legislações específicas para pessoas com TDAH. Por exemplo, se for comprovada a condição, pode-se ter uma hora a mais de prova no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Portanto, para algumas circunstâncias, pode ser equiparada”, diz.
O que causa TDAH
Fatores como o consumo de drogas durante a gestação podem causar o TDAH, mas a principal causa, segundo o psiquiatra, é a hereditariedade. "Muitas vezes, estamos tratando a criança e descobrimos que um dos pais tem TDAH”, explica Alexandre de Aquino.
Conforme a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA), a prevalência da condição entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral. Mas fatores ambientais, como sofrimento fetal, exposição a chumbo, substâncias ingeridas na gravidez e problemas familiares, também podem estar entre as causas.
O psiquiatra afirma que o TDAH impacta as funções cognitivas devido à redução da atividade na área frontal do cérebro.
“Esse transtorno de neurodesenvolvimento ocorre devido a uma alteração do lobo pré-frontal. Essa região é responsável pelas nossas capacidades de executar tarefas, planejamentos, organização, controle de comportamentos e memórias de trabalho, entre outros”, lista.
Entre as pessoas com TDAH, há uma deficiência de dois neurotransmissores importantes: a dopamina e a noradrenalina. "Por isso, não há atividade adequada da função do lobo pré-frontal", diz o médico.
Quais são os sintomas
O médico observa que o diagnóstico para a condição é somente clínico. Ou seja, com a descrição de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. No caso de crianças e adolescentes, o papel de pais, responsáveis e professores é fundamental para identificá-los. Na vida adulta, explica, a hiperatividade já não se manifesta da mesma forma.
>> Leia cartilha da a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA) sobre TDAH
“O adulto tem mais uma sensação de inquietude, fica procurando se ocupar o tempo todo, tem dificuldade de se concentrar ou de cumprir algum compromisso, como o horário de uma reunião de trabalho”, exemplifica.
Segundo o especialista, não há risco de evolução dos sintomas quando o TDAH não é diagnosticado tardiamente, entretanto, quem convive com o transtorno sem tratá-lo condensa, ao longo da vida, danos socioemocionais.
Assim, as pessoas com TDAH, detalha o médico, podem ter outros quadros psíquicos em decorrência desses prejuízos acumulados, o que afeta não só o aprendizado, mas as relações sociais. Isso pode provocar o desenvolvimento de uma baixa autoestima. Por isso, frisa o profissional, é preciso estar atento aos sinais depressivos e ansiosos.
Os 18 sintomas
O Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiátrica prevê os 18 sintomas abaixo para crianças e adolescentes. Lembre-se: o diagnóstico precisa ser feito por um profissional.
- Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas
- Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer
- Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele
- Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações
- Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
- Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado
- Perde coisas necessárias para atividades (por exemplo: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros)
- Distrai-se com estímulos externos
- É esquecido em atividades do dia-a-dia
- Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira
- Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado
- Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado
- Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma
- Não para ou frequentemente está a “mil por hora”
- Fala em excesso
- Responde às perguntas de forma precipitada antes de elas terem sido terminadas
- Tem dificuldade de esperar sua vez
- Interrompe os outros ou se intromete (nas conversas, jogos, etc.)
Como diagnosticar
O diagnóstico é clínico. Não há exames laboratoriais. Quando os sintomas observados são recorrentes e causam prejuízos à pessoa, é necessário buscar um médico psiquiatra.
No caso de crianças e adolescentes, pode-se buscar também um neuropediatra.
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TDAH infantil
A criança precisa ser acompanhada por profissionais. Segundo o médico Alexandre de Aquino, no caso de crianças de até seis anos, a principal intervenção ocorre por meio do chamado treinamento parental. Os profissionais que a companham irão ensinar aos pais e responsáveis um conjunto de técnicas de educação e manejo comportamental para que saibam como ajudar os filhos neste processo.
Tratamento em crianças
A partir dos 6 anos, a pessoa poderá fazer tratamento através de medicações psicoestimulantes e psicoterapia. Antes desta idade, ocorre conforme descrito acima.
De acordo com a psicóloga Infantojuvenil Ayra Moraes, há intervenções comportamentais que têm como principal objetivo o desenvolvimento do repertório social e de controle de sintomas.
“Vamos ensiná-la meios de lidar com os sintomas, desenvolver as habilidades sociais com outros colegas e envolver a família e a escola”.
"Como a criança não tem competências cognitivas e neurais para lidar com toda essa situação, vamos manejar o ambiente, conversar com a escola para ver o que é possível melhorar para ajudá-la a focar ou diminuir a irritabilidade e quais intervenções são necessárias", explica.
Quem tem TDAH pode dirigir?
Segundo o médico Alexandre de Aquino, o TDAH não é algo limitador. “A pessoa com TDAH pode fazer qualquer coisa que quiser. Se ela seguir o tratamento e seguir todas as recomendações, não há nenhuma limitação de atividades”.
Vida amorosa
Não há qualquer impedimento para que pessoas com TDAH se relacionem ou façam outra atividade cotidiana. No entanto, elas podem enfrentar dificuldade de relacionamento devido à incompreensão do parceiro diante dos esquecimentos e falta de atenção para algumas situações.
Tem cura?
De acordo com o especialista, há possibilidade de remissão dos sintomas. “Mas, conforme estudos recentes, 85% continuam apresentando alguma sintomatologia ao longo da vida. Não estará mais tão intensa, mas será possível de ser detectada”, esclarece o médico.
Famosos que têm TDAH
Jim Carrey
Will Smith
Sabrina Sato
Fiuk
*Psiquiatra Alexandre de Aquino, formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em farmacologia pela mesma instituição. É coordenador dos ambulatórios de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), onde atende. É especialista em terapia cognitivo-comportamental.
*Psicóloga Ayra Moraes, graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e está se especializando em Terapia Analítico Comportamental pelo Núcleo Tríplice de Análise do Comportamento e Formação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil. Atende na Clínica Saluter, na Cidade dos Funcionários, em Fortaleza