Lipedema: o que é, quais os sintomas e tratamento

Enfermidade que atinge uma parcela considerável das mulheres brasileiras, não tem cura, mas tem sintomas que podem ser amenizados de diversas formas

Escrito por Redação ,
pernas brancas com lipedema
Legenda: Lipedema é uma alteração na qual ocorre uma deposição desproporcional de tecido gorduroso, usualmente nos membros inferiores e predominantemente em mulheres
Foto: Shutterstock

O lipedema é uma condição progressiva caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em regiões específicas do corpo, como pernas, braços, joelhos e coxas, fazendo assim uma desproporção simétrica no corpo. 

Estima-se que acometa de 5% a 11% do público feminino, de acordo com o médico-cirurgião vascular e endovascular Frederico Linhares*. "Este ainda é um assunto desconhecido por grande parte dos médicos, podendo a incidência desta alteração ser ainda maior pois nem sempre é feito o diagnóstico correto. Esse fato gera um problema para as pacientes que, muitas vezes, já procuraram inúmeros profissionais e nem sempre têm suas queixas valorizadas", diz.

Quanto antes o diagnóstico for realizado e o tratamento iniciado, menores são as complicações a longo prazo.

Outras doenças que podem piorar a inflamação e o edema nos membros, como as varizes, devem ser tratadas. Apesar de não ter efeito direto no lipedema, explica Frederico Linhares, haverá uma melhora nos sintomas e no inchaço dos membros acometidos. O tratamento precoce pode prevenir as alterações na pele observadas nos casos mais avançados, além do comprometimento emocional, frisa ainda o médico.  

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O que é lipedema?

Trata-se de uma alteração na qual ocorre uma deposição desproporcional de tecido gorduroso usualmente nos membros inferiores e predominantemente em mulheres.

Quais são os sintomas?

As pacientes com lipedema queixam-se de cansaço e sensação de peso nos membros inferiores, com edema que piora no fim do dia ou quando ficam mais tempo em pé, além de dor ao toque nas pernas.

O desconforto relacionado à estética também é frequentemente relatado, podendo levar até a casos de depressão. A utilização de alguns tipos de roupas fica prejudicada devido ao aumento da circunferência das pernas. Nos casos mais graves, até a mobilidade pode ficar limitada, detalha o médico-cirurgião vascular e endovascular.

Como surge o lipedema nas pernas? 

Costuma ser notado na puberdade e vai piorando ao longo dos anos, principalmente quando há ganho de peso, diz Frederico Linhares. Em várias pacientes é possível notar uma nítida desproporção entre o acúmulo de tecido gorduroso nas pernas quando comparado com a parte superior do corpo.

“Uma característica que o diferencia dos outros tipos de edema é que poupa o pé e o acometimento é simétrico, ou seja, ambos os membros se encontram inchados”, ressalta o cirurgião. Esses achados são diversos, por exemplo, da trombose venosa profunda, onde usualmente existe um lado acometido e o outro normal, compondo o edema assimétrico.

O inchaço relacionado às varizes ou alterações linfáticas também é diferente, pois os pés são um dos primeiros locais onde o edema se manifesta nesse caso.

Quais as causas gerais?

Fatores genéticos parecem estar envolvidos, já que o lipedema é frequentemente observado em vários membros da mesma família. O fator hormonal também tem um papel determinante no desenvolvimento desta alteração, sendo o estrógeno e a progesterona os principais hormônios envolvidos. “Essa hipótese parece ser uma das principais explicações para a grande incidência nas mulheres e ao fato de piorar nos momentos de alterações hormonais mais intensas, como na puberdade, gestação e menopausa”, avalia Frederico Linhares.

Quais os tratamentos?

A dieta ocupa parte importante do tratamento. Além de levar à perda de peso e, portanto, acabar melhorando a mobilidade, alimentar-se de forma saudável pode diminuir a inflamação presente no tecido gorduroso.

O exercício físico é importante também para a melhora da mobilidade e para a redução do edema. Além disso, os cuidados diários com a pele são essenciais. “A terapia compressiva é um dos pilares fundamentais para melhora e manutenção dos resultados, podendo ser utilizadas faixas elásticas, meias de compressão, drenagem linfática e botas pneumáticas a depender das necessidades de cada paciente e do estágio de evolução”, relata o médico-cirurgião.

Medicamentos apresentam efeitos limitados e seu uso se restringe a condições específicas que podem ser diagnosticadas durante o acompanhamento. Em casos refratários ao tratamento clínico pode ser realizada uma cirurgia plástica para redução do tecido gorduroso.

“O tratamento não é rápido nem fácil, mas, se realizado de forma correta, pode modificar de forma impactante a qualidade de vida”, pontua Frederico Linhares.

Qual médico faz o diagnóstico?

Os cirurgiões vasculares, cirurgiões plásticos, endocrinologistas e dermatologistas são os especialistas médicos mais envolvidos na equipe multidisciplinar que realiza acompanhamento e tratamento do lipedema e, portanto, os mais familiarizados com o assunto, diz Linhares.

Apesar disso, qualquer profissional que conheça as manifestações clínicas e principais queixas relacionadas ao lipedema pode fazer o diagnóstico e realizar o encaminhamento para um serviço especializado. Além dos profissionais médicos, os fisioterapeutas, nutricionistas e educadores físicos são de extrema importância para um tratamento eficaz.

Quem tem lipedema pode fazer musculação?

O exercício físico é um dos pilares do tratamento do lipedema. Além de contribuir para a perda de peso, melhora o acúmulo de líquido nas pernas através da contração muscular, principalmente da panturrilha, com bombeamento do sangue em seu trajeto para o retorno ao coração.

"Damos preferência aos exercícios aeróbicos como caminhadas, bicicleta, ioga, natação e hidroginástica. A musculação não está contraindicada, mas deve ser realizada de forma a respeitar as limitações de cada paciente e não causar piora da inflamação do tecido acometido", frisa o médico-cirurgião.

Tem cura?

Não tem cura, mas tem controle. "Funciona como se fosse a pressão alta: enquanto faz o tratamento, a pressão fica normal; se parar, a pressão acaba piorando. Os cuidados devem ser mantidos de forma contínua para um melhor resultado a longo prazo e ajustes são frequentes e necessários ao longo do tratamento", comenta o médico. 

*Frederico Linhares é médico-cirurgião vascular e endovascular, formado pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. É especialista em ultrassom com Doppler vascular pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e coordenador da residência médica de cirurgia vascular do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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