Vídeos mostram intensa movimentação na casa de empresário após estudante ser baleada
As imagens mostram um espaço de tempo de ao menos 1h10min, sem a jovem ser socorrida. Ela não resistiu ao tiro sofrido na testa
Vídeos exclusivos, obtidos pelo Diário do Nordeste, mostram uma intensa movimentação na casa do empresário David Brito de Farias após a estudante Alana Beatriz do Nascimento Oliveira ser baleada, na tarde do último domingo (21). As imagens mostram um espaço de tempo de ao menos 1h10min, sem a jovem ser socorrida.
Alana não resistiu ao tiro sofrido na testa. A família acredita que ela foi vítima de feminicídio. Mas a defesa de David rebate que a arma, que era de posse do empresário, disparou acidentalmente. Ele se apresentou à Polícia Civil do Ceará (PCCE) na última segunda-feira (22), entregou a arma e foi liberado.
Nas imagens de uma câmera de monitoramento, é possível ver David sair da residência em um veículo luxuoso, de cor vermelha, às 13h46. A reportagem apurou que o tiro que veio a matar Alana já tinha ocorrido, nesse momento. Às 13h53, chega uma mulher ao imóvel, em outro carro, de cor prata.
Às 14h13, David volta para o local, no automóvel vermelho, acompanhado de outra pessoa. Ele adentra à residência e volta a sair. Quatro minutos depois, ele entra no carro e dirige em disparada. A mulher que tinha chegado em outro veículo tenta correr atrás do veículo, mas é em vão.
As imagens seguintes ainda mostram um outro homem sair da casa em uma motocicleta, às 14h35. E outro homem chegar em um carro de cor branca, entrar na residência e logo sair, às 14h55. Durante todo esse período, nem ambulância nem a Polícia chegam ao local. A reportagem apurou que o socorro chegou apenas depois, e a mulher não resistiu ao ferimento.
Questionada sobre as imagens, a defesa de David, representada pelo advogado Leandro Vasques, afirma que "não vê relevância alguma no fato do investigado ter retornado ao local, afinal é a residência dele, mas ele retorna a pedido da irmã dele que para lá se deslocou para aguardar a chegada do socorro médico. Inclusive na data de hoje a irmã do empresário está prestando depoimento e esclarecendo esse detalhe. Um homem que aparece seria um vigia que também não tem relevância na pesquisa do fato".
Versões do caso
A morte de Alana Beatriz do Nascimento Oliveira, de 25 anos, na casa de um empresário em Fortaleza, está sendo investigada sob sigilo pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. Segundo os advogados da família da estudante, Daniel Queiroz de Souza e Raymundo Nonato da Silva Filho, não há indícios de tiro acidental.
A afirmação vai contra a tese da defesa do empresário do ramo de ensino de idiomas David Brito de Farias, representada pelo advogado Leandro Vasques. O empresário detém a posse de uma pistola e, segundo a defesa, o armamento disparou acidentalmente.
O advogado Daniel Queiroz disse que "o que eu posso afirmar, por ora, é que há indícios de que não foi um disparo acidental, uma vez que o mesmo é praticante de tiro esportivo e ostenta armas de fogo nas redes sociais. Nessas páginas, que foram desativadas, ele informa que é um atirador assíduo".
Outro ponto rebatido pela família da estudante, acerca da tese apresentada por David, é de que o empresário não conhecia Alana. Segundo familiares, a jovem era ex-estudante do curso de idiomas o qual David é sócio-proprietário. "Estamos juntando documentos que comprovam que aquela versão que foi dada pelo David de que eles se conheceram na noite anterior não condiz com a verdade", aponta Daniel Queiroz.
A defesa de David Brito de Farias conta que o empresário e a estudante se conheceram no último sábado (20), que estavam sob "absoluta harmonia sem qualquer rusga" e que o tiro aconteceu "acidentalmente", no momento em que a jovem pediu para ver a arma.
Segundo o advogado Leandro Vasques, a arma é de um modelo que tem apresentado diversos episódios de problemas técnicos, que levam a disparos acidentais.
"A propósito, oportunamente iremos apresentar petição à Autoridade Policial para que a investigação examine de forma criteriosa, do ponto de vista técnico-científico, a mecânica da arma de fogo envolvida no infortúnio, tendo em vista os inúmeros e frequentes casos de acidentes por disparos acidentais envolvendo pistolas da mesma marca daquela pertencente legalmente ao nosso constituinte, muitos deles largamente noticiados na imprensa".
Redes sociais
Amigos de Alana Oliveira criaram um abaixo-assinado para pedir por Justiça, no site Change. O documento será destinado ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), Ministério Público do Ceará (MPCE) e Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE).
Segundo o abaixo-assinado, Alana "não teve como se defender, uma vez que o tiro foi em sua testa. Isso não é tiro acidental, mas é um tiro para matar". Uma página foi criada no Instagram, também com o objetivo de pedir @justicaporalana.
"O abaixo-assinado, que já conta com mais de 7 mil assinaturas, não é de nossa autoria e nem passou pelo crivo do nosso escritório. Entretanto, somos favoráveis a todas as manifestações pacíficas, em especial, a luta pela justiça! Em pesquisa recente, através do renomado portal de notícias CNN, estudos apontam que, no Brasil, durante o ano de 2020, em média 5 mulheres foram vítimas de feminicídio, por dia", compara o advogado da família de Alana, Daniel Queiroz.