TJ antecipa audiência para ouvir vítimas de crimes sexuais ofendidas por juiz em ação civel no Ceará

Agora, as vítimas dizem esperar que seja um magistrado "com empatia e com verdadeiro senso de Justiça" a ouvi-las

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
juiz
Legenda: Até semana passada, a audiência do processo criminal estava agendada para agosto de 2024
Foto: Reprodução

As vítimas de crimes sexuais, parte delas ofendidas por um juiz em sessão da ação cível, no último da 26 de julho, serão ouvidas novamente em juízo. Desta vez, os depoimentos farão parte do processo criminal que apura assédios pelos quais o médico Cícero Valdibézio Agra é acusado.

Há poucos dias, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) havia agendado sessão para agosto de 2024. Nessa terça-feira (8), após repercussão das falas do juiz Francisco José Mazza Siqueira, a Instituição antecipou a audiência para ainda este mês.

As vítimas começaram a ser intimadas de forma urgente a comparecer no próximo dia 31 de agosto, às 8h30, de forma presencial. Consta na notificação da 1ª Vara Criminal da Comarca do Crato que "fica facultado à vítima, desde logo, prestar depoimento na ausência do réu, desde que assim o requeira antecipadamente no ato".

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"ESPERO QUE SEJA UM JUIZ COM EMPATIA"

Depois do trauma devido às falas e do comportamento do juiz Mazza, agora, as vítimas dizem esperar que seja um magistrado "com empatia e com verdadeiro senso de Justiça" a ouvi-las.

"Com certeza essa antecipação é devido à denúncia, pela divulgação na mídia do ocorrido. Não é fácil passar pelo assédio e ainda mais passar por um juiz que coloca a vítima como a culpada de tudo que aconteceu. Eu espero, eu desejo, eu rogo a Deus que dessa vez seja um juiz com empatia, com verdadeiro senso de Justiça", disse uma das vítimas.

"É uma ansiedade de se fazer Justiça. Nada justifica um assédio"
Uma das vítimas

Nessa quarta-feira (9), duas mulheres foram ouvidas no Cariri, na presença da desembargadora e corregedora-geral da Justiça do Ceará, Maria Edna Martins, e de uma juíza. Uma delas disse ao Diário do Nordeste que “finalmente se sentiu acolhida e amparada pelo Judiciário”.

'QUEM ACHA QUE MULHER É BOAZINHA?'

A conduta do magistrado Francisco José Mazza Siqueira resultou em uma sindicância aberta pela Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Agora, o juiz também é investigado pela Corregedoria Nacional de Justiça.

VEJA VÍDEO COM TRECHOS DA AUDIÊNCIA NO ÚLTIMO DIA 26 DE JULHO

Para o advogado das vítimas, a sessão presidida por Mazza no último mês se "tornou um circo de horrores". Das 9h às 13h, as mulheres estiveram na presença do juiz. O que elas não esperavam era, naquele momento de 'vulnerabilidade', ser revitimizadas, desta vez, segundo denunciantes, pelo próprio magistrado.

Em determinado momento da sessão, uma das depoentes ouviu o magistrado dizer: "tinha aluna que chegava se esfregando em mim...esfregando a vagina em mim… aqui não tem criança, aqui é todo mundo adulto... e dizia professor não sei o que.. E eu dizia: minha filha é o seguinte: quando eu deixar de ser seu professor, você faça isso aqui comigo".

Uma das vítimas de crime sexual, ouvida na audiência, diz ter sido "violada, invadida e coagida" ao longo da sessão. A mulher, de nome preservado, conversou com o Diário do Nordeste e relembrou "comentários e falas machistas" vindos do magistrado.

A vítima reclama que enquanto prestava depoimento precisou ficar em frente ao acusado dos assédios, o médico Cícero Valdibézio Pereira Agra. Depois, ainda na sala, ouviu o juiz dizer que "quem acha que é mulher é tudo boazinha, tão tudo enganado, viu. Eita bicho de mão pesada, bicho da língua grande e que chuta nas partes baixas, são as mulheres. Tô dizendo isso no sentido que vocês são fortes" (sic).

CRIME SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

O médico Cícero Valdizébio Pereira Agra foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por crime sexual mediante fraude. A reportagem entrou em contato com a defesa do réu, mas não teve retorno.

Cícero passou a ser investigado pela Polícia Civil desde que pacientes contaram sobre abusos sofridos dentro do consultório na região do Cariri, Interior do Estado. Dentre os relatos, as mulheres dizem que tiveram os "seios massageados", "cabelos puxados" e a "calça tirada" durante as sessões, enquanto o médico afirmava que as atitudes eram parte do tratamento.

 

 

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