Relatório aponta ligação de advogado com o Comando Vermelho

Conforme o setor de Inteligência da Polícia Civil, Lucas Arruda Rolim participava na logística delitiva da facção criminosa. Somente em 2019, ele foi preso duas vezes. Neste mês de dezembro, a Justiça negou pedido de habeas corpus

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br
Legenda: A decisão de negar o HC foi publicada na segunda-feira (16), no Diário da Justiça
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Recentes investigações demonstraram que a disseminação do poder das facções criminosas no Estado do Ceará conta com a ajuda direta de pessoas formadas para defender a lei. Nos últimos anos, foram registrados casos de policiais militares, civis, juízes, desembargadores e agentes penitenciário que desenvolviam suas funções a favor dos criminosos. Desde o segundo semestre deste ano, passou a ser percebido que advogados também colaboram em prol do tráfico e de outros crimes. Mais do que defender seus clientes que estão na mira da Justiça. 

Conforme relatório de Inteligência da Polícia Civil do Ceará, o advogado Lucas Arruda Rolim passou a ser parte da facção Comando Vermelho (CV). Uma investigação, comandada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), apontou que Lucas Arruda participava na logística delitiva da organização. Os autos que a reportagem teve acesso afirmam que o advogado auxiliava “na elaboração de planos de fuga e influência no tráfico de drogas”. 

No dia 31 de outubro de 2019, o suspeito foi detido devido a um mandado de prisão preventiva expedido na Vara de Delitos de Organizações Criminosas do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE). A prisão aconteceu quando ele foi chamado para depor na Draco.

No último dia 10 de dezembro, foi negado o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa de Lucas Arruda Rolim. A decisão foi publicada na segunda-feira (16), no Diário da Justiça. Para negar a liberdade do advogado suspeito dos crimes, foram levados em consideração os relatórios das investigações.

A defesa do preso havia alegado desnecessidade da segregação cautelar decorrente da ordem judicial. Já a Justiça expôs que a permanência da clausura de Arruda é “medida que se impõe para acautelar o meio social de suas maléficas ações, bem como preservar a credibilidade da Justiça como instrumento da ordem pública, atendendo, desta feita, ao anseio da sociedade que clama pelo fim da impunidade”.

Ainda segundo documentos da Justiça, o advogado intermediava de forma frequente a comunicação entre os membros do CV que estão presos e os que se encontram em liberdade. A manutenção da prisão também foi considerada como alternativa ideal porque, para as autoridades, é forma de assegurar que o paciente não prejudique as investigações, com a manipulação de documentos e testemunhas.

“Não custa relembrar que a atuação do paciente, de acordo com as provas reunidas até o momento, ultrapassa os limites do que se espera e se entende como razoável para um advogado, que presta consultoria jurídica e a quem incumbe a defesa dos interesses daqueles que o constituíram.

Como indicado pela autoridade judiciária, os fatos narrados nos autos levam a crer que a liberdade do paciente ocasiona grave risco à ordem pública, levando em conta os indícios do desvio da função de advogado com a finalidade criminosa”, conforme trecho do processo.

Ficha criminal

Lucas Arruda Rolim tinha sido preso, outra vez, em 2019. Em setembro, mês de uma onda de ataques promovidos pelas facções criminosas contra o Estado, o advogado passou a ser investigado como suspeito de auxiliar Marcos da Silva Soares e Claudiana Barroso de Sousa, outros supostos membros do CV. A dupla portava explosivos e entorpecentes. No dia 16 de outubro, ele foi preso pela primeira vez.

A prisão em flagrante aconteceu na própria residência do advogado, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Lá, teriam sido encontrados bilhetes que, para as autoridades, apontavam a ligação de Lucas com membros do Comando Vermelho (CV). Ainda no dia 16, Lucas foi beneficiado com habeas corpus concedido durante Plantão Judiciário da Comarca de Fortaleza.

A reportagem entrou em contato com os advogados de Lucas Rolim, que preferiram não se posicionar sobre o assunto afirmando que o processo principal tramita em segredo de Justiça.
 

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