Policiais e ex-PM são suspeitos de integrar grupo de extermínio

A Controladoria Geral de Disciplina (CGD) investiga as ações de policiais militares e de um ex-PM. Dois deles foram presos em flagrante por extorsão mediante sequestro. Homicídios também são atribuídos ao grupo

Escrito por Redação , seguranca@svm.com.br
Legenda: Policial militar, preso em flagrante por sequestro, foi levado ao Presídio Militar, em Fortaleza
Foto: Natinho Rodrigues

Um sequestro de uma pessoa seguido de extorsão à família dela, interceptado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) e pela Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), na última quinta-feira (5), foi mais um crime cometido por policiais militares da ativa e ex-PMs, que também são suspeitos de integrar um grupo de extermínio com atuação em Fortaleza há pelo menos dois anos.

O ex-policial militar Wandson Luiz da Silva e o sargento PM José Eliomar Nazareno foram presos em flagrante, por policiais da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) e da Coordenadoria de Inteligência (Coin), em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A vítima do sequestro foi resgatada e o dinheiro pago pela família, recuperado.

A vítima foi raptada de dentro de casa, no bairro Jardim das Oliveiras, em Fortaleza, por homens que se identificaram como policiais civis e que alegaram que a pessoa seria conduzida para prestar depoimento. Um notebook e um aparelho celular também foram levados. Horas depois, a família da vítima recebeu ligações e pedidos de pagamentos, para liberar a pessoa que estava sequestrada.

Os presos foram autuados pelo crime de extorsão mediante sequestro. Wandson Luiz, expulso da Polícia Militar do Ceará (PMCE) em 2018, foi levado para a Delegacia de Capturas e Polinter (Decap), da Polícia Civil do Ceará (PCCE); enquanto José Eliomar foi conduzido ao Presídio Militar. A dupla está à disposição da Justiça Estadual, e a DAI segue investigando o caso. A CGD acrescentou, em nota, que adotou as providências para apuração também na seara disciplinar.

A reportagem apurou que outros policiais militares, inclusive da ativa, integram o grupo que é suspeito de execuções em Fortaleza. As investigações correm sob sigilo de Justiça. A Controladoria Geral de Disciplina espera chegar aos outros nomes, a partir das apreensões dos aparelhos celulares de alguns dos suspeitos que já foram apreendidos.

Reincidente

Essa é pelo menos a terceira vez que Wandson é preso, sendo a segunda neste ano. Ele já tinha sido detido em maio último, pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), por suspeita de matar Alisson Rodrigo Silva Rodrigues, de 32 anos, na Praça da Igreja de Fátima, na Avenida Treze de Maio, em Fortaleza, no dia 24 de agosto de 2018. Com o ex-PM, na ocasião, foram apreendidos uma pistola, 16 munições, R$ 4.500 em espécie, aparelhos celulares e mídias.

Alisson Rodrigues foi assassinado por três homens armados - que utilizavam duas motocicletas - ao sair do prédio do DHPP, no Bairro de Fátima, onde prestaria depoimento sobre a execução de três policiais militares em um bar no bairro Vila Manoel Sátiro, também na Capital, ocorrido um dia antes. A fotografia dele circulava nas redes sociais como um possível autor do triplo homicídio. Alisson não tinha conseguido depor ainda e decidiu ir almoçar com o pai, quando foi executado.

A motivação do homicídio seria vingança, segundo as investigações, em razão de o grupo de extermínio acreditar que Alisson participou do crime que teve três PMs como vítimas: o 1º sargento José Augusto de Lima, 58; o 2º tenente Antônio Cezar Oliveira Gomes, 50 (ambos da Reserva Remunerada); e o subtenente Sanderleu Cavalcante Sampaio, 46 (único que estava na ativa). Seis suspeitos de integrar uma facção criminosa que atua na região foram presos pelo triplo homicídio.

Wandson foi preso também em agosto de 2017, após a Polícia Militar ser acionada para uma ocorrência de perturbação de sossego. Ele foi flagrado na posse de um veículo Toyota Hilux objeto de furto, uma espingarda calibre 12, duas pistolas (calibres 380 e Ponto 40), uma farda dos Correios, duas balaclavas, dois celulares, munições e uma corda tipo rapel.

O então soldado da PM ainda desacatou os colegas de farda, durante a abordagem. O caso levou à demissão do então soldado dos quadros da PMCE, no ano seguinte.

Pista

Uma motocicleta utilizada no assassinato de Alisson Rodrigues liga Wandson a outro PM suspeito de integrar o grupo de extermínio. Trata-se de Raimundo Belarmino Rodrigues Neto, apontado como um dos autores do assassinato de Bruno Rafael da Silva, em Fortaleza, em dezembro de 2018. O mesmo veículo foi utilizado nesse crime.

Raimundo Belarmino, junto de outros dois policiais militares, vai a julgamento por um homicídio ocorrido em 1º de agosto de 2009. A sentença de pronúncia foi proferida pela 4ª Vara do Júri de Fortaleza em outubro de 2019, permitindo os três PMs a aguardarem o julgamento em liberdade e impronunciando um quarto militar. A defesa recorreu, mas o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) negou o recurso e manteve a decisão.

Conforme a acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE), uma equipe do Comando Tático Motorizado (Cotam) foi acionada para uma denúncia de consumo de drogas dentro de uma residência, no bairro Alagadiço Novo, na Capital. No momento em que os PMs chegaram ao local, quatro jovens tentaram fugir.

Paulo Rodrigo da Silva Ferreira entrou em outro imóvel e foi seguido pelos policiais. Ao ser alcançado no quintal, Paulo foi executado com dois tiros. Após a ação, segundo o MPCE, os militares simularam socorro à vitima e a levaram para o Frotinha da Messejana, aonde já chegou morto.

No processo, a defesa dos três policiais militares pronunciados alegou que Paulo Rodrigo apontou uma arma de fogo em direção a um dos agentes de segurança, que teve de agir "em defesa de terceiro, cumprindo com a sua obrigação profissional".

Arquivamentos

O sargento José Eliomar respondeu a dois processos que foram arquivados na Auditoria Militar do Ceará neste ano, sobre fatos ocorridos no exercício da função pública. O mais antigo é de 2015, quando ele e outro militar foram denunciados por subornar um motorista que estava sem habilitação para dirigir, em Pajuçara, Maracanaú. Conforme os autos, o homem pagou R$ 400, mas os PMs teriam se arrependido, devolvido o dinheiro e efetuado a autuação.

No caso mais recente, o militar baleou duas vezes um suspeito que tentava fugir de uma abordagem policial, no bairro Serrinha, em Fortaleza. O homem portava um simulacro de arma de fogo, foi socorrido e levado a um hospital, sob custódia policial.

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