PMs são demitidos por esquema de propina em escalas de serviço

O militar responsável e dois que teriam se beneficiado foram punidos pela CGD. Um quarto policial investigado foi absolvido. O esquema foi descoberto em uma investigação do Gaeco contra policiais acusados de extorsão

Escrito por Redação , seguranca@svm.com.br
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Legenda: CGD publicou portaria com demissões dos três policiais militares no Diário Oficial do Estado da última sexta (13)
Foto: FOTO: KLEBER A. GONÇALVES

Três policiais militares foram punidos com demissão pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) pela acusação de corrupção nas escalas de serviço de um batalhão da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Um quarto PM foi absolvido. O esquema criminoso foi descoberto no bojo da Operação Gênesis II, do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE).

De acordo com a portaria da CGD, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) da última sexta-feira (13), o esquema de propina acontecia no 17º Batalhão de Polícia Militar (BPM), localizado no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza. Interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça Estadual, flagraram as conversas, que buscavam trocas de benefícios na escala do serviço público e envolviam pelo menos 12 agentes de segurança. As investigações precisaram ser desmembradas em três processos, devido ao número de PMs.

No processo em questão, o controlador geral de Disciplina, Rodrigo Bona, decidiu pela demissão dos sargentos José Evandro dos Santos, Tadeu Erlano dos Santos e Francisco Evanildo Carneiro da Silva, apesar da Comissão Processante do Órgão entender que os dois primeiros policiais poderiam ser punidos por uma "sanção diversa da demissória". Enquanto foi absolvido o também sargento José Albuquerque de Sousa.

Conforme as investigações, o sargento Carneiro, como era conhecido, atuava como escalante do 17º BPM desde 2008 e se utilizaria da função para obter recursos oriundos de propina paga pelos outros policiais. As interceptações registraram conversas suspeitas entre os anos de 2016 e 2017.

Em uma das conversas, ocorrida às 11h54 do dia 24 de fevereiro de 2017, uma sexta-feira anterior ao Carnaval, o sargento Carneiro liga para o sargento Evandro para cobrar R$ 100. Evandro pede até o fim do dia para realizar o pagamento, porque está ocupado naquele momento, mas o PM escalante afirma que o colega de farda tem até 14h daquele dia para pagá-lo, senão seu nome estará na escala.

Mais tarde, em nova ligação, iniciada às 17h47, Evandro garante que irá efetuar o pagamento mais tarde. E seu nome não constou na escala do feriado, segundo a investigação. Questionados pela CGD, os militares alegaram que o pagamento era referente a uma bota que tinham negociado e que Evandro estava de férias naquele período, por isso não podia trabalhar no Carnaval.

Em outro episódio, o sargento Erlano é acusado de contratar o sargento Carneiro para ele trocar a escala de um outro PM, que trabalhava na sua mesma viatura, no dia 21 de outubro de 2016. O motivo da troca era que o policial teria "amarelado" (tido medo) em uma possível abordagem. Os agentes desmentem o pagamento para alterar a escala.

O sargento Albuquerque explicou para a Controladoria Geral de Disciplina que tinha apenas emprestado o aparelho celular para outro PM fazer uma ligação, momento em que este teria ligado para Carneiro e interferido ilegalmente na escala de serviço. O esquema de propina em escalas de serviço do 17º BPM foi descoberto durante os levantamentos da Operação Gênesis II, na qual o Gaeco investiga uma organização criminosa, formada por policiais civis e militares e traficantes, acusada de extorquir outros traficantes, utilizando-se das funções públicas, da viatura, do fardamento e até do Sistema de Informação da Polícia para adquirir dinheiro ilicitamente. Os valores cobrados custavam de R$ 4 mil a R$ 10 mil.

Mandados

A 'Gênesis II' foi deflagrada no dia 16 de setembro último, com o cumprimento de 17 mandados de prisão e mais 17 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos, estavam nove PMs, três policiais civis da ativa e um policial civil aposentado. As identificações não foram reveladas, em razão do sigilo da investigação.