Ministro da Segurança lança centro de combate ao crime organizado no CE

A proposta do Governo Federal é que cada Região do País tenha um Centro. O do Nordeste funcionará aqui

Escrito por Messias Borges - Repórter ,

Células de Inteligência de Forças de Segurança estaduais e federais estarão reunidas em território cearense, para, em um trabalho integrado, trocarem informações e reforçarem o combate ao crime organizado. A promessa do Ministério da Segurança Pública é que o Centro Integrado de Inteligência Regional do Nordeste seja instalado no segundo semestre deste ano.

O equipamento foi anunciado pelo Governo, oficialmente, ontem, em cerimônia no Palácio da Abolição. Porém, a implantação no Ceará já havia sido definida em reuniões emergenciais, para dar uma resposta à crise na Segurança Pública local.

O País todo se atentou para a violência que crescia desde o fim de 2016 e atingiu picos no ano de 2017, no Ceará. O ano de 2018 já começou com o registro trágico de quatro chacinas, que resultaram em 35 mortos; dois tiroteios dentro de cadeias públicas; e a execução de dois dos principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC).

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Apesar desses episódios e das execuções diárias, que se multiplicam, o ministro da Segurança, Raul Jungmann, deu outra explicação para o primeiro Centro de Inteligência ser sediado no Ceará. "Acho que foi, sobretudo, por uma decisão dos demais governadores. Todos abriram mão para que ficasse no Ceará, o que é uma prova de prestígio e de liderança do Estado".

A unidade contará com setores da Inteligência das polícias de outros estados do Nordeste, Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad). "Estarão reunidos dentro de um centro integrado de comando e controle, voltado para a Inteligência, para chegar às chefias do crime organizado, seus arsenais e recursos", afirmou Jungmann.

A previsão do Ministério é interligar cinco centros integrados, cada um sediado em uma Região do País. O Centro de Inteligência Nacional irá coordenar todas as ações e será o primeiro a estar funcionando.

Funcionamento

O ministro não informou qual será o tamanho do efetivo do Centro do Nordeste, por questão de segurança, segundo ele, e garantiu que os gastos serão mínimos. O Governo Federal entrará inicialmente com cerca de R$ 2 milhões, para qualificar um prédio, que será cedido pelo Governo Estadual. O imóvel não teve a localização revelada.

Os custos com pessoal, equipamento e manutenção ficarão sobre a responsabilidade dos estados. "Não há nenhuma necessidade de contratação adicional. O custo é muito baixo e o ganho é enorme", disse Jungmann.

Representando os outros governadores do Nordeste, o líder do Executivo do Piauí, Wellington Dias, analisou que o País está atrasado em relação ao crime organizado. "É preciso reconhecer que o crime se organizou em uma velocidade maior que o poder público. É como se o crime tivesse se organizado no século XXI e o aparelho do Estado brasileiro, no século XVIII".

Raul Jungmann acredita que a Inteligência necessita ser valorizada para impedir o avanço das organizações criminosas e citou a construção dos centros regionais como um ponto importante. "Estaremos dando partida para uma integração da Inteligência da Segurança, das Polícias. Porque é a Inteligência, e sobretudo ela, que têm a capacidade de copiar a capacidade operacional do crime organizado".

O presidente do Congresso Nacional, senador cearense Eunício Oliveira, corroborou a fala do ministro. "Todos nós sabemos que a grande dificuldade que temos não é apenas no combate de dia a dia, de rua. A grande preocupação é a chamada integração das Inteligências dos órgãos já constituídos no Brasil. Há dificuldades de alinhamento, de comunicação interna, essa área é extremamente difícil".

Índices

O governador Camilo Santana fez um apanhado no número de homicídios, nos últimos anos, e destacou o crescimento da guerra entre as facções, em 2017, que terminou com mais de cinco mil mortes violentas no Estado, o que representou um aumento de mais de 50% nas estatísticas, em relação ao ano anterior.

"Em 2015, reduzi drasticamente os homicídios no Ceará. Seguimos 2016 nessa curva de redução. Mas em 2017, voltamos aos indicadores de 2014. Muito por conta da guerra pelas drogas, as facções criminosas e a disputa por coisa ilícita", contou.

O discurso de que a União precisa investir mais em Segurança Pública é unânime entre as autoridades. Com o ápice da violência em vários estados, o Governo Federal criou o Ministério da Segurança Pública, decidiu por uma intervenção federal no Rio de Janeiro, mandou uma força-tarefa para o Ceará e liberou R$ 42 bilhões para os estados investirem na Segurança e no Sistema Penitenciário.

Camilo Santana já se posicionou afirmando que utilizará parte do recurso que receberá para construir 14 presídios regionais e fechar 132 cadeias públicas, as quais classificou como "precárias". As unidades de Itapajé e Pentecoste registraram 10 e duas mortes de detentos, respectivamente, em tiroteios ocorridos neste ano.

O ministro Raul Jungmann aproveitou a visita ao Ceará para anunciar que o Governo Federal irá liberar mais recursos para a Pasta. E afirmou que, apesar das dificuldades vivenciadas pela Segurança Pública do Estado, não cogita a possibilidade de intervenção federal. "Quero dizer que, com todas as dificuldades, o senhor (Camilo Santana) está no controle", garantiu.

Retaliação

Questionados sobre a possibilidade de haver represálias dos criminosos devido ao investimento na Segurança, os governantes disseram não temer. "De forma alguma. Não vamos abrir 1mm de combater o crime e a violência no Ceará, no Nordeste e no Brasil", disse Camilo.

Idealizador do projeto de lei de implantar bloqueadores de sinal telefônico nos presídios de todo o País, o senador Eunício Oliveira recebeu uma ameaça recentemente. Indagado sobre a ameaça, ele se resumiu a dizer que não recuará. "Vou cumprir a missão que me foi entregue nas mãos pelo povo do Ceará".

Polícia Federal

Quem também esteve no evento foi o novo diretor-geral da Polícia Federal, delegado Rogério Galloro. Entretanto, não concedeu entrevista. O nome da delegada federal Vanessa Gonçalves Leite foi anunciado como nova superintendente regional do órgão no Ceará. A posição ficou vaga com a saída de Delano Cerqueira Bunn, indicado por Galloro para o cargo de diretor de Gestão Pessoal da PF.

O que eles pensam

Qual a importância do Centro?

"É muito importante. O reforço da Inteligência é algo que tem sido, de forma muito clara, demandado como imprescindível na luta que o Estado enfrenta, com relação à violência e à forma como ela se manifesta. Sem dúvida, é uma contribuição muito importante. Essa chegada do centro vem somar a essa ambiência do Estado do Ceará em integrar"

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Izolda Cela
Vice-governadora do Ceará

"No momento em que há uma discussão que o problema da Segurança Pública deixou de ser localizado, e que ultrapassa as divisas do Estado, a gente precisa desses Centros Integrados. Precisamos de informações, de dados de Inteligências de outros estados e da União. Vamos poder fazer um combate mais preciso e eficiente ao crime organizado"

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André Costa
Secretário da Segurança Pública do Estado

"A gente precisa ter um espaço de diálogo para poder socializar informações. Compreendo que a questão da Segurança Pública precisa de múltiplos olhares. Esses vários olhares, dentro de um mesmo espaço, tende a potencializar cada vez mais a política de segurança. O Estado do Ceará dá um passo importante. O Nordeste dá um passo importante"

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Mariana Lobo
Defensora Pública Geral do Ceará

"É fundamental porque a Inteligência difere muito da investigação. É uma área carente de combate à criminalidade. Por meio da Inteligência e por meio desse centro no Ceará, representando o Nordeste, nós vamos conseguir saber o tamanho de cada facção e saber quem são os líderes de cada uma delas. Com esse Centro vamos conseguir combater o crime"

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Plácido Rios
Procurador geral de Justiça do Estado

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