Justiça mantém denúncia contra desembargadora e advogados acusados de venda de liminares no Ceará

A decisão ratificou o recebimento da acusação ofertada pelo MP. A Justiça também agendou audiência para o próximo mês de julho

Escrito por Redação , seguranca@svm.com.br
tjce forum fachada
Legenda: A investigação apontou que o esquema se valia dos plantões judiciários no TJCE
Foto: Natinho Rodrigues

A Justiça decidiu manter o recebimento da denúncia ofertada pelo Ministério Público acusando uma desembargadora, advogados e outras pessoas de participação em um esquema de venda de liminares nos plantões judiciários do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). A decisão foi proferida pela 5ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza, nessa quinta-feira (10) referente à acusação enviada a partir do desenrolar da 'Operação Expresso 150'.

Além de ratificar o recebimento da denúncia, o magistrado marcou a data de audiência de instrução para o próximo dia 7 de julho, às 9h. A oitiva inicial deve ser das duas primeiras testemunhas arroladas pelo Ministério Público. Devido à pandemia, a audiência será realizada por meio de videoconferência.

Segundo os autos, essa denúncia em específico é direcionada ao 'Núcleo Sérgia Miranda', que tem como denunciados a desembargadora aposentada Sérgia Maria Mendonça Miranda, Frankraley Oliveira Gomes (então namorado da magistrada); e os advogados Michel Sampaio Coutinho, Carlos Eduardo Miranda de Melo, Cláudia Adrienne Sampaio de Oliveira, Paulo Fernando Mendonça, Jéssica Simão Albuquerque Melo, Mauro Júnior Rios e Thalys Anderson Malta Bitttar.

Devido à grandiosidade do esquema revelado a partir da investigação da Polícia Federal na 'Expresso 150' o processo foi desmembrado e há outros dois núcleos, o do 'Francisco Pedrosa' e o do 'Valdsen da Silva', ambos também desembargadores na Justiça do Ceará. As ações penais tramitam junto à 15ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza.

Denúncia

Consta na decisão por ratificar o recebimento da denúncia que a peça ofertada pelo MP "encontra-se pautada no inquérito policial que aponta para a  possibilidade de autoria a serem atribuídas aos réus, haja vista a prova produzida em sede inquisitorial, que serão esclarecidas em sede de instrução criminal". 

O juiz não entendeu ser o caso de absolvição sumária dos réus, "pois não existe manifesta causa de exclusão da ilicitude ou culpabilidade, não estando extinta a punibilidade dos agentes. Também verifico que os fatos narrados na peça vestibular se amoldam ao tipo legal apontado.

Segundo a denúncia do órgão ministerial, no núcleo da desembargadora Sérgia Maria Miranda, o seu então namorado, empresário Frankraley Gomes, a ajudava a negociar a venda de liminares com os advogados Michel Coutinho, Carlos Eduardo Melo e Mauro Rios. A advogada Jéssica Melo, esposa de Coutinho, era uma das profissionais aliciadas para impetrar o pedido de habeas corpus no TJCE - pelo menos outros dois advogados tiveram o nome utilizado para esse trabalho, mas não foram denunciados, de acordo com o MP.

Conforme a denúncia, no plantão do dia 17 de novembro de 2012 o grupo conseguiu duas liminares negociadas com Sérgia Miranda. No plantão de 26 de maio de 2013, mais duas decisões favoráveis aos advogados. E no plantão de 23 de dezembro de 2013, outras duas liminares. 

Segundo ainda o MPF, a desembargadora Sérgia Miranda ainda é acusada de determinar o pagamento de R$ 1.119.932,01 pela massa falida da empresa Sociedade Imobiliária e Construtora Ltda. (Simcol), mediante a promessa do gerente operacional Paulo Fernando Mendonça, com o apoio da advogada Cláudia Adrienne de Oliveira, de pagar mais de R$ 217 mil à magistrada e ao então namorado dela, Frankraley Gomes.

Conversas telefônicas revelaram que pessoas presas e advogados articulavam acertos com desembargadores do Tribunal de Justiça do Ceará, em nítidos atos de corrupção, visando a expedição de alvarás de soltura e/ou provimento judicial favorável. Os diálogos interceptados revelaram minúcias das tratativas de advogados como valores a serem pagos, movimentação de pessoas presas na seleção dos beneficiados com as decisões, esforço para célere arrecadação dos valores do ajuste ilícito, cobrança do pagamento do valor acertado e deferimento dos alvarás de soltura pelos magistrados"
Ministério Público

Defesas

A defesa de Paulo Fernando Mendonça, representada pelo advogado André Ramon Tabosa, disse receber com tranquilidade a nova decisão de ratificação da denúncia: "A tese defensiva em nenhum momento é refutada pelo Judiciário mas carece de maior prova que será produzida no contexto da instrução processual, nesse sentido a defesa permanece confiante que a verdade será demonstrada em juízo culminando com a futura absolvição do denunciado, que foi tragado por condutas de outros denunciados que recaíram sob sua pessoa, embora não estivesse em comunhão de desígnios".

O advogado Jader Figueiredo Correia, representando Cláudia Adrienne, afirmou que o envolvimento da sua cliente neste caso "além de indevido e injusto, é absurdo". A defesa acrescentou que por se tratar de um caso polêmico, demais manifestações serão feitas nos autos.

O próprio acusado Thalys Anderson atendeu a ligação da reportagem, mas informou que prefere não se pronunciar sobre a decisão. A defesa de Michel Sampaio e Jéssica Simão não quis se posicionar acerca do caso. Os representantes legais dos demais acusados também foram procurados, mas não atenderam as ligações ou não responderam às mensagens. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados