Interrogatório de dois PMs em Júri da Chacina do Curió acontece nesta quarta (24); acompanhe

De acordo com a denúncia do MPCE, Marcílio Costa de Andrade teria sido o estopim de uma confusão que antecedeu à chacina e teria executado uma pessoa no bairro Curió.

Escrito por
Redação seguranca@svm.com.br
(Atualizado às 14:50)
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Legenda: O 5º júri começou nessa segunda-feira (22) e segue em andamento
Foto: Zé Vitor/TJCE

O quinto 'Júri do Curió' chega ao terceiro dia. Nesta quarta-feira (24) devem sentar no banco dos réus para serem interrogados os policiais militares Marcílio Costa de Andrade e Luciano Breno Freitas Martiniano. Ambos são acusados de participar do evento que ficou conhecido como Chacina do Curió ou Chacina da Messejana, ocorrida há quase uma década.

O Diário do Nordeste acompanha a sessão presidida pelos magistrados da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, no Fórum Clóvis Beviláqua. Nessa segunda (22) e terça-feira (23) prestaram depoimentos as vítimas sobreviventes, testemunhas de acusação e as testemunhas convocadas pelas defesas.

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Luciano foi indiciado após a investigação concluir que alguns policiais tentaram adulterar as placas de seus veículos para não serem flagrados transitando no local. Perícias foram realizadas e constataram divergências entre números, que haviam sido propositadamente mudados naquela noite, segundo os promotores de Justiça.

11 pessoas 
morreram na Chacina da Messejana, em novembro de 2015

Para o Movimento Mães do Curió, a expectativa para o 5º Júri é sempre positiva no que diz respeito ao objetivo dos familiares, que é obter Justiça. "A nossa busca por Justiça não é a busca por vingança, é busca para que essas pessoas sejam responsabilizadas pelo que eles fizeram naquela noite. Essa busca, infelizmente, vai ser infinita pra gente, porque nós perdemos nossos filhos, marido, nossas famílias. São 18 famílias. Não é coisa de duas, três, mesmo que fosse, imagine 18".

[ATUALIZAÇÃO às 10h30]

A sessão foi retomada por volta das 9h30 desta quarta-feira (24), iniciando com o interrogatório de Marcílio. O acusado começa o depoimento respondendo as perguntas dos juízes. 

Marcílio optou por não responder as perguntas da acusação.

[ATUALIZAÇÃO às 14h50]

A sessão foi suspensa para almoço e quando retomada, por volta das 14h30, começou o depoimento de Luciano Breno. 

INÍCIO DA SEQUÊNCIA DE MORTES

De acordo com a denúncia do MPCE, Marcílio Costa de Andrade teria sido o estopim de uma confusão que antecedeu à chacina e teria executado uma pessoa no bairro Curió.

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Legenda: A propagação de um boato de traição teria sido o primeiro acontecimento de uma série de outros mais violentos e sangrentos, que culminaram na chacina que deixou 11 pessoas mortas.
Foto: Messias Borges

Conforme testemunhas relataram no processo, os bairros Curió e São Miguel estariam vivendo um momento de "tranquilidade" após um "acordo de paz" feito entre os traficantes de drogas da região. No entanto, no dia 25 de outubro de 2015, a "paz teria sido quebrada".

Marcilio e outro homem teriam matado um adolescente de 16 anos. A partir dessa morte a situação se agravou. Na noite do dia 11 de novembro, em um assalto, o soldado Waltemberg Serpa foi morto no bairro Lagoa Redonda.

O suposto assaltante seria morador do bairro Curió. Por isso, policiais militares de folga e de serviço organizaram uma vingança.

Na noite de 11 de novembro de 2015 e na madrugada do dia 12, em diferentes ruas da região da “Grande Messejana”, 11 pessoas foram mortas, três sofreram tentativa de homicídio e outras quatro passaram por tortura.

As vítimas nada tinham a ver com a morte do PM. Foram escolhidas aleatoriamente e mortas sem chance de defesa.

Apesar das provas técnicas e testemunhas, as defesas alegam inocência dos réus. "Marcílio é injustiçado até hoje e provará à sociedade de Fortaleza que ele é inocente. Marcílio é vítima de uma perseguição implacável", disse o advogado Paulo Pimentel, que representa o réu Marcílio.

JÚRIS ANTERIORES

No total, 30 policiais militares são acusados pela matança. 27 já foram a júri nos anos de 2023 e 2025, sendo seis deles punidos com a prisão e expulsão da Corporação. (Veja ao fim da matéria lista com todos os nomes e as sentenças).

O Ministério Público afirma que aconteceram "nove episódios que marcaram uma das noites mais violentas da história de Fortaleza, ocorrida entre 11 e 12 de novembro de 2015" com múltiplas vítimas fatais e sobreviventes "revelando um padrão sistemático de violência e abuso de poder".

"Um padrão sistemático de violência que se estendeu por mais de quatro horas, revelando uma operação coordenada que resultou numa das mais graves violações de direitos humanos na história recente de Fortaleza"
MPCE

VEJA OUTROS RESULTADOS:

Primeiro júri - 20 de junho de 2023

  • Antônio José de Abreu Vidal Filho - condenado a 275 anos e 11 meses de prisão e expulso da Polícia Militar;
  • Ideraldo Amâncio - condenado a 275 anos e 11 meses de prisão e expulso da Polícia Militar;
  • Marcus Vinícius Sousa da Costa - condenado a 275 anos e 11 meses de prisão e expulso da Polícia Militar;
  • Wellington Veras Chagas - condenado a 275 anos e 11 meses de prisão e expulso da Polícia Militar.

Segundo júri - 29 de agosto de 2023

  • Sargento PM Francinildo José da Silva Nascimento - absolvido de todas as acusações;
  • Sargento PM José Haroldo Uchoa Gomes - absolvido de todas as acusações;
  • Cabo PM Ronaldo da Silva Lima - absolvido de todas as acusações;
  • Cabo PM Thiago Aurélio de Souza Augusto - absolvido de todas as acusações;
  • Soldado PM Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes - absolvido de todas as acusações;
  • Soldado PM Gerson Vitoriano Carvalho - absolvido de todas as acusações;
  • Soldado PM Josiel Silveira Gomes - absolvido de todas as acusações;
  • Soldado PM Thiago Veríssimo Andrade Batista de Moraes -absolvido de todas as acusações.

Terceiro júri - 12 de setembro de 2023

  • Tenente PM José Oliveira do Nascimento - condenado a 210 anos e 9 meses de prisão;
  • Subtenente Antônio Carlos Matos Marçal - teve um crime desclassificado para a Vara da Auditoria Militar e foi absolvido pelos outros;
  • Sargento PM Clênio Silva da Costa - absolvido;
  • Sargento PM Francisco Helder de Sousa Filho - absolvido;
  • Sargento PM José Wagner Silva de Souza - condenado a 13 anos e 5 meses de prisão;
  • Sargento PM Maria Bárbara Moreira - absolvida;
  • Cabo PM Antônio Flauber de Melo Brazil - absolvido;
  • Soldado PM Igor Bethoven Sousa de Oliveira.

Quarto júri - 31 de agosto de 2025

  • Sargento Farlley Diogo de Oliveira - absolvido de todas as acusações 
  • Cabo PM Daniel Fernandes da Silva - absolvido de todas as acusações 
  • Cabo PM Gildácio Alves da Silva - absolvido de todas as acusações 
  • Soldado Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa - absolvido de todas as acusações 
  • Soldado Francisco Flávio de Sousa - absolvido de todas as acusações 
  • Soldado Luís Fernando de Freitas Barroso - absolvido de todas as acusações 
  • Soldado Renne Diego Marques - absolvido de todas as acusações 

QUEM SÃO AS VÍTIMAS DA MATANÇA:

  • Álef Souza Cavalcante, morto aos 17 anos;
  • Antônio Alisson Inácio Cardoso, morto aos 16 anos;
  • Francisco Elenildo Pereira Chagas, morto aos 40 anos;
  • Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos;
  • Jandson Alexandre de Sousa, morto aos 19 anos;
  • José Gilvan Pinto Barbosa, morto aos 41 anos;
  • Marcelo da Silva Mendes, morto aos 17 anos;
  • Patrício João Pinho Leite, morto aos 16 anos;
  • Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, morto aos 18 anos;
  • Renayson Girão da Silva, morto aos 17 anos;
  • Valmir Ferreira da Conceição, morto aos 37 anos
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