Facção criminosa assume domínio de comunidades de Fortaleza

Nos últimos dois dias, em diversas áreas das periferias da Capital, e na Aldeota, foram ouvidos e vistos fogos de artifício para mostrar a chegada da facção ao local

Escrito por Redação , segurança@svm.com.br
Legenda: Ontem, na Comunidade das Quadras, na Aldeota, moradores foram surpreendidos com os fogos de artifício
Foto: Foto: Kid Júnior

Enquanto parte da população se mantém dentro das suas residências a fim de combater a disseminação do novo coronavírus, criminosos vão às ruas comemorar a tomada de territórios da organização rival para a traficância de drogas. Moradores de várias comunidades da periferia de Fortaleza e também da Aldeota foram surpreendidos na segunda-feira (8) e ontem com fogos anunciando a tomada do local pelos integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV).

Os fogos são utilizados para avisar uns aos outros que o 'ponto' agora pertence à organização criminosa. A reportagem do Sistema Verdes Mares apurou junto à fontes da Inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) que os territórios tomados pelo Comando Vermelho eram áreas "neutras" do tráfico de drogas, ou seja, sem domínio de nenhum outro grupo.

"O CV está intimando os traficantes que eram neutros. No Por do Sol, na Grande Messejana, não era GDE nem CV, era neutro. Há anos que não tem homicídios lá por isso. Nos locais que antes eram neutros o CV está intimando: ou entra ou morre. Estão ocupando esses territórios e os traficantes com medo estão aderindo. Eles estão com armamento pesado. Uma parte desse armamento foi trazida de fora do Estado", disse uma fonte da Inteligência, sob a condição de não ser identificada.

Na tarde de ontem, nos arredores do bairro Dionísio Torres, policiais militares fizeram buscas após receberem informações sobre um suposto tiroteio. No local, populares disseram ter se tratado de fogos de artifício comemorando a ação da facção. Um homem identificado como Leonardo Cunha da Silva, de 22 anos, foi preso e, conforme um policial militar que atendeu a ocorrência, o suspeito confessou a comemoração da tomada da comunidade por uma facção.

Silva ainda tentou fugir pelo telhado de uma residência quando percebeu a presença da Polícia. Com ele foram apreendidos dois celulares, um tablet, quantidade de cocaína e moedas. Ele já tinha antecedentes criminais por roubo e foi autuado em flagrante por tráfico de drogas e porte ilegal de arma restrita.

Disputa

De acordo com a fonte ligada ao Gaeco, a disseminação do CV pela capital cearense é reflexo do enfraquecimento da GDE. Segundo o entrevistado, que também terá sua identidade preservada, as investidas das autoridades contra a cúpula da Guardiões do Estado (GDE) a desequilibrou e deu espaço para uma outra organização tomar mais força.

"Nós imaginávamos que isso iria acontecer a partir do enfraquecimento da GDE. Neste momento da pandemia, com olhares centralizados na Covid-19 eles ficaram à vontade. Precisa haver uma eterna vigilância. Ainda é cedo para dizer quantos membros o Comando tem no Estado do Ceará. Nós iremos para cima, vamos nos unir para combater", disse o servidor.

Além da região da Grande Messejana, moradores da Barra do Ceará, Vila Velha e Jardim Guanabara também relataram à reportagem terem ouvido fogos de artifício e percebido novas pichações em muros com a sigla CV. A fonte da Inteligência da SSPDS confirmou que Barra do Ceará e Bom Jardim são duas regiões, agora, praticamente que por completas tomadas pela organização de origem carioca.

Por nota, a Polícia Civil do Ceará informou que investiga os suspeitos que apareceram em vídeos divulgados nas redes sociais soltando fogos em alusão a uma facção criminosa. A SSPDS disse ainda que suspeitos foram identificados e que a PM realiza trabalho ostensivo no intuito de capturar os envolvidos. O Sistema Verdes Mares solicitou entrevista com o titular da Secretaria, mas a Pasta enviou nova nota destacando o trabalho feito para capturar os suspeitos.

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