Extorsão, facção e 'tocaia': o que diz a investigação sobre o assassinato de dentista em Morada Nova

Os dois suspeitos presos em flagrante já tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça Estadual

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Romullo Kleyver Maia Façanha
Legenda: Romullo Kleyver Maia Façanha, de 32 anos, foi morto dentro de clínica odontológica
Foto: Reprodução/Instagram

Dois suspeitos de participar do assassinato do dentista Romullo Kleyver Maia Façanha, de 32 anos, dentro do seu consultório, no Município de Morada Nova (a cerca de 167 km de distância de Fortaleza), no último sábado (9), foram presos em flagrante pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), poucos minutos depois do crime. As prisões preventivas já foram decretadas pela Justiça Estadual.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, Adriano Araújo e Antonio Jocieudo Inácio de Melo foram autuados pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) por homicídio qualificado. Adriano ainda foi autuado pelo crime de tráfico de drogas, em razão da apreensão de 26 papelotes de cocaína na sua casa.

Policiais militares que atenderam a ocorrência do homicídio receberam informações que Romullo Kleyver tinha sofrido ameaças e extorsões de duas mulheres, nas semanas anteriores ao assassinato. A esposa da vítima afirmou que o marido estaria sendo acusado de assédio contra uma paciente. Entretanto, ao ser ouvida pela Polícia, a paciente afirmou que tinha uma relação amorosa com o dentista.

Os PMs levantaram a identificação e o endereço da paciente de Romullo e foram até a residência da mulher - que é companheira de Adriano Araújo, que já respondia por tráfico de drogas e havia deixado a prisão há poucos dias, com o uso de tornozeleira eletrônica. 

Ao chegarem ao imóvel, os policiais viram um homem encostado em uma motocicleta e decidiram abordá-lo. Antonio Jocieudo Inácio de Melo portava um simulacro de arma de fogo e foi preso em flagrante. Os militares ainda levantaram a informação que o suspeito morava próximo da clínica onde aconteceu o crime, em um imóvel que tinha "uma visão perfeita do estabelecimento e que foi alugada recentemente", segundo os PMs.

Na residência de Adriano, os agentes de segurança encontraram droga, R$ 2 mil em espécie e roupas que foram identificadas por testemunhas do homicídio como as vestimentas utilizadas pelos criminosos. De acordo com a Polícia, o suspeito é irmão de um matador da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE).

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Paciente se contradiz em depoimento

A mulher (identidade preservada) que seria a companheira de Adriano Araújo e paciente do dentista Romullo Kleyver Maia Façanha foi ouvida duas vezes pela Delegacia Regional de Russas. Inicialmente, ela sustentou que foi assediada pelo dentista, durante uma consulta, e depois recebeu ligações e mensagens "ameaçadoras para ficar com ele".

No primeiro depoimento, a mulher afirmou que aceitou se encontrar com Romullo e ter relações sexuais com ele em decorrência das ameaças. Ela negou ter ameaçado ou extorquido o dentista.

Entretanto, ao ser preso, Adriano afirmou que sabia que a companheira teve uma relação amorosa com o dentista. A mulher foi ouvida novamente pela Polícia Civil, quando reconheceu que "teve um caso extraconjugal com ele (Romullo) e que após um mês não quis mais, porém a vítima (Romullo) começou a lhe ameaçar e ameaçar suas filhas; Que recentemente contou tais fatos a seu marido".

Suspeitos de morte em Morada Nova são presos
Legenda: Junto com os suspeitos foram apreendidos simulacros, munições, drogas e outros objetos ilícitos
Foto: PMCE/Divulgação

O que disseram os suspeitos

Ao ser interrogado pela Polícia Civil, Adriano Araújo negou participação no homicídio e também disse não ter feito ameaças ou extorsões ao dentista. Ele sustentou que estava com a filha e que não saiu de casa, na manhã daquele sábado (9) que aconteceu o crime. O suspeito ainda confirmou que teve conhecimento do relacionamento amoroso da companheira com Romullo Kleyver.

Antonio Jocieudo Inácio de Melo também negou participação no homicídio e alegou que estava próximo da casa do outro suspeito para esperar por uma carona de um amigo para irem caçar. O suspeito admitiu ter conversado com Adriano no dia do crime, pela rede social WhatsApp, mas negou o encontro presencial. Ele ainda garantiu que não sabia da suposta relação extraconjugal ou do assédio sofrido pela mulher do amigo.

Após parecer favorável do Ministério Público do Ceará (MPCE), representado pelo promotor Jairo Pequeno Neto, o juiz plantonista do 3º Núcleo Regional, da Justiça Estadual, converteu as prisões em flagrante dos dois suspeitos em prisões preventivas, no último domingo (10). Para o promotor, "há prova da existência do crime, conforme consta no inquérito policial, levando-se em conta as circunstâncias detalhadas pelos depoimentos das testemunhas e as evidências materiais encontradas no local".

"A gravidade em concreto do crime cometido pelos acautelados, por si só, já justifica a necessidade de seu acautelamento provisório, pois se trata de homicídio doloso praticado em circunstâncias que demonstram premeditação e elevado grau de violência. O fato de o crime ter sido cometido dentro de um ambiente profissional, onde a vítima, um dentista, estava em pleno exercício de sua atividade e sem condições de defesa, revela conduta de extrema periculosidade e insensibilidade quanto à vida humana. A execução do ato na presença de terceiros, incluindo a companheira da vítima, reforça o impacto social e psicológico do crime, demonstrando desprezo pelas consequências devastadoras para os envolvidos e para a comunidade".
Jairo Pequeno Neto
Promotor de Justiça

 

Para o magistrado, a conversão da prisão é justificada "em razão da garantia da ordem pública, consubstanciada na gravidade em concreto da conduta, tendo em vista que os autuados foram presos em flagrante delitivo dentro de um contexto de um homicídio, ocorrido no local de trabalho da vítima, com vários disparos de arma de fogo, sem deixar chances de defesa".

"Com efeito, a prática de homicídio com características de execução, dentro do local de trabalho da vítima, sendo efetuados diversos disparos de arma de fogo, demonstra inequivocamente a gravidade em concreto da conduta dos autuados, impondo-se a decretação da cautelar máxima, para salvaguardar a ordem pública, fortemente abalada pelos atos praticados".
Juiz plantonista do 3º Núcleo de Custódia

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