Exposed Fortal: MP esbarra em subnotificação e se depara com famílias que acobertaram assédios

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv) é responsável pelo acolhimento das vítimas que optaram por levar a denúncia adiante

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
arte crianca violencia sexual
Foto: Unidade de Arte /SVM

A campanha alavancada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) a partir do movimento #ExposedFortal mostrou que o perfil de vítimas de assédio sexual é diverso. A promotora e coordenadora do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv), Joseana França, afirma que em meio aos casos recebidos há o de uma família que tentou encobrir o crime por medo de a vítima ser exposta.

A tentativa de 'fechar os olhos' diante a um fato buscando esquecer que aquilo aconteceu de nada adiantou. "A violência silenciada traz um prejuízo enorme para a vítima e potencializa o sofrimento", afirma a promotora a partir da sua experiência na linha de frente ao acolhimento. Um exemplo citado por Joseana é o de um homem adulto, que procurou o Nuavv em 2020, 39 anos após ser vítima de crime sexual.

"Ele sabia que o caso dele estava prescrito, mas nos buscou porque tem conhecimento que o abusador dele continua abusando de outros adolescentes. São pessoas que guardaram isso, situações nunca registradas, um caso que ficou subnotificado e levou a um adoecimento enorme. Quando a #ExposedFortal ganhou força, as pessoas se identificaram com a causa", destacou a coordenadora.

As vítimas que procuraram as autoridades eram, de início, recebidas pelo Nuavv. Quando chegavam havia acolhimento com uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogo e assistente social que participaram da escuta especializada. O procedimento é previsto na lei e, dependendo do grau do adoecimento, é preciso que haja ainda avaliação psiquiátrica.

"O adoecimento mental das vítimas é grande. Temos uma incidência enorme de abusos sexuais contra crianças e adolescentes"
Joseana França
Coordenadora do Nuavv

ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

A psicóloga Ayra Moraes explica que a vida dos adolescentes está diretamente relacionada com a internet. Quando as vítimas têm fotos ou vídeos íntimos vazados há uma pressão social e elas podem desenvolver diversos transtornos a longo prazo, como depressão e ansiedade.

"Fica uma cicatriz. E como geralmente as vítimas são adolescentes meninas, elas se sentem extremamente culpadas e têm uma baixa rede de apoio. São ridicularizadas e passam por constantes críticas. Existe pressão social grande nessas meninas, porque geralmente quem pede esse tipo de foto são os parceiros, pessoas que convivem no dia a dia e elas sentem que serão mais aceitas se enviarem. Então elas têm seus corpos invadidos, julgados, analisados. Em casos mais extremos mudam de escolas, de cidades", disse Ayra.

O julgamento começa contra si e se estende à sociedade. Joseana França destaca ser comum que vítimas deixem de levar denúncias adiante por medo da exposição e das críticas. "Será que aconteceu comigo porque eu não fui capaz de evitar?", se perguntam aquelas que já sofreram crimes sexuais.

Ayra Moraes acrescenta a importância dos adultos ao redor estarem preparados para orientar de uma forma acolhedora, sem julgamento, e com um diálogo respeitoso: "é como se a imagem pública desses adolescentes tivessem tanto ou mais valor do que a percepção que eles têm de si mesmos".

Como entrar em contato com o Nuavv

Endereço: Av. Cel. Philomeno Gomes, 222, bairro Luciano Cavalcante, Fortaleza, Ceará (prédio das Promotorias de Justiça Criminais).

Telefone: (85) 3218-7630 ou  (85) 98563-4067

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