#ExposedFortal: psicólogos e pedagogos apontam para os impactos de assédios na formação de vítimas

De acordo com especialistas, o acompanhamento psicológico, assim como a atenção de pais e até mesmo de escolas, são cruciais para o apoio nos casos expostos

Escrito por Redação , metro@svm.com.br

A denúncia de casos de assédio em Fortaleza, por meio da hashtag #ExposedFortal, que viralizou em diferentes redes sociais na terça-feira (23), trouxe à tona uma realidade frequente para muitas meninas, adolescentes e mulheres: a violação da intimidade de corpos femininos continua a impactar cotidianamente em âmbitos diversos, incluindo o psicológico e em desenvolvimentos nas diferentes fases da vida. 

Entre fotos íntimas vazadas por meio de aplicativos de mensagens, casos de estupro e o assédio constante, presente até mesmo no ambiente escolar, profissionais de psicologia afirmam que os relatos destacados nos expostos na Capital cearense, por exemplo, apontam para o impacto na formação da personalidade dessas mulheres. Além disso, evidenciam a necessidade de punição para os envolvidos nos crimes e tratamento adequado para as vítimas. 

“Quando falamos de sexualidade, por exemplo, falamos de corpo. Assim, quando falamos dessa exposição feita, também falamos claramente de corpos que foram violados”, é o que explica a psicóloga Lívia Nóbrega Barreto.

Dessa forma, ela comenta, acontecimentos desse tipo são capazes de influir na autoestima, nas formas de lidar com o sexo e até mesmo na tendência feminina de culpabilização, tão recorrente na sociedade atual.

É muito importante o autoconhecimento, passar a se entender em relação à sexualidade e ao gênero, por exemplo. Quando esses casos de violação acontecem, muitas vezes essas meninas acabam guardando o sofrimento para si, o que pode resultar na formação de pequenas neuroses”, aprofunda a profissional ao reforçar a necessidade de acompanhamento adequado para todas que vivenciaram na pele casos como o do #ExposedFortal. 

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Foi assim que a psicóloga resolveu ser canal de ajuda: ao lembrar como vivenciar o machismo na pele e até mesmo tendo passado por caso semelhante quando jovem, percebeu ter a capacidade de ser instrumento qualificado nesse momento. Depois das denúncias na terça, Lívia Barreto se disponibilizou a atender gratuitamente algumas meninas afetadas nos casos divulgados em Fortaleza.

De acordo com ela, sete vítimas já marcaram atendimentos até então. Mesmo assim, também opina, a discussão desses fatos exige entendimento de questões ainda mais complexas e “muito cuidado”.

Desde cedo

Para o psicólogo Raymundo Neto, é comum, inclusive, que meninas, quando ainda muito pequenas, não entendam a realidade dos assédios criminosos. Alguns dos relatos vistos na cidade mostraram meninas entre 13 e 15 anos sendo afetadas por essas ações. Sendo algo que “excede o entendimento da criança”, ele reitera que estas invasões podem repercutir na formação durante anos e podem até resultar em um entendimento completo apenas na fase adulta.

“A vida sexual não é para a criança, não é mecanismo na estrutura infantil. O impacto surge quando elas passam a ter o conhecimento, até nessas adolescentes. Com a evolução do mesmo sendo aflorado, a mulher começa a perceber as questões sexuais e como foi vista dessa forma até mesmo já pequena”, pontua. 

É exatamente esse ponto no qual o especialista diz estar grande parte do problema. Segundo ele, muitas das exposições feitas alertam para o fato de que a relação de confiança, seja na divulgação de uma imagem íntima ou nos casos de assédio realizados por pessoas próximas ou familiares, era algo existente para muitas vítimas.

“Quando pequenos, todos temos muita necessidade de pensar em uma referência. Isso acontece até mesmo na adolescência. Se isso acontece, fica o pensamento de “em quem eu confio agora?” e tudo isso é capaz de tirar dessa adolescente o senso, o valor que ela pode contar com os outros”, expõe sobre a problemática.

Na escola

No âmbito da questão de formação de modelos entre os jovens, os relatos espalhados nas redes deixaram claro uma realidade presente até mesmo em escolas de Fortaleza. Professores foram capazes de assediar alunas dentro do ambiente educacional, seja por meio de mensagens ou até mesmo em ações físicas.

Na visão da pedagoga Fernanda Cavalieri, quando o desrespeito vem de uma referência diária no ambiente de aprendizagem, o impacto vem para  “a vida dessas meninas como um todo”. “Baixo rendimento e desinteresse são sinais de alguma coisa não vai bem. Depressão, ansiedade e pânico são transtornos que podem ser desencadeados e que também afetarão a vida escolar”. 

Segundo a mesma, a proximidade entre família e a escola é extremamente necessária para apoiar as vítimas, que podem sentir medo ou vergonha ao contar os fatos, e para identificar comportamentos inadequados da parte de professores ou coordenadores. “Crimes ou abusos sexuais podem acontecer com alunos de todas as faixas etárias, de ambos os sexos e também com alunos com deficiência. Professores e demais profissionais da escola precisam estar atentos não só à fala dos alunos, mas também ao que desenhos, textos e comportamentos que podem indicar”.

Em síntese, explica Raymundo Neto, os pais, nos casos entre menores, devem estar sempre na figura de responsáveis, sendo espaço aos quais essas jovens possam recorrer. Mesmo entre maiores de idade, ele opina, é sempre importante ter em mente o essencial: “ir às autoridades competentes e proceder com as denúncias, além de esquecer qualquer tipo de preocupação social, com que os outros vão pensar, é crucial. Tudo isso se configura como crime”, finaliza.

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