DCTD volta a funcionar após operação da PF
As investigações sobre tráfico de drogas ainda não foram retomadas na Delegacia Especializada da Polícia Civil
A Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD) voltou a realizar os procedimentos básicos de uma unidade da Polícia Civil, ontem, cinco dias após a Delegacia ser alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e precisar trocar a sua cúpula.
A reportagem esteve na Especializada, localizada na Avenida Deputado Oswaldo Studart, no Bairro de Fátima, em Fortaleza, na manhã de ontem, e foi informada que voltaram a ser realizados Boletins de Ocorrência (B.O.), flagrantes e o armazenamento de drogas que são apreendidas em todas as outras delegacias da Capital.
Entretanto, as investigações sobre tráfico de drogas ainda não foram retomadas. A Divisão ainda aguarda a chegada de inspetores e de pelo menos um delegado, para auxiliar a delegada Socorro Portela, que assumiu interinamente a direção da DCTD, na última quarta-feira (6).
Procurada pela reportagem, Socorro Portela recusou conceder entrevista neste momento. Desde o dia que assumiu, a delegada tem reuniões constantes com superiores do quadro da Polícia Civil e com os policiais remanescentes da DCTD, para conhecer a Especializada e as investigações em andamento, organizar o trabalho e ajustar a equipe.
O secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, afirmou, em coletiva de imprensa na última quarta-feira (6), que Socorro Portela teria liberdade para escolher quais policiais seriam mantidos, removidos ou incorporados ao quadro da Divisão.
"O nosso grande foco é manter o trabalho da DCTD. Temos danos para gerenciar. Por ser um setor fundamental para a segurança pública, que é a especializada em combater o tráfico de drogas, a gente sempre vai tentar priorizar o efetivo, recursos logísticos, vamos dar todas as condições à doutora Socorro Portela", prometeu o titular da SSPDS André Costa.
Dezesseis policiais civis que eram lotados na DCTD foram afastados da Polícia Civil ou removidos de função durante cumprimentos de mandados na Operação Vereda, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na última quarta-feira (6), para apurar uma série de crimes praticados dentro da Delegacia, como extorsão, corrupção passiva e tráfico de drogas.
Entre os alvos da operação estavam a diretora da Divisão, a delegada Patrícia Bezerra, e o adjunto Lucas Aragão, que foram afastados da Polícia Civil. A delegada Anna Cláudia Nery também é investigada e foi removida para função administrativa. Os outros 13 suspeitos são inspetores lotados na DCTD.
Além dos agentes de segurança, outras nove pessoas foram alvo da Operação Vereda. Entre os 25 investigados, seis - sendo dois policiais - acabaram presos em flagrante, por portarem dinheiro falsificado, drogas e armas de fogo irregulares.
De acordo com o presidente do inquérito que resultou na Operação Vereda, delegado federal Gilmar Santos Lima, os policiais civis investigados subtraíam ou pediam dinheiro ou mesmo material ilícito - como drogas e anabolizantes - em troca de relaxar o flagrante ao criminoso. Os investigados que não são policiais foram qualificados pela PF como 'colaboradores' ou 'informantes', pois auxiliavam os policiais nas negociações com os traficantes, simulando interesse em adquirir a droga e atraindo os criminosos.
A PF chegou ao esquema criminoso após o acordo de delação premiada entre o Ministério Público Federal (MPF) e o português Carlos Miguel de Oliveira Pinheiro, preso em duas oportunidades pela DCTD, em 2015 e em 2016, por comércio ilegal de anabolizantes.
Na delação, o português contou que teve anabolizantes, dinheiro e outros bens subtraídos para não ser preso e apontou que a Especializada estava registrando menos anabolizantes do que tinha apreendido na residência dele na ação policial.
Os investigados podem vir a responder pelos crimes de peculato, concussão, corrupção passiva, associação criminosa, tráfico de drogas, comercialização ilegal de anabolizantes, falsificação de moeda e posse ilegal de arma de fogo.
Paralelamente à investigação criminal, os 16 policiais civis tiveram procedimentos disciplinares abertos pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). De acordo com o órgão corregedor, os servidores podem até ser demitidos da Polícia Civil.