Cearenses chefes do Comando Vermelho lideravam furto de caminhonetes para trocar por drogas no Paraguai e na Bolívia

Uma operação deflagrada no Ceará e no Distrito Federal prendeu 20 suspeitos de integrarem uma organização criminosa interestadual, que negociava drogas com traficantes de outros países da América do Sul

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Quadrilha era especializada no furto de veículos de luxo, que eram trocados por drogas na fronteira do Brasil
Legenda: Quadrilha era especializada no furto de veículos de luxo, que eram trocados por drogas na fronteira do Brasil
Foto: Divulgação/ PCCE

Uma operação deflagrada pelas polícias civis do Distrito Federal (PCDF) e do Ceará (PCCE), nesta quinta-feira (13), desarticulou um esquema criminoso especializado em furto de caminhonetes de luxo, que eram trocadas por drogas, nas fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Bolívia. As investigações apontaram que a quadrilha é ligada à facção carioca Comando Vermelho (CV) e as principais lideranças são cearenses.

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cearenses foram identificados pela Polícia como integrantes da organização criminosa. Dois já estavam presos no Distrito Federal, desde outubro de 2024. Cinco foram detidos na operação. E quatro investigados seguem foragidos.

Outras 15 prisões ocorreram no Distrito Federal. Ao total, a operação visava cumprir 13 mandados de prisão preventiva, 13 mandados de prisão temporária e 32 mandados de busca e apreensão, além do sequestro de imóveis, veículos e valores de contas bancárias - com um limite de R$ 7 milhões.

O diretor da Divisão de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV) da PCDF, delegado Konrad Rocha, afirmou que os cearenses levavam uma vida mais reservada, para se esconder da Polícia, com exceção de um alvo, que tinha uma vida mais luxuosa. Os suspeitos ainda saíam do Estado com frequência, para coordenar a troca dos automóveis furtados por drogas.

As investigações da Polícia Civil do Distrito Federal sobre a organização criminosa começaram ainda em 2022, quando foram registrados 22 furtos de apenas um modelo de caminhonete, a Toyota Hilux, em Brasília. Na ocasião, 12 suspeitos foram presos, o que arrefeceu a prática criminosa.

Em 2024, a polícia daquele Estado voltou a verificar o aumento de furtos do mesmo modelo de caminhonete. Entre julho e dezembro do ano passado, foram 26 crimes na região - sendo 12 em Taguatinga, nove em Águas Claras, três no Plano Piloto de Brasília, uma em Vicente Pires e uma no Gama. As caminhonetes tinham valores que variavam entre R$ 220 mil e R$ 600 mil.

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Como funcionava o esquema criminoso

A quadrilha se utilizava de tecnologias para furtar as caminhonetes de luxo. As vítimas eram escolhidas "aleatoriamente", mas o grupo costumava frequentar áreas nobres das cidades e até estacionamentos de shoppings e aeroportos, em busca dos automóveis.

Após planejarem e arquitetarem os furtos, eles transportam precariamente esses veículos para galpões, providenciados pela súcia criminosa. E, nesses galpões, esses veículos são submetidos a um processo de adulteração dos seus sinais identificadores. Após transportar esses veículos para serem trocados por drogas, em países fronteiriços, o lucro decorrente de toda essa operação criminosa volta para uma facção criminosa conhecida nacionalmente, instalada no Estado de Ceará."
Konrad Rocha
Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal

Os investigadores obtiveram informações que caminhonetes furtadas no Brasil trafegavam com facilidade pelo Paraguai e pela Bolívia, com placas adulteradas. Desde o início das investigações policiais, foram recuperados 11 veículos do tipo caminhonete de alto luxo - quatro em regiões fronteiriças do estado de Mato Grosso do Sul, quatro no Distrito Federal e três em Goiás.

O delegado Konrad Rocha explicou que a organização criminosa tinha quatro núcleos: estratégico, operacional, logístico e financeiro. O núcleo estratégico, composto por cearenses, "é responsável por planejar e orquestrar as ações criminosas do grupo e também por fornecer os equipamentos, instrumentos e ferramentas tecnológicos utilizados para burlar o sistema instalado pela fabricante em seus veículos".

"O núcleo operacional é composto por integrantes que praticam os furtos propriamente ditos. O núcleo logístico é responsável, após o furto, pela ocultação dos veículos, por transportar esses veículos à unidade da federação que faz fronteira com os países fronteiriços. E o núcleo financeiro é responsável por operacionalizar a contabilidade do grupo, distribuir os lucros de acordo com a complexidade das tarefas desempenhadas por cada integrante desse núcleo e de simular os valores obtidos com a prática desses crimes", completa o delegado.

Há a suspeita de que o grupo tenha furtado dezenas de outros veículos de luxo, em outros estados do Brasil, inclusive no Ceará. "O Estado do Ceará já está atento a esse fenômeno desde o início do ano passado também, quando houve um incremento desse tipo de crime. Nós percebemos que os suspeitos usavam tecnologias para arrombar e furtar os veículos. A nossa investigação converge com a investigação de Brasília", revelou o titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC), da Polícia Civil do Ceará, delegado Kim Barreto.

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