Audiência para ouvir vítimas de crimes sexuais ofendidas por juiz em ação cível no Ceará é adiada

Depois do trauma devido às falas e do comportamento do juiz Mazza, agora, as vítimas dizem esperar que seja um magistrado "com empatia e com verdadeiro senso de Justiça" a ouvi-las.

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: O juiz segue afastado
Foto: Reprodução

A audiência para ouvir vítimas e médico acusado de crimes sexuais na região do Cariri, no Ceará, foi adiada. A sessão programada para acontecer nessa quinta-feira (31) não se realizou, porque o réu, Cícero Valdibézio Agra tinha outra audiência, no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), na mesma data e horário.

As vítimas mulheres, parte delas ofendidas por um juiz em sessão da ação cível, no último da 26 de julho, só descobriram que a sessão não iria acontecer quando já estavam na Vara. Agora, a nova data prevista é nesta próxima terça-feira (5), a partir das 8h30.

"Quando a gente chegou, estranhei que não tinha movimentação lá. Depois o secretário falou que precisaram desmarcar de última hora. É sempre isso de protelar, essa história já tá parecendo uma novela. Eu queria mesmo que tivesse fim, porque já está todo mundo desgastado", disse a mãe de uma das vítimas de crime sexual pelo qual o médico foi denunciado.

Somente nessa quinta-feira (31), a 1ª Vara Criminal da Comarca do Crato emitiu documento intimando as vítimas acerca da redesignação da audiência de instrução.

A reportagem procurou o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), que disse: "processos e/ou atos judiciais que tratam sobre assuntos de natureza sexual tramitam em segredo de Justiça. Por esta razão, o Judiciário não pode repassar informações. O acesso aos autos é restrito às partes e seus respectivos advogados".

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Anteriormente, o TJ havia agendado sessão para agosto de 2024. Após repercussão das falas do juiz Francisco José Mazza Siqueira, agora afastado preventivamente, a Instituição antecipou a audiência na esfera criminal.

"ESPERO QUE SEJA UM JUIZ COM EMPATIA"

Depois do trauma devido às falas e do comportamento do juiz Mazza, agora, as vítimas dizem esperar que seja um magistrado "com empatia e com verdadeiro senso de Justiça" a ouvi-las.

A conduta do magistrado Francisco José Mazza Siqueira resultou em uma sindicância aberta pela Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Agora, o juiz também é investigado pela Corregedoria Nacional de Justiça.

VEJA VÍDEO COM TRECHOS DA AUDIÊNCIA NO ÚLTIMO DIA 26 DE JULHO

Para o advogado das vítimas, a sessão presidida por Mazza no último mês se "tornou um circo de horrores". Das 9h às 13h, as mulheres estiveram na presença do juiz. O que elas não esperavam era, naquele momento de 'vulnerabilidade', ser revitimizadas, desta vez, segundo denunciantes, pelo próprio magistrado.

Em determinado momento da sessão, uma das depoentes ouviu o magistrado dizer: "tinha aluna que chegava se esfregando em mim...esfregando a vagina em mim… aqui não tem criança, aqui é todo mundo adulto... e dizia professor não sei o que.. E eu dizia: minha filha é o seguinte: quando eu deixar de ser seu professor, você faça isso aqui comigo".

Uma das vítimas de crime sexual, ouvida na audiência, diz ter sido "violada, invadida e coagida" ao longo da sessão. A mulher, de nome preservado, conversou com o Diário do Nordeste e relembrou "comentários e falas machistas" vindos do magistrado.

A vítima reclama que enquanto prestava depoimento precisou ficar em frente ao acusado dos assédios, o médico Cícero Valdibézio Pereira Agra. Depois, ainda na sala, ouviu o juiz dizer que "quem acha que é mulher é tudo boazinha, tão tudo enganado, viu. Eita bicho de mão pesada, bicho da língua grande e que chuta nas partes baixas, são as mulheres. Tô dizendo isso no sentido que vocês são fortes" (sic).

CRIME SEXUAL MEDIANTE FRAUDE

O médico Cícero Valdizébio Pereira Agra foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por crime sexual mediante fraude. A reportagem entrou em contato com a defesa do réu, mas não teve retorno.

Cícero passou a ser investigado pela Polícia Civil desde que pacientes contaram sobre abusos sofridos dentro do consultório na região do Cariri, Interior do Estado. Dentre os relatos, as mulheres dizem que tiveram os "seios massageados", "cabelos puxados" e a "calça tirada" durante as sessões, enquanto o médico afirmava que as atitudes eram parte do tratamento.

 

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