Acusados de tráfico de drogas, mortes e extorsões no jogo do bicho no bairro Aldeota são condenados

Grupo atuante no Campo do América e Comunidade das Quadras foi sentenciado a mais de 36 anos por uma série de delitos

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
Entrada do Fórum Clóvis Beviláqua, onde grupo criminoso foi condenado por crimes na Aldeota
Legenda: Sentença foi dada pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas em Fortaleza
Foto: Kid Júnior

Um grupo envolvido em tráfico de drogas, homicídios e extorsões conectadas a prática de jogo do bicho no bairro Aldeota, em Fortaleza, foi condenado a mais de 36 anos de prisão. Eles são integrantes de uma facção criminosa de origem carioca, mas com atuação no Ceará, neste caso, especificamente, no Campo do América e na Comunidade das Quadras. 

A sentença foi dada no último dia 4 de abril pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, e diz respeito a uma denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). No total, 14 pessoas foram denunciadas por práticas lícitas na região da Aldeota no ano de 2021, mas o processo foi desmembrado, e neste processo somente seis foram julgados. 

Os quatro condenados, segundo a sentença a qual a reportagem teve acesso, atuavam como traficantes e integrantes ativos do grupo criminoso armado. Interceptações telefônicas mostraram que eles eram chefiados por uma mulher identificada como Valeska, e ordenados a vender e armazenar drogas, além de planejar outros crimes.  Eles tinham uma atuação muito forte e organizada em grupos de WhatsApp, como mostraram as investigações. 

Os condenados são: 

  • Samilly Mendes dos Santos: 12 anos e cinco meses, regime fechado, com direito de recorrer em liberdade 
  • Brenda Lima da Silva: 15 anos e 10 meses, regime fechado, não recorre em liberdade, pois foi presa preventivamente para garantir a ordem 
  • Francisco Matheus Barbosa: 1 ano, 1 mês e 26 dias em regime aberto
  • Eduardo Pereira da Silva Júnior: 8 anos e 3 meses, regime fechado, com direito de recorrer em liberdade

Francisco foi o único com regime aberto, pois teve a pena atenuada por ser réu primário e ter confessado o crime. Ele prestará serviços à comunidade no período correspondente da pena e terá limitação de fim de semana, com recolhimento domiciliar. 

Duas pessoas foram absolvidas neste processo por falta de provas, um homem e uma mulher acusados de organização criminosa.  

Veja também

Intensa atuação criminosa no Campo do América e Quadras 

As investigações iniciaram após a prisão de duas pessoas por um homicídio. Por meio de interceptações telefônicas foram observados diálogos mostrando uma série de atividades ilícitas no Campo do América e nas Quadras.  Segundo a denúncia do MPCE, "com o advento das organizações criminosas denominadas de “facções”, houve um drástico aumento no número de crimes cometidos no bairro Aldeota e adjacências". 

O grupo que virou réu na Justiça chegou a mandar e praticar homicídios e ataques violentos contra faccionados rivais. Eles ainda interferiam no cotidiano das comunidades e só deixavam atividades como Jogo do Bicho acontecerem mediante pagamentos. 

 "A interferência das facções no Jogo do Bicho ficou evidenciada no fim de 2021 e início de 2022, com a notícia de que muitos 'cambistas' estavam sendo extorquidos ou proibidos de atuar na jogatina por ordem da facção [...]. Os grupos que gerenciavam a jogatina teriam que ser autorizados, mediante contribuição financeira com a facção", diz a peça acusatória. 

Durante a audiência de instrução criminal, todos os acusados negaram envolvimento com crimes. Samilly disse, em juízo, que não conhece a chefe criminosa Valeska e que só fez uma divulgação de roupas na loja dela, pois trabalha como modelo, e não é traficante. 

Já Brenda negou revender entorpecentes e afirmou que era cliente da loja de Valeska. Em interceptações ela aparece citando "caixinha", "papel" e "15 gramas", mas em interrogatório refutou as acusações de que os diálogos eram sobre drogas. Segundo a agora condenada, ela comprava caixas de som e roupas tamanho "G" as quais ela se referia por "gramas". 

O condenado Eduardo Pereira também defendeu sua inocência, negou fazer uso de arma de fogo e participar da facção criminosa. Contou ainda que fazia entregas para o empreendimento de Valeska, apontada como uma líder do tráfico local. 

A única pessoa que confessou parte das acusações foi Matheus, que teve a pena reduzida. Ele confessou guardar drogas como crack a mando de Valeska, e recebia uma quantia entre R$ 150 e R$ 200 semanalmente.

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