Acusado de ordenar Chacina das Cajazeiras alega inocência

Deijair de Souza Silva concedeu entrevista ao Diário do Nordeste, com intermediação da advogada Paloma Gurgel, em visita ao réu no presídio

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br

A reportagem do Diário do Nordeste entrevistou Deijair de Souza Silva, acusado de ser o mandante da Chacina das Cajazeiras, por meio da advogada dele. Deijair é o único preso pelo crime que esteve em presídio federal e retornou à penitenciária no Ceará. O processo do réu tramita separadamente após pedido de desmembramento feito pela defesa e aceito pela Justiça estadual.

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De acordo com a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), Deijair integrava a cúpula da facção criminosa responsável pelo ataque e a chacina aconteceu após o seu aval. Em entrevista intermediada pela advogada Paloma Gurgel, em visita ao réu que está recolhido atualmente na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), ele negou ter algum dia participado da facção e pede para ser ouvido pelas autoridades.

Quando questionado sobre como se sente ao ver seu nome ligado a uma dos maiores massacres registrados no Brasil, Deijair disse que tem medo dos seus filhos não amarem mais pelo que, segundo ele, é um erro da Justiça.

"Me sinto uma pessoa triste, impotente. Além de tudo estou perdendo a criação dos meus filhos, tudo para mim. Me sinto mal, me sinto injustiçado. Quero oportunidade de me defender e ir a julgamento de uma forma justa. Não quero que fique como está, sem solução. Sei que sou inocente. Estava de tornozeleira eletrônica em casa e fui acusado como mandante da chacina. Eu me sinto acabado, desolado. O que tem me segurado é somente a minha fé. Eu não tenho medo de pagar pelos meus erros, como já estou pagando por outros processos que eu tinha. Me envolveram nessa situação. O que posso dizer é que eu sofro. Tenho medo dos meus filhos não terem referência de um bom pai ou ficarem revoltados com essa situação", contou o preso.

Deijair foi preso quase um mês após a chacina, em um apartamento de luxo no Cocó. Em outubro de 2018, Silva saiu do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II) e foi entregue ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para ser alocado em um presídio federal. Um ano depois conseguiu retornar ao Ceará. Ele conta sobre a experiência vivida em uma unidade de segurança máxima.

Carta que Deijair escreveu, em sua defesa, enquanto esteve detido no Presídio Federal de Catanduvas
Legenda: Carta que Deijair escreveu, em sua defesa, enquanto esteve detido no Presídio Federal de Catanduvas
Foto: Arquivo Pessoal

"Li livros, concluí o Ensino Médio durante a federal. Sofri demais no Sistema Penitenciário Federal. Foi uma provação. Eram celas separadas e tenho claustrofobia. Voltei ao Estado. Hoje não estou mais na ala de nenhum tipo de facção criminos. Estou na ala de pessoas crentes. Me converti. Tenho vontade de escrever um livro sobre tudo o que estou passando desde que o inferno desta chacina entrou no meu caminho. Eu estava em casa cumprindo minha pena em regime domiciliar. Três anos sem ser ouvido em um sitema falido", desabafou Deijair.

Para a Polícia Civil do Ceará Deijair de Souza Silva, 'De Deus' ou 'Mestre' fazia parte de um conselho interno da facção local, responsável por definir os rumos da organização, mesmo quando já estava preso. Ele nega e diz ser perseguido há anos.

"Não faço parte de nenhuma facção. O que aconteceu foi que ela surgiu no presídio que eu estava na época, no IPPOO, lá por 2016. Carrego um peso nas costas, carrego uma sombra que não sai de perto de mim e não me deixa respirar. É como se a todo tempo eu tivesse uma faca apontada para a minha testa. Se é para conviver com isso, quero ter o direito de ser ouvido e de provar a minha inocência", pontuou o acusado.

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