3.491 crianças estupradas no CE em menos de 5 anos; Polícia investiga educadores

Há outras investigações em andamento para apurar aliciamento de menores de idade, que têm os corpos comercializados

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
vitima estupro
Legenda: Do total de vítimas de estupro no Estado, 70% são menores de idade. Na maioria das vezes, meninas, inseridas em um contexto de violência doméstica e familiar.
Foto: Shutterstock

Do início de 2018 até o último mês de maio de 2022, as autoridades têm conhecimento de 3.491 casos de vítimas de até 11 anos de idade, que foram estupradas no Ceará. Cercada pelos familiares, dentro da escola ou até mesmo em igrejas. Os dados de crianças vítimas de abuso sexual impactam e alarmam para uma realidade: o crime tende a acontecer onde menos se espera.

Entre o não entender o que de fato aconteceu e o medo de denunciar e ser desacreditada, ainda existe a subnotificação que impossibilita a descoberta do real número de vítimas. Os últimos casos divulgados pelas Forças de Segurança apontam para a necessidade de reforço preventivo.

Só nos cinco primeiros meses deste ano, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 259 ocorrências de abuso sexual contra crianças. Do total de vítimas de estupro no Estado, 70% são menores de idade. Na maioria das vezes, meninas, inseridas em um contexto de violência doméstica e familiar.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a delegada Arlete Silveira, diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), afirma que uma das preocupações dos investigadores são casos registrados no contexto escolar.

A Polícia prendeu recentemente um professor de inglês, em Beberibe, por crime sexual contra alunas. Além do docente, a diretora da escola e a mulher dele foram indiciadas porque, supostamente, tinham conhecimento dos atos, e não denunciaram.

Os crimes, praticados dentro do colégio, não se tratam de casos isolados. A delegada destaca que há outras investigações em andamento com educadores 'na mira' dos policiais.

"Nós estávamos com as escolas fechadas devido à pandemia. Quando voltou às aulas vimos muitos relatos de abuso sexual, exploração sexual dentro das escolas. Precisamos olhar o que a criança, o adolescente apresenta de sinais. O próprio adolescente, pela condição peculiar, se torna um alvo mais fácil. Não se deve tratar a sexualidade como tabu", pondera Arlete Silveira.

CRIANÇA COMO MOEDA DE TROCA

A diretora do DPGV destaca que há outras investigações em andamento para apurar aliciamento de menores de idade, que têm os corpos comercializados, por vezes, pelos próprios pais.

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"Com o isolamento social, aumentou o convívio da família e aumentou o aliciamento. A gente viu que precisava ainda mais da Inteligência junto a outros órgãos. As explorações dialogam entre si, ainda mais quando entra o contexto de vulnerabilidade financeira. Se ficar comprovado que existe uma questão familiar, a criança será afastada", ressalta a investigadora.

"Tivemos recentemente uma operação da Dceca com um homem preso. Uma das investigações mostrou que o homem aliciava crianças se valendo de jogos. Fazia isso pela deep web e dark web"
Arlete Silveira
Delegada

LÍDERES RELIGIOSOS NA MIRA

No dia 30 de junho, um líder religioso de 42 anos foi preso em uma ação da Polícia Civil, deflagrada na cidade de Baturité. Conforme investigação, o homem se aproveitava do cargo dentro da igreja e a relação com a família para se aproximar da vítima, uma criança de sete anos e a estuprar.

“Os pais da criança depositavam confiança no suspeito, por ele ser um religioso e parente. A vigilância era reduzida”, explicou a delegada Ravenna Matos. A família passou a desconfiar da situação quando o suspeito começou a presentar somente a criança de sete anos, em detrimento dos outros irmãos dela.

Além disso, foi observado que o homem criava situações na família, para ficar sozinho com a vítima. Com a prisão, o inquérito foi finalizado e remetido ao Poder Judiciário.

NOVO ESPAÇO DE ACOLHIMENTO

Em junho, Governo do Ceará inaugurou a Casa da Criança e do Adolescente. O equipamento atua com a rede de atendimento e proteção às crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência grave e reúne no em um só espaço, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, o Tribunal de Justiça, a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Conselho Tutelar.

Arlete Silveira diz que a inauguração do espaço é uma conquista, "porque existe um eixo consolidado dessa violência". A delegada afirma ainda que sentia a necessidade de suprir a deficiência no processo especializado do atendimento das crianças e ados adolescentes.

A Casa recebeu um investimento de R$ 1,4 milhão em reforma, mobiliário e equipamentos para atendimento. São prioridade no atendimento: crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência grave (física, psicológica, sexual ou institucional) do município de Fortaleza e, de forma extraordinária, de outros municípios.

 

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