Número de atendimentos Covid em 2021 é superior a todo o ano passado em 12 das 19 UPAs do Interior

A soma de todos os atendimentos nas Unidades nos primeiros seis meses deste ano é quase 50% superior ao total acumulado em todo ano passado

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Em Iguatu, foram 3.629 atendimentos de janeiro a junho deste ano e, em 2021, foram 2.899
Foto: Honório Barbosa

Em 12 das 19 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do interior do Estado, o número de atendimentos exclusivos a pacientes com a Covid-19 no primeiro semestre de 2021 superou o total registrado em todo o ano passado. A soma dos atendimentos em todas as Unidades do interior, em 2021, foi de 71.038 ante a 47.521 no ano passado. O aumento em apenas seis meses de 2021 foi de quase 50%.

Dentro deste universo de 19 UPAs, a de Quixadá, no Sertão Central foi a única que não teve a quantidade de atendimentos divulgados em 2020. Em outras seis, os atendimentos deste ano não superaram o quantitativo do ano passado. Os dados foram disponibilizados, a pedido do Diário do Nordeste, pela Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado. 

A UPA de Quixeramobim, cidade vizinha à Quixadá, foi a que teve o maior número de atendimentos no último semestre - janeiro a junho de 2021. Foram 10.809 mil neste ínterim, uma média de 60 atendimentos diários.

O número total deste ano é 40% maior do que o registrado no semestre anterior, isto é, entre os meses de julho a dezembro. Naquele intervalo, foram 7.713 atendimentos a pacientes com infecção ou suspeita de ter sido infectado pelo vírus SARS-Cov-2.

Em seguida, aparece a UPA da maior cidade do interior cearense. Em Juazeiro do Norte, no sul do Estado, foram 7.899 atendimentos nos seis primeiros meses deste ano. O quantitativo é 474% superior à soma de todo o ano passado, quando foram registrados 1.375 atendimentos, dentre os quais 866 foram nos primeiros seis meses de 2020.

Tianguá, na região Norte do Estado, fecha a lista das 3 UPAs com maior número de atendimentos em 2021. No primeiro semestre deste ano foram registrados, segundo a Sesa, 7.362 procedimentos ante a 5.220 atendimentos anotados ao longo de todo 2020. O aumento, neste ano, foi de 41%.

Legenda: Em Iguatu, foram 3.629 atendimentos de janeiro a junho deste ano e, em 2021, foram 2.899
Foto: Honório Barbosa

Já o maior aumento percentual ocorreu na UPA da cidade de São Gonçalo do Amarante. Entre janeiro e dezembro do ano passado foram contabilizados 136 atendimentos, sendo 71 no segundo semestre do ano. Já nos primeiros seis meses de 2021, este número saltou 1.446%, chegando a marca de 2.103 atendimentos Covid.

No lado oposto estão seis municípios cujo índice de atendimentos, em 2021, não superou a soma do ano passado: Crateús, São Benedito, Tauá, Jaguaribe, Camocim e Itapipoca.

Segunda onda mais agressiva

A médica e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Lígia Ker explica que a nova variante P.1 (gama), que passou a ser dominante na segunda onda, é mais agressiva e tem rápida transmissão, o que contribuiu para salto no número de infectados.

"Na verdade, é bom destacar que os casos já vinham subindo em dezembro, com as festas de fim de ano. No início de 2021, a variante gama superou a variante da onda passado e isso fez com que o pico de casos e óbitos fosse extremamente alto", avalia Ker. 

Legenda: A UPA de Juazeiro do Norte teve o segundo maior número de atendimentos em 2021, atrás apenas da Unidade de Quixeramobim
Foto: Divulgação/Governo do Estado

A variante gama, por ser mais agressiva, passou a acometer com sintomas graves, jovens e adultos, diferente do ano passado, quando os idosos eram o público mais vulnerável. Essa homogeneização das vítimas fez com que a demanda hospitalar crescesse.

Esse cenário [de aumento nos atendimentos] não foi apenas no Ceará. Em todo o Brasil houve, no primeiro semestre, um salto nos indicadores da pandemia.
Lígia Ker
Médica e pesquisadora

A diretora da UPA de Iguatu, Marleuda Gonçalves, corrobora com a avaliação da especialista e acrescenta que o aumento nos atendimentos não é exclusividade de uma ou outra cidade, mas sim o retrato geral, visto "em quase todas as unidades".

Ela detalha ainda que os meses de maio e início de junho "foram bem intensos, com grande demanda". Este período foi justamente o pico da segunda onda no Ceará.

Atendimentos em queda

Apesar do expressivo número de atendimentos realizados nos primeiros seis meses deste ano, a demanda nestas unidades têm apresentado tendência de queda o que sugere uma desaceleração da taxa de transmissão do vírus. 

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Na semana passada, das 24 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) monitoradas pela plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), 12 estavam sem pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19. Uma dessas UPAs era justamente a de São Gonçalo do Amarante, Município com o maior aumento percentual no primeiro semestre deste ano.

Em Iguatu, principal cidade da região Centro-Sul, não há atualmente nenhum paciente internado com suspeita ou confirmação de infecção por Covid-19. "Estamos vivendo uma calmaria, se comparado aos meses anteriores", considera Marleuda. 

Na Capital cearense, também houve queda da demanda quando se comparado ao pico da segunda onda, entre março, maio e abril. Essa redução é observada de forma generalizada não só nas UPAs do Ceará, mas também quando se analisa a taxa de ocupação dos leitos Covid.

Legenda: Demanda nos hospitais de todo o Estado teve queda. A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto está em 50%
Foto: Thiago Gadelha

A taxa de ocupação dos leitos de UTI hoje (22), segundo dados do IntegraSus, é de 50,54% e, nos leitos de enfermaria, 25%. Este é o menor índice desde o início deste ano. A queda na demanda é reflexo da desaceleração da pandemia no Estado, justificada pelo avanço da vacinação.

Pela primeira vez, desde março deste ano, o Estado voltou a ter cidades no nível mais baixo de alerta, o chamado 'novo normal'. São seis cidades nessa situação: Barroquinha, Camocim, Frecheirinha, General Sampaio, Palmácia e Pentecoste.

Para a médica Lígia Ker, a acentuada melhora no cenário pandêmico deve-se ao processo de imunização. "Apesar de termos apenas cerca de 15% da população cearense imunizada com as duas doses, a vacina tem se mostrado muito eficácia e isso se reflete nos indicadores".

A pesquisadora, contudo, alerta para a nova variante Delta que é ainda mais agressiva. "Não sabemos ainda qual o impacto dessa variante, mas podemos afirmar que ela é mais transmissível que a gama", alerta. Diante deste risco de uma nova onda, a terceira desde o início da pandemia, Lígia ressalta a importância da manutenção dos cuidados.

"É preciso ficar vigilante para que os casos não voltem a disparar. O uso de máscara segue sendo primordial, assim como o uso de álcool em gel e o distanciamento social. Por não sabermos o impacto da variante e a resposta das vacinas, que até agora têm se mostrado bem eficazes, é preciso atenção", conclui Lígia ker. 

Se a população continuar com consciência e contribuindo com as medidas sanitárias e se a vacinação seguir avançando, a tendência é de uma queda ainda mais acentuada e prolongada.
Marleuda Gonçalves
Diretora UPA Iguatu

 

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