Empresas se comprometem a ampliar produção de oxigênio no Ceará, diz Aprece

O compromisso foi firmado em reunião nesta sexta-feira

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
oxigenio
Legenda: Situação do estoque de oxigênio hospitalar é preocupação em todo o País
Foto: Agência DN

As duas principais fornecedoras de oxigênio hospitalar no Ceará, a White Martins e a Messer Gases, fizeram acordo para ampliar a produção e facilitar a logística, a partir da próxima semana, para evitar que os estoques das redes municipais de saúde entrem em colapso. O compromisso foi firmado em reunião na manhã desta sexta-feira (12).

As informações são da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece). Participaram do encontro o Ministério Público Estadual (MPCE), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Aprece e as empresas citadas.

Segundo o presidente da Aprece, Júnior Castro, a White Martins ampliará a capacidade de produção para suprir a demanda da concorrente e reduzir o tempo do transporte do serviço. A Messer distribui o elemento químico a prestadoras do serviço no interior do Estado.

“Ficou acordada essa parceria para facilitar a logística. Ocorre que a Messer traz o oxigênio de outros estados. Mas, a partir da próxima semana, ela vai poder retirar direto do Porto do Pecém, onde fica instalada a White Martins”, explicou. 

Em nota, a White Martins informou que produz 150 mil metros cúbicos de oxigênio líquido por dia na unidade localizada no Pecém. "Parte desse volume", aponta, é utilizada na produção de oxigênio na forma gasosa para envasamento de cilindros em Fortaleza.

"Entre o início de janeiro e 11 de março, a produção de oxigênio medicinal, na forma gasosa (em cilindros), aumentou cerca de 96% em metros cúbicos, enquanto a produção de oxigênio líquido cresceu cerca de 80%", disse o comunicado.

Questionada pela reportagem se há planos de aumentar a produção, a White Martins explicou que depende de uma "infraestrutura na região para envasamento e distribuição de cilindros, que hoje suportam mais de 80% dos municípios do estado, atendidos por meio de diversos fornecedores de gases". 

Ainda segundo a empresa, a malha de atendimento formada pelas empresas fornecedoras de gases, revendedores locais e instituições de saúde está sendo revista.

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A reunião teve o intuito de buscar soluções para os municípios cearenses que, atualmente, enfrentam grave problema na disponibilidade de oxigênio para pacientes com Covid-19. Na ocasião, foi instituído um grupo de trabalho para monitorar diariamente a situação nas cidades. 

De acordo com o promotor de Justiça Eneas Romero de Vasconcelos, titular do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (CAOCidadania), ficou definido que as cidades devem se organizar e calcular o consumo estimado de modo mais preciso para identificação dos pontos críticos e, partir daí, o setor buscar alternativas para resolvê-los. 

“As três principais empresas se colocaram à disposição para dialogar e encontrar soluções para ampliar a capacidade de produção. A Fiec se colocou à disposição”, disse. “Esse grupo de trabalho vai tentar colaborar, mas a obrigação legal, no caso, é dos municípios. Já que o problema de escassez de oxigênio é exclusivamente em hospitais das redes municipais do Interior”, complementou. 

A Air Liquide Brasil, que não tem atuação no Ceará, participou somente para compartilhar a experiência dramática de Manaus.

O Diário do Nordeste pediu mais informações sobre a atuação da Fiec e aguarda retorno. 

Repostas da White Martins

Por e-mail, White Martins informou que se comprometeu a disponibilizar oxigênio líquido para que a Messer utilize este volume na produção de oxigênio medicinal gasoso e o comercialize aos seus clientes. No entanto, não ampliará a fabricação. 

“Inicialmente, é possível absorver o volume em questão, a partir da produção atual da planta da White Martins em Pecém”, disse. 

Segundo a companhia, o fornecimento para os hospitais não depende apenas da produção da planta. Seria necessária uma infraestrutura na região para envasamento e distribuição de cilindros, que hoje suportam mais de 80% dos municípios do Estado, atendidos por meio de diversos fornecedores de gases. 

“Em conjunto com as autoridades, essa malha de atendimento formada por empresas fornecedoras de gases, revendedores locais e instituições de saúde está sendo revista”, afirmou. 

A empresa garante que tem mantido contato constante com seus clientes para que "sejam comunicadas formalmente e previamente as necessidades de acréscimo no fornecimento do produto e a previsão da demanda". 

Oxigênio emprestado

O presidente da Aprece e prefeito de Chorozinho, Júnior Castro, relata que os gestores municipais já chegaram a emprestar cilindros de oxigênio para atender à população devido ao desabastecimento de insumos. 

Questionado quando houve essa necessidade, ele disse “que está acontecendo e se intensificou nas últimas semanas”. Júnior não informou quais cidades e quantas vezes a situação ocorreu, mas explica que os apelos são compartilhados em grupos de WhatsApp.

“Colocamos nos grupos quando algum prefeito está próximo do limite e quando sabemos de uma empresa que está disponível. Está tendo uma solidariedade e apoio”, afirmou. 

“Somos limitados e temos buscados soluções, mas a situação não é confortável. Temos municípios que adquiram cilindros em condições de ampliar o seu abastecimento em mais do que o dobro do pico da pandemia do ano passado, mas ainda estão tendo dificuldade. A demanda está sendo muito maior”, acrescentou.

Conforme levantamento da Aprece, 158 cidades dependem exclusivamente de cilindros de oxigênio e 21 sofreram desabastecimento em alguma unidade de saúde. Três não responderam sobre desabastecimento. Já 160 declararam não ter sofrido com falta de oxigênio. 

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