Cupido junino motiva jovens

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:

Mesmo com a modernização, adolescentes mantêm a tradição nordestina de dançar quadrilha

Iguatu. As festas juninas, dedicadas aos santos Antônio, João e Pedro, constituem-se excelentes oportunidades de diversão para os jovens. Nesta época do ano, os adolescentes transformam-se em brincantes das danças típicas do folclore nordestino. E mesmo aqueles que acabaram de concluir o Ensino Médio e não continuaram os estudos mantêm o ritmo participando das quadrilhas de bairros e também de comunidades rurais.

Os preparativos exigem meses de dedicação e nesse clima é comum entre os casais, o ficar e o namorar. Não são raros os casos de namoro entre os brincantes e que, às vezes, chegam ao casamento. Foi o caso de Fábio e Patrícia Oliveira, que hoje estão casados. Tudo começou quando os dois brincavam na quadrilha junina do bairro Tabuleiro. “A gente já se conhecia, mas na dança, começou o namoro e terminou em casamento”, contou Patrícia. Os dois já têm uma filhinha.

Jardel Holanda e Ana Paula Matias, que fazem os personagens rei e rainha da Quadrilha Arraia Junino Sol Nascente, da comunidade de Fomento, zona rural deste município, na realidade são namorados. O casal está unido desde o ano passado, também, sob a influência do cupido junino. “A gente pensa em se casar”, disse Holanda, com a aprovação de Ana Paula. Esse tipo de relacionamento não é raro.

Só mesmo o amor à diversão e o gosto pela brincadeira para impulsionar os jovens a participarem das quadrilhas juninas. Hoje em dia, a festa exige elevados investimentos. A roupa do casal custa, pelo menos, R$ 500,00. De um grupo completo não sai por menos de R$ 10 mil. No Interior do Ceará, não se brinca mais quadrilha como se fazia até a década de 1980.

Transformação

Há mais de uma década, tudo mudou. Influências de grupos folclóricos de outros Estados nordestinos chegaram ao sertão cearense e provocou uma transformação no jeito de vestir e de dançar. A tradição praticamente se perdeu na história. A ampla maioria das quadrilhas juninas se modernizou. As roupas são sofisticadas e caras.

Os vestidos são godê rodados, com várias saias de filó para ficarem bem armados e os homens vestem camisas de mangas compridas e gravatas, com estampa que combinam com o par.

Nas vestimentas, muito colorido, babados, bicos, rendas, bordados, pedrarias aplicadas e pintura à mão. “Neste ano, voltou o cetim e há uma tendência forte se manter”, explicou o estilista Paulo Pinho, da Loja Esplanada, que há dez anos faz desenhos de modelos para os clientes. Ele estima que a procura, neste ano, por tecidos para as quadrilhas juninas, cresceu 35%. “São as festas que a cidade está promovendo”.

O estilista Paulo Pinho tem também experiência como brincante de quadrilhas juninas, em Fortaleza. Aqui em Iguatu, por mais de cinco anos, organizou um grupo na comunidade de Gameleira. “Exige muita preparação, organização e dedicação”, disse. “Os patrocínios e a premiação não cobram as despesas”.

O elevado custo para se manter uma quadrilha contribui para que os grupos tenham vida curta. Aqui na região Centro-Sul, em torno de três anos. Depois desaparecem, mas surgem outros em bairros e comunidades rurais distintos. Os brincantes entre 18 e 25 anos estão empolgados, depois dessa faixa etária, costumam abandonar os grupos.

A realização de festivais em quase todas as cidades influencia a manutenção e formação permanentes de grupos. Ivanilson da Silva, atualmente pintor de parede, mantém há 15 anos o gosto pelas festas juninas. Já foi campeão várias vezes pela quadrilha do bairro Tabuleiro. Há dois anos, é organizador da Quadrilha Arriá Junino Sol Nascente, do Sítio Fomento, zona rural deste município.

O ritmo intenso, a animação, o cantar e os gritos exigem dos brincantes de hoje preparo físico. “Antes se dançava em ritmo menos acelerado, caminhando, mas hoje é diferente, mais puxado e moderno”, explica Silva. “As quadrilhas têm músicas próprias e desenvolvem um tema específico”.

Em média, paga-se R$ 500,00 para um compositor preparar as músicas temáticas.

Apesar das mudanças e da modernidade, alguns aspectos da tradição mantêm-se. Referências a Luiz Gonzaga, ao ritmo do baião e também ao arrasta-pé permanecem, assim como coreografias tradicionais: grande roda, carrocel, fila única, passeio dos namorados, trancilim, serrote , anavantu e, ainda, anarriê.

Renovação

A participação de pré-adolescentes em quadrilhas é um sinal claro de que a cultura nordestina e as festas juninas são renovadas e devem permanecer vivas na mente e no coração dos brincantes e dos moradores. As gerações passam, a modernização invade os lares sertanejos, mas o folclore resiste à cultura massificada e mantêm acessa as tradições juninas no coração dos povos.

Honório Barbosa
Repórter

Mais informações:

Secretaria de Cultura do Município de Iguatu
Rua Martins Soares Moreno, s/n
(88) 3581.6563