Caatinga registra 3ª maior redução de áreas desmatadas do País

A queda foi de 90% no total de hectares de área natural suprimidos. Apesar da melhora no cenário, biólogos apontam que a redução está mais ligada à fuga da exploração para outros biomas do que a instituição de boas políticas públicas

Escrito por Rodrigo Rodrigues , rodrigo.rodrigues@svm.com.br

O bioma Caatinga, no qual o Ceará está totalmente inserido, registrou o 3º maior decréscimo de áreas desmatadas nas últimas duas décadas, entre 2000 e 2018, segundo dados do IBGE, divulgados nesta semana. Os biomas Amazônia e Cerrado lideram. Nos 18 anos, a Caatinga teve uma redução de 90% do total de hectares de área natural suprimida: de 17.165 km² para 1.604 km².

O secretário do Meio Ambiente (Sema) do Ceará, Artur Bruno, explica a importância da preservação desse ecossistema, que concentra a presença de pecuária extensiva, agricultura e mineração.

"Fizemos projetos, por exemplo, de plano de manejo da madeira, já que a lenha ainda é muito utilizada no Ceará como combustível. Tratamos de orientar agricultores sobre a melhor forma do aproveitamento sustentável". Bruno também ressalta que, ao longo dos últimos seis anos, foram plantadas mais de 100 mil árvores nativas no Estado, o que contribui nesse processo de reflorestamento.

Recuperação

O titular destaca que, a partir do fomento à educação ambiental e parceria com Prefeituras e ONGs, as medidas que estão sendo tomadas tendem a diminuir ainda mais o ritmo de desflorestamento no Ceará. Segundo ele, o processo é fundamental, já que a exploração ao bioma ocorre desde o século XVII e que ações pontuais fazem a diferença. "O Código Florestal, de 2012, determinou que todo proprietário de terras na Caatinga pode utilizar até 80% da propriedade e 20% tem que ser de vegetação nativa que tem que ser preservada, criando um projeto de preservação".

Cenário oposto

Apesar da melhora, ambientalistas apontam que o cenário de redução está mais ligado à fuga da exploração para outros biomas do que atribuído a políticas públicas. Artur reconhece que ainda há muitos desafios. "Vastas áreas foram ocupadas pela pecuária extensiva e depois pelo algodão. Houve o empobrecimento do solo, causando, em algumas áreas, a desertificação, como acontece nos Inhamuns, Irauçuba e Médio Jaguaribe".

A bióloga e integrante do Instituto Verdeluz, Liana Queiroz, acrescenta que a "redução no desmatamento tem mais a ver com acontecimentos externos, como secas, crise política, do que com políticas públicas de proteção da Caatinga". Conforme a pesquisadora, mesmo em áreas não desmatadas, a vegetação pode estar "potencialmente degradada" pelo acúmulo de ações crônicas. Segundo o IBGE, 36,2% do bioma ainda sofrem pela ação humana. "A exploração no Ceará é de subsistência, mas não chega a ser sustentável. É apenas em menor escala. Ao invés de ser um desmatamento de grandes áreas (impacto agudo), se torna algo crônico (fogo, pastagem, corte para lenha), que nem sempre remove toda a cobertura vegetal, mas adoece o ecossistema", explica.

Danos e compensações

Estudo da Superintendência Estadual do Meio Ambiente aponta que 50% da vegetação nativa cearense já foi perdida.

Para mitigar estes impactos, Artur Bruno destaca ações em curso. "Estamos reconstruindo nove viveiros regionais para fazer o reflorestamento". O Estado já conta com dois: em Caucaia e Pacoti. Nos últimos seis anos, foram distribuídas mais de 500 mil mudas produzidas nos equipamentos. "Vamos aumentar com os nove viveiros regionais, que vamos inaugurar no início de 2021".

Os biomas brasileiros sofrem com problemas históricos de exploração, mas, apesar de preocupante, o cenário mostra melhoras nos últimos anos. A Caatinga teve significativa queda de degradação. Porém, ainda há gargalos a superar