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Discurso xenofóbico do vereador Sandro Fantinel contra baianos repercute entre políticos: 'desumano'

Declaração foi condenada pelos governadores do Rio Grande do Sul e da Bahia

Escrito por Redação ,
Vereador Sandro Fantinel (Patriota) faz declaração xenofóbica sobre baianos ao falar sobre caso de trabalho escravo em vinícolas no Rio Grande Do Sul
Legenda: Fala também foi duramente criticada por usuários nas redes sociais
Foto: Reprodução

Após o vereador Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul (RS), pedir que as empresas do estado não contratem baianos, argumentando que eles só saberiam “dançar e tocar tambor”, diversos políticos demonstraram-se indignados com a afirmação xenofóbica. Em suas redes sociais, os estadistas classificaram o discurso como “nojento” e “desumano”.

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“O discurso xenófobo e nojento do vereador de Caxias contra o Nordeste não representa o povo do Rio Grande do Sul. Não admitiremos esse ódio, intolerância, e desrespeito na política e na sociedade” afirmou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

Na declaração, o político ainda declarou que os “gaúchos” sempre receberiam todos de “braços abertos”.

Para o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), é “desumano, vergonhoso e inadmissível” observar brasileiros defendendo a “crueldade humana”, referindo-se à tentativa do vereador de justificar o trabalho escravo em vinícolas do estado sulista.

Sobre as declarações, Rodrigues demonstrou indignação: "Eu repudio veementemente a apologia à escravidão e não permitirei que tratem nenhum nordestino ou baiano com preconceito ou rancor".

Ao finalizar seu pronunciamento sobre o assunto, o governador baiano afirmou ter tomado as medidas cabíveis para o político gaúcho ser responsabilizado por sua fala.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA

O deputado estadual Leonel Radde (PT) revelou que um Boletim de Ocorrência foi registrado contra o vereador: “Acabamos de registrar um novo Boletim de Ocorrência contra a fala racista do vereador de Caxias do Sul/RS, Sandro Fantinel, que declarou que 'baianos são sujos e sabem apenas tocar tambor e dançar’.”

Radde condenou as afirmações do vereador, defendendo que racistas e escravocratas não tem lugar no Rio Grande do Sul ou no Brasil.

CÂMERA DE VEREADORES 

Entre os colegas da Câmera de Vereadores, a fala também foi repreendida: Lucas Caregnato (PT) declarou que as palavras utilizadas por Fantinel foram xenofóbicas, preconceituosas e discriminatórias.

À Câmara, Rafael Bueno (PDT) solicitou a emissão de uma nota desculpando-se, pois, de acordo com Bueno, os membros da câmara não comungam com práticas intolerantes, sejam com “imigrantes ou trabalhadores que procurem a nossa região para sobreviver”.

O presidente da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, José Pascual Dambrós (PSB), informou, ao g1 RS, que Sandro “tem responsabilidade de responder por sua fala”, e que a declaração não reflete a crença do município ou da própria Câmara. No entanto, Pascual também afirmou que uma medida contra Fantinel só deverá ser tomada caso exista representação no Conselho de Ética da Casa.

ENTENDA O CASO

O discurso xenofóbico de Sandro Fantinel ocorreu após três trabalhadores entrarem em contato com a polícia, na última quarta-feira (22), após escaparem de local onde eram mantidos de forma compulsória. No mesmo dia, a corporação realizou uma operação, resgatando mais de 200 pessoas, que, assim como os homens, eram submetidos a trabalho análogo à escravidão em vinícolas gaúchas, no período de colheita das uvas.

Contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, os trabalhadores vieram, em sua maioria, da Bahia para o estado sulista, e eram oferecidos pela empresa como mão de obra às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton, e a produtores rurais locais.

Conforme relatado pelos resgatados, eles eram ameaçados, extorquidos e agredidos, além de torturados com spray de pimenta e, até mesmo, choques elétricos

A polícia chegou a prender o administrador da empresa, mas o homem foi solto após pagar fiança

Já as vinícolas envolvidas tiveram suas atividades na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspensas, e deverão ser responsabilizadas, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Parte dos trabalhadores resgatados retornaram à Bahia na segunda (27), enquanto outra parcela preferiu permanecer no Rio Grande do Sul. Quase todos, no entanto, conseguiram receber as verbas rescisórias a que tinham direito. No total, o valor das verbas, quando somado, passa de R$ 1 milhão.

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