Marcelo Queiroga diz à CPI que é 'ministro da Saúde e não um censor do presidente'
O médico foi questionado sobre aparições de Jair Bolsonaro sem máscara e promovendo aglomerações
Em novo depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitou novamente comentar a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que promove aglomerações e faz aparições públicas sem máscara de proteção contra o novo coronavírus.
"O presidente da República não conversou comigo sobre a atitude dele. Sou ministro da Saúde e não um censor do presidente da República. [...] Não me compete julgar os atos do presidente da República", disse.
O médico já tinha se esquivado sobre o assunto durante a primeira oitiva no plenário do Senado Federal, em 6 de maio.
No entanto, nesta sessão ele se contradisse ao relatar que já conversou com o chefe do Executivo nacional sobre sua postura em relação às medidas pessoais de proteção contra a pandemia.
"Quando está comigo, na grande maioria das vezes ele usa máscara", contou Queiroga à CPI, que em seguida repetiu a expressão usada frequentemente na primeira oitiva, de que não faria "juízo de valor".
O ministro da Saúde deu as declarações após assistir a um vídeo de Bolsonaro promovendo aglomerações.
Copa América
Queiroga defendeu a realização da Copa América no Brasil. Segundo ele, a prática de esportes e jogos está liberado no País com controle, e citou campeonatos nacionais como exemplo.
"O esporte está liberado no Brasil e não existe provas de que essa prática aumenta o nível de contaminação dos atletas. O [teste] RT-PCR ocorre normalmente independente de futebol. Qualquer cidadão da Argentina, independente da Copa América, entra no Brasil com um exame de RT-PCR", justificou.
"Não vejo do ponto de vista epidemiológico uma justificativa contrária à realização do evento. O risco de a pessoa contrair a Covid-19 será o mesmo com o jogo ou sem o jogo", completou.
O ministro ainda frisou que jogadores e integrantes das comissões técnicas possuem um seguro para garantir que sejam atendidos em hospitais privados. Segundo Queiroga, o evento esportiva não fará pressão sobre o sistema público de saúde.
Ministério da Saúde sem infectologista
O depoente explicou que a decisão de não nomear a infectologista Luana Araújo como secretária Extraordinária de Combate à Covid-19 foi tomada por ele, e que não houve "óbice da Casa Civil" à infectologista. A médica atuou na pasta por dez dias e chegou a ser apresentada em um evento oficial, mas não foi oficializada.
Em depoimento à comissão, Luana relatou que foi avisada pelo ministro, após o anúncio de que assumiria a secretaria, de que o "nome dela não havia sido aprovado na Casa Civil". No entanto, o ministro afirmou na sessão desta terça-feira que “a Casa Civil aprovou o nome” da infectologista.
"O nome da Luana, apesar da qualificação técnica, começou a sofrer muitas resistências, em face dos temas que são tratados aqui, onde há uma divergência muito grande na classe médica, isso é patente, divergência de grupo de médico A, de grupo de médico B", justificou.
Queiroga ainda revelou que ela iria ocupar o lugar de infectologista no ministério, já que a única médica na pasta com esta especialidade é da Controladoria Geral da União (CGU). Segundo ele, o ministério conta apenas com consultores infectologistas.
Questionado pelos senadores sobre uma data limite para nomear um novo secretário para a pasta extraordinária, Queiroga afirmou que até sexta-feira (11) indicará um nome.
Eficácia da cloroquina
O ministro Marcelo Queiroga afirmou que remédios como hidroxicloroquina e ivermectina "não têm eficácia comprovada" no tratamento da Covid-19.
"Essas medicações não têm eficácia comprovada. Esse assunto é motivo de discussão na Conitec. [...] Se eu ficar discutindo a discussão do ano passado, eu não vou em frente", disse.
No depoimento, o médico ainda afirmou que a discussão em torno de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19 tem provocado grande divisão na classe médica, e que seu papel é "harmonizar esse contexto".
"Essa questão [o uso de hidroxicloroquina e ivermectina contra a Covid], que espreita o enfrentamento à pandemia desde o início, tem gerado uma forte divisão na classe médica. De um lado, há aqueles como eu, que sou mais vinculado às sociedades científicas, e há o pensamento, do outro lado, dos médicos assistenciais que estão na linha de frente, que relatam casos de sucesso com esses tratamentos. Eles discutem de maneira muito calorosa."
Antes de assumir o cargo no ministério, Queiroga se posicionava contra o uso dessas drogas, mas depois que foi nomeado passou a evitar dizer categoricamente que os medicamentos não têm eficácia comprovada.