Embates na pandemia: relembre episódios de tensão entre Bolsonaro e governadores

Nesta segunda-feira (1°), governadores de 16 estados rebateram, em uma carta aberta, afirmações de Bolsonaro sobre repasses federais aos entes em 2020

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
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Legenda: Em sua visita ao Ceará, Bolsonaro cumprimentou apoiadores sem máscara ao chegar em Fortaleza
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

As consequências da pandemia da Covid-19 no Brasil trouxe à tona novos conflitos entre o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) e os governadores. A imposição de restrições ao funcionamento de atividades econômicas não essenciais e à circulação de pessoas reacendeu embates com líderes regionais, que vivem momentos de tensão com o Governo Federal desde o início da pandemia. 

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Nesta segunda-feira (1°), governadores de 16 estados rebateram, em uma carta aberta, afirmações de Bolsonaro sobre repasses federais aos entes em 2020. No domingo (28), o mandatário postou no Twitter uma lista com os valores destinados a cada estado no ano passado, bem como os recursos gastos com o pagamento de auxílio emergencial no território. 

Na carta, os governadores falam em "informação distorcida" e dizem que as quantias divulgadas abrangem "valores pertencentes por obrigação constitucional aos Estados e Município, como os relativos ao FPE, FPM, Fundeb, SUS, royalties" e que o presidente trata como se fosse uma "concessão política do atual Governo Federal". 

"Em meio a uma pandemia de proporção talvez inédita na história, agravada por uma contundente crise econômica e social, o Governo Federal parece priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa essencial aos interesses da população", ressaltam os gestores no documento. 

A carta é assinada pelos governadores do Ceará, Alagoas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.  

Embates rotineiros 

O novo embate ocorre poucos dias após Bolsonaro fazer ataques a governadores que adotam medidas mais restritivas em seus estados para conter o avanço da Covid-19. Em reação, os chefes de Executivo voltaram a chamar o presidente de negacionista.

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Desde o início da pandemia, os confrontos, inclusive, têm sido rotineiros, motivados por desrespeitos às medidas sanitárias, atrasos na aquisição de vacinas, embates sobre eficácia de imunizantes, auxílio emergencial, entre outros. Confira abaixo alguns dos embates entre o presidente e governadores. 

Confira outros confrontos entre o presidente e governadores 

26 de fevereiro de 2021: visita ao Ceará

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Legenda: Bolsonaro em Caucaia, no dia 26 de fevereiro
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Em visita ao Ceará, na última sexta-feira (26), o presidente voltou a atacar os governadores que têm aumentado restrições em seus territórios para conter o avanço da pandemia. Nas passagens por Tianguá e Caucaia, ele cumprimentou apoiadores sem máscara, promoveu aglomerações e criticou adversários. 

Durante o discurso na cidade de Tianguá, ele disse "os que me criticam, façam como eu: venham para o meio do povo" e que o que mais ouviu durante a passagem pelo Ceará foi "eu quero trabalhar".

Em Caucaia, ele reforçou que o Brasil terá "mais meses de auxílio emergencial" e disse que o governante "que fechar seu estado e que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial".  

12 de fevereiro de 2021: preço da gasolina

Por meio das redes sociais, Bolsonaro votou a culpar governadores pela alta no preço da gasolina. Na ocasião, ele disse que os "(os governadores) jogam a população contra o Governo Federal como se fosse o único a arrecadar". 

"Abasteça seu carro/caminhão com R$ 100 (para facilitar os cálculos) e poste aqui a nota fiscal. Na nota acima o indício de bitributação, além da desinformação sobre o ICMS, que não é zero. Ainda jogam a população contra o Governo Federal como se fosse o único a arrecadar" , afirmou.

27 de janeiro de 2021: compra de vacinas do Butantan

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Legenda: Vacina Coronavac, da Pfizer BioNtech, produzia no Butatan
Foto: Butanta

O Governo de São Paulo afirmou no dia 27 de janeiro que iria exportar 54 milhões doses extras da vacina Coronavac, produzidas no Instituto Butantan, caso o Governo Federal não manifestasse interesse pela compra. O anúncio gerou repercussão, e governadores começaram a ser cobrados para adquirir a vacina.  

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O presidente do Consórcio Nordeste e coordenador do Fórum do Governadores, Wellington Dias (PT-PI), disse que os chefes de Executivos iriam adquirir os imunobiológicos caso o Ministério da Saúde não garantisse a compra.  

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Pouco tempo depois, o Governo Federal se manifestou sobre a compra, afirmando que iria garantir os imunizantes. 

17 de dezembro de 2020: "virar jacaré"

Após pressões de governadores para o Governo Federal assumir o protagonismo do Plano Nacional de Imunização, o presidente Bolsonaro questionou, no dia 17 de dezembro, os possíveis efeitos colaterais da vacina contra a Covid-19 da Pfizer/BioNtec, fabricada pelo Instituto Butantan. Ele disse que não há garantia e quem tomar poderia virar "um jacaré". 

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“Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse Bolsonaro, em evento na Bahia. 

5 de junho de 2020: suspensão de dados da Covid-19

No dia 5 de junho, o Ministério da Saúde restringiu a divulgação de dados de mortes e casos acumulados pela Covid-19, informando apenas o do dia. No mesmo dia, à noite, Bolsonaro justificou que a medida era necessária para entregar "dados mais consolidados".

Diante disso, veículos de impressa do país formaram uma parceria para divulgar os dados acumulados da pandemia, com base nas ocorrências contabilizadas pelas secretarias da Saúde estaduais. Dias depois, o site foi normalizado, cumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). 

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26 de março de 2020: igrejas como atividades essenciais

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Legenda: Em 26 de março, o presidente Jair Bolsonaro publicou decreto definindo igrejas e lotéricas como atividades essenciais. No entanto, o STF já havia determinado a autonomia dos estados e municípios para estabelecer atividades essenciais
Foto: Camila Lima

Contrariando governadores e prefeitos, o presidente Jair Bolsonaro publicou no dia 26 de março de 2020 um decreto definindo igrejas e lotéricas como atividades essenciais. No entanto, antes disso, o ministro STF já tinha definido que estados e municípios tinham autonomia para definir restrições. 

24 de março de 2020: "gripezinha" 

Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar, no dia 24 de março de 2020, a gravidade da Cov-19, chamando-a de "gripezinha".  

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O presidente pediu para prefeitos e governadores "abandonarem o conceito de terra arrasada", que, para ele, inclui o fechamento do comércio "e o confinamento em massa". "O grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos", falou no pronunciamento. O governador Camilo Santana (PT), por sua vez, reagiu, dizendo que esse "não era o momento para ataques e provocações".

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15 de março de 2020: protestos 

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Mesmo após ter dito em pronunciamento oficial para apoiadores adiarem protestos pró-Governo pelo País, no dia das manifestações, em 15 de março de 2020, o presidente compartilhou imagens em seu Twitter incentivando os atos. Na época, várias cidades e estados estavam com restrições sanitárias para evitar aglomerações. 

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