Líbano procura responsáveis por tragédia provocada por explosões
Substância usada em fertilizantes e explosivos é encontrada em área portuária em Beirute, onde explosões deixaram mais de 70 mortos e 4 mil feridos
O nitrato de amônio, usado tanto em fertilizantes químicos como um componente de explosivos, foi encontrado no local das violentas explosões que provocaram, ontem (4), uma tragédia com pelo menos 78 mortos e 4 mil feridos na área portuária de Beirute, capital do Líbano, pequeno país do Oriente Médio com 6,8 milhões de habitantes, em conflito com Israel, seu vizinho.
Cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amônio foram armazenadas no depósito do porto de Beirute, causando mortes e danos sem precedentes na capital libanesa, informou o primeiro-ministro Hassan Diab.
"É inadmissível que um carregamento de nitrato de amônio, estimado em 2.750 toneladas, esteja em um armazém há seis anos, sem medidas preventivas. Isso é inaceitável e não podemos permanecer calados sobre esse assunto", declarou o primeiro-ministro durante o reunião do Conselho de Alta Defesa.
"Não descansaremos até encontrar a pessoa responsável pelo ocorrido para que preste contas", prometeu Diab. O Conselho de Alta Defesa recomendou ao Governo decretar o estado de emergência pelas próximas duas semanas na cidade de Beirute.
Durante este período, um "poder militar supremo se encarregará de todas as prerrogativas de segurança".
As imagens das explosões chocaram o mundo neste momento em que o Líbano também enfrenta a pandemia do novo coronavírus, acumulando mais de 5.000 infectados e um saldo de 65 mortos.
O Líbano passa pela pior crise econômica em décadas, marcada por uma depreciação cambial sem precedentes, hiperinflação e demissões em massa que alimentam a agitação social há vários meses.
"Ataque terrível"
O presidente americano, Donald Trump, disse que as explosões se parecem com um "ataque terrível".
"Nós temos uma relação muito boa com o povo do Líbano e estaremos lá para ajudar. Parecem um ataque terrível", disse Trump a jornalistas na Casa Branca.
Israel negou ter ligação com a tragédia. Antes das explosões, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu o Hezbollah libanês, movimento armado e partido político no poder, contra qualquer operação que tenha Israel como alvo, um dia depois de uma incursão à Síria em represália a "tentativas" de colocar bombas na fronteira.
"Israel fará tudo que for necessário para garantir sua defesa", disse Netanyahu em visita militar no centro do país, "sugerindo ao Hezbollah, em particular, que leve isso em consideração". O Exército israelense já havia espalhado, em julho, novos reforços ao longo de sua fronteira norte, limítrofe com Líbano e Síria, argumentando que "aumentou sua preparação contra potenciais ações inimigas".
Cearense no navio
Um marinheiro cearense, que pediu anonimato, estava na fragata brasileira Independência que deixou o porto de Beirute para mais um dia de patrulha regular nas águas ao redor da cidade.
A tripulação sentiu, no mar, o estrondo da explosão de um ponto a cerca de 15 km do porto.
"Percebemos uma onda de choque, seguida de um ruído bastante forte. Quando a gente avistou, já havia uma coluna de fumaça de cor rosada. Foi quando a gente percebeu que havia acontecido algo grave", disse o contra-almirante Sergio Renato Berna Salgueirinho, que comanda a Independência.