Vacina da Janssen, contra Covid-19, aumenta risco de síndrome de Guillain-Barré, diz agência dos EUA
Johnson & Johnson, empresa do imunizante, disse que a chance da síndrome ocorrer é "muito baixa"
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, fez uma atualização, nessa segunda-feira (12), sobre a vacina da Janssen, contra a Covid-19. Um "aumento do risco" do desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré foi incluído nos avisos.
Baseada em um sistema de monitoramento federal sobre segurança de imunizantes, a agência identificou 100 casos do raro distúrbio neurológico após 12,5 milhões de doses serem ministradas. Desse número de registros, 95 foram graves, levando os pacientes à hospitalização. Uma morte ocorreu.
A Johnson & Johnson, responsável pela vacina, informou, em comunicado, que a chance de a síndrome ocorrer é "muito baixa". Contudo, a companhia afirmou "apoiar fortemente" a conscientização sobre sinais e sintomas de eventos raros para que estes sejam identificados com rapidez e tratados com eficácia.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome acarreta paralisação dos músculos e ocorre quando o sistema imunológico do paciente ataca o sistema nervoso periférico do próprio indivíduo.
A Autoridade Europeia de Medicamentos (EMA) anunciou, em maio, que analisaria informações sobre pacientes que desenvolveram a síndrome de Guillain-Barré após imunização com a vacina de Oxford/AstraZeneca contra o coronavírus.
Para o neurocirurgião Alander Sobreira, o número de casos da síndrome associados à vacina da Janssen é pequeno. "Apesar dos riscos, é óbvio que uma vacinação em massa, como tem sido feita nessa pandemia, a gente se expõe muito mais a ver complicações da vacina também", avalia, indicando que riscos de tromboses e cardiopatias são maiores com outras vacinas.
O que é a síndrome de Guillain-Barré
O neurocirurgião explica que a síndrome é caracterizada por ser autoimune, dado que o corpo vai produzir uma resposta imunológica contra células do próprio organismo. "O nosso corpo começa a produzir anticorpos que vão atacar as células do nosso sistema nervoso central, principalmente a medula e a raiz".
Os principais sintomas incluem fraqueza, que começa a partir das pernas e segue para os braços. Em alguns casos, o paciente pode sofrer parada respiratória, a ponto de serem necessárias ventilação mecânica ou intubação.
O transtorno, segundo o médico, é geralmente causado por um processo infeccioso, como uma gripe ou uma infecção intestinal, de duas a três semanas antes da aparição dos sintomas. No entanto, ainda conforme o neurocirurgião, a síndrome é comumente causada por vacinas.
"As vacinas têm esses riscos; elas podem levar, nessa resposta imunológica que a gente está promovendo para se defender do vírus, a um transtorno do sistema autoimune", pontua, frisando que existem tratamentos para a síndrome de Guillain-Barré.
"A imensa maioria responde bem com o tratamento", assegura o neurocirurgião, salientando que a doença, caso não tratada, pode ocasionar outros males. "Pode, sim, deixar alguma sequela neurológica e até gravidade maior a ponto do paciente vir a óbito".
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) indicou, em relatório de recomendação, que o diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré é primariamente clínico, embora exames complementares sejam necessários para confirmação.
Vacinação deve continuar
Ele, contudo, defende a continuidade da vacinação contra a Covid-19, pois esse distúrbio pode ocorrer inclusive com vacinas contra outras doenças.
Acho que o benefício da vacina é maior do que esse risco, até porque isso não é algo exclusivo da vacina da Covid — isso pode ocorrer com outras vacinas. E a própria infecção pela Covid pode levar também ao desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré no pós-infecção ou no decorrer da infecção.
Alander Sobreira, porém, reforça que a população, caso sinta quaisquer sintomas pós-vacina, como fraqueza, perda de força nos membros ou dificuldade para andar, deve buscar um médico para realização de exames.
Síndrome também tem relação com zika
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirmou, em 2016, que a relação entre o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, e a síndrome de Guillain-Barré era evidente.
Posteriormente, um estudo publicado na revista científica britânica The New England Journal of Medicine reforçou a ligação. A pesquisa analisou 68 pessoas com sintomas de Guillain-Barré na Colômbia, uma vez que a América do Sul passava por epidemia de zika à época do estudo.
Janssen e relação com outra síndrome
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou, na última sexta-feira (9), aos fabricantes da vacina que houvesse contraindicação de uso do imunizante a pessoas com histórico de Síndrome de Extravasamento Capilar.
A requisição foi feita após a Anvisa receber relato de paciente com a síndrome após recebimento da vacina. Conforme a agência, o distúrbio foi percebido em casos avaliados pela EMA.