Uece desenvolve teste rápido e de baixo custo para diagnóstico da Covid-19

Exame feito a partir da saliva ou de secreções nasais se provou tão eficaz quanto o RT-PCR. Resultado sai em até cinco minutos

Escrito por Redação ,
Legenda: Uece já solicitou pedido de patente do teste rápido
Foto: Divulgação/Uece

A Universidade Estadual do Ceará (Uece), por meio do Laboratório de Biotecnologia e Biologia Molecular (LBBM), desenvolveu um teste rápido e de baixo custo para diagnóstico da Covid-19. O resultado do teste, feito a partir da saliva ou de secreções nasais, sai entre três e cinco minutos.

De acordo com a Uece, o teste obteve o mesmo nível de eficácia dos testes padrão ouro RT-PCR, cujo processo é demorado, de elevado custo, com envolvimento de pessoal qualificado. Na comparação entre os testes, portanto, o desenvolvido pelo LBBM apresentou vantagens econômicas e de aplicabilidade.

“O teste desenvolvido na Uece poderá ser aplicado em crianças ou em pessoas, inclusive, à beira do leito. Basta pegar uma gotinha de saliva para fazer o teste. O método também é ideal para fazer triagem e monitoramento em grandes eventos, como as Olimpíadas, por exemplo, em que é preciso testar todos os participantes de forma rápida”, frisa a coordenadora do LBBM, professora Izabel Florindo Guedes.

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Além de fornecer resultados de modo mais seguro e prático, o teste não requer mão de obra extremamente qualificada. Logo, pode ser facilmente realizado em laboratórios, bem como em locais de atendimento ao público, em escolas, etc., endossa o pesquisador do LBBM, Valdester Cavalcante Pinto Júnior. 

“Após a coleta da saliva, ela é colocada em uma membrana [suporte sólido] onde acontece sua dispersão. Em seguida, são sobrepostos a essa membrana os anticorpos do SARS-CoV-2 [causador da Covid-19]. O anticorpo reage com o antígeno e daí surge uma ‘marca’ nos testes dos pacientes que forem positivos”. 

Também pesquisador do LBBM, Luiz Francisco Wemmenson Gonçalves Moura corrobora que o modelo de teste da Uece se mostrou de "alta sensibilidade e elevada especificidade".

"As amostras que tinham PCR positivo [também] reagiram no nosso teste. A gente repetiu os testes para ver se não haveria reação cruzada e, quando pegamos o nosso banco de amostras, com salivas de crianças coletadas em 2017, antes da pandemia, de fato, não reagiu".  

Financiamento e patente

Embora o laboratório ainda não tenha o cálculo de valor do teste, Wemmenson garante que o produto terá um baixo custo, tendo em vista que utiliza insumos de menor valor e com fácil aplicabilidade.

"A gente usa uma membrana no laboratório que tem na faixa de um metro, e custa cerca de R$ 600. Com uma única membrana dessas, dá pra fazer milhares de testes. Essa parte industrial, nós não temos ainda, mas é para [o novo teste] ser bem menos de R$ 50", estima. 

"E, no momento, estamos escrevendo projeto para conseguir financiamento e aprovação do Comitê de Ética para validação clínica”, prevista para ocorrer em um grande hospital de Fortaleza.

"Muito provavelmente esse financiamento deve vir do Governo [do Estado]. A gente deve marcar uma reunião na próxima semana pra ver em quais percursos vamos conseguir chegar mais rápido [com os testes à população]". 

Após algumas alterações, o pedido de patente do teste foi ressubmetido no início da semana passada. Wemmenson pondera que, por se tratar de um produto necessário ao contexto da pandemia, o laboratório deve conseguir o registro junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) rapidamente, "no mais tardar, até o fim da próxima semana".

Auxílio no rastreamento 

A ideia do teste, segundo Valdester Cavalcante, surgiu a partir do desenvolvimento de outra pesquisa, em que é analisada a prevalência da Covid-19 em crianças, adolescentes e adultos da rede municipal de ensino de Fortaleza, em educação remota.

“Quando fizemos o rastreamento das crianças como parte do estudo para o doutorado, recebemos algumas demandas das famílias: o teste era incômodo, caro, e demorava muito a sair o resultado. Foi a partir daí que os membros do Laboratório passaram a discutir a possibilidade de desenvolver um teste rápido, de custo mais barato e menos desconfortável para o paciente. Então, desenvolvemos esse teste, que já passou pelo estudo de bancada e que se provou tão eficaz quanto o RT-PCR”, esclarece o pesquisador.  

Por ter como base uma técnica simples e não invasiva, a invenção pode contribuir significativamente no rastreio de pessoas infectadas, sejam elas sintomáticas ou assintomáticas, avalia a Uece. Consequentemente, pode auxiliar na elaboração de estratégias mais seguras para a retomada das atividades sociais.

São responsáveis pela invenção do teste os pesquisadores Valdester Cavalcante Pinto Júnior, Maria Izabel Florindo Guedes, Luiz Francisco Wemmenson Gonçalves Moura, Ana Cláudia Marinho da Silva, Daylana Régia de Sousa Dantas, Ney de Carvalho Almeida, Cícero Matheus Lima Amaral, Daniel Freire Lima, Arnaldo Solheiro Bezerra e Eridan Orlando Pereira Tramontina Florean.

 

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