População idosa vacinada com segunda dose contra a Covid dobra em um mês e chega a 60% no Ceará
Mesmo assim, quatro em cada dez pessoas do grupo mais vulnerável a casos graves da Covid-19 ainda precisam concluir o esquema vacinal.
O Ceará tem quase 1,2 milhão de pessoas acima de 60 anos de idade aptas a se vacinarem contra a Covid-19. Desse total, 61% já receberam as duas doses do imunizante, até o dia 20 de maio. O percentual é o dobro do verificado em 20 de abril, quando era de 30,9%.
As informações são baseadas em dados agregados pelo vacinômetro da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), através de formulário eletrônico próprio respondido pelos 184 municípios cearenses.
Até o dia 20 de abril, haviam sido aplicadas somente 298.261 das chamadas D2, que completam o esquema vacinal contra a doença. Até 20 de maio, o número saltou para 721.677.
Os percentuais se referem à quantidade de idosos cearenses que receberam a D2 em relação aos que já receberam a D1. Apesar de positivo, o balanço aponta que quatro em cada 10 pessoas do grupo ainda precisam concluir a proteção.
Até o último dia 19 de maio, por exemplo, 43.650 idosos estavam com o esquema da CoronaVac atrasado por dificuldades no fornecimento do Ministério da Saúde. Os Ministérios Públicos precisaram entrar com uma ação contra o Governo Federal para que o problema fosse resolvido e distribuir mais doses a 120 municípios do Ceará.
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O andamento da imunização também depende da priorização dos grupos de idade, já que a quantidade de doses é limitada. Confira as diferenças por faixa etária:
- Mais de 75 anos: o grupo iniciou a vacinação em 27 de janeiro e, até 20 de maio, 82,58% recebeu a D2;
- 70 a 74 anos: iniciada em 23 de março, já teve 87,17% do público imunizado com a D2;
- 65 a 69 anos: com início entre 26 e 31 de março, já tem 62,47% imunizados;
- 60 a 64 anos: os mais velhos do grupo começaram a ser vacinados em 1º de abril, mas, os mais jovens, somente a partir de 21 de abril. Por ser o grupo mais recente, apenas 18,62% já receberam a D2.
Lígia Kerr, professora da Universidade Federal do Ceará e integrante da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), percebe que os valores poderiam estar mais avançados e pondera que um dos fatores para a demora foi a recusa de compra de imunizantes por parte do Governo Federal.
“Não temos vacinas suficientes e tivemos algumas interrupções”, afirma.
Atraso na aplicação
Outra dificuldade para acelerar a imunização, para Lígia, foi a decisão de não vacinar predominantemente em unidades básicas de saúde, que permitem maior capilaridade junto à população. No Ceará, várias cidades utilizam ginásios, escolas ou sistema drive-thru, por exemplo.
Uma das que espera a segunda dose em Fortaleza é Marcelina Alves de Araújo, de 97 anos. Ela tomou a primeira dose da AstraZeneca no dia 11 de fevereiro, mas, desde 12 de maio, está com o imunizante atrasado. “Ela tem direito de receber em casa, mas, até agora, nada”, lamenta a filha, Socorro Araújo.
No último dia 20, a Prefeitura de Fortaleza informou que, simultaneamente, “está concluindo a administração domiciliar de segundas doses de CoronaVac e iniciando o atendimento de idosos acamados contemplados pela AstraZeneca”.
A epidemiologista Lígia Kerr lembra que a lenta imunização pode contribuir para uma terceira onda da doença, já que a circulação do vírus tende a aumentar casos e o risco de mutações. Uma das ameaças é a variante indiana da doença, que tem um caso suspeito em investigação no Ceará.
Cuidados mantidos
Embora a segunda dose seja ideal para garantir maior proteção contra a Covid-19, o risco de internação pela doença cai 27 vezes em idosos que tomaram pelo menos a primeira dose da vacina, de acordo com um estudo preliminar da Sesa. Ele considera o uso tanto da CoronaVac como da AstraZeneca.
Além dos vacinados com as duas doses, até 20 de maio, o Ceará registrou 461.371 idosos imunizados com a primeira dose. No total, o Estado já alcançou 98,95% da meta inicial da população acima de 60 anos.
Contudo, Lígia Kerr garante que, mesmo vacinado, é preciso manter os protocolos de prevenção contra o contágio, o que inclui o uso de máscaras, a higienização constante das mãos e a manutenção do isolamento social, evitando saídas desnecessárias.
O Governo do Estado também continua alerta quanto aos indicadores epidemiológicos da doença. O decreto estadual em vigor nesta semana mantém as definições da semana anterior nas macrorregiões de Fortaleza e Sobral. Atualmente, 182 cidades cearenses estão classificadas no nível de alerta “altíssimo” para transmissão da doença.