O que significa o comprometimento pulmonar causado pela Covid-19 e como ocorre a recuperação ?

Especialistas explicam o tempo de recuperação, se há risco de sequelas e qual o grau de comprometimento que liga o alerta dos profissionais médicos

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br

"Tive 75% dos pulmões comprometidos". O relato do radialista juazeirense Taciano Clécio, de 43 anos, se tornou comum no último ano. Embora a Covid-19 não seja um vírus que afete unicamente o sistema respiratório, um dos sinais de maior gravidade continua sendo o comprometimento do pulmão.

Essa termologia, portanto, passou a ser amplamente disseminada desde o início da pandemia. Mas, afinal, o que significa o comprometimento pulmonar, quais são seus danos e como ocorre a recuperação? O Diário do Nordeste entrevistou especialistas que detalham desde o processo de identificação ao acompanhamento pós-infecção.

O médico pneumologista Fabrício Martins explica que a visualização da extensão da doença no pulmão não pode ser feita apenas através de imagens de raio-x e tomografias. Ele pondera que a imagem isolada não deve ser o único artifício do profissional.

"Quando feita precocemente, pode não ser identificada nenhuma mancha no pulmão, o que necessariamente não queira dizer que o paciente não teve lesão. O mais indicado é unir a imagem ao quadro clínico do paciente, que são os sintomas que ele apresenta, como tosse e falta de ar".

No caso dos exames por imagem, o pneumologista explica que as partes claras ou esbranquiçadas indicam o quão gravemente o vírus afetou a respiração do paciente. Taciano rememora que, no período de quase três semanas que esteve acometido pela doença, sentiu "indisposição e cansaço permanente".

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Os sintomas são variados e, em alguns casos, como o de Taciano, eles são abrandados ou até inexistentes. "Apesar do comprometimento pulmonar, não senti falta de ar, o que é mais grave, pois a gente pensa que está bem, quando, na verdade, não está". O radialista ficou quase quatro dias internado em um leito de enfermaria. Fabrício explica, no entanto, que de modo geral, o comprometimento afeta o sistema respiratório do paciente.

"Ele (paciente) busca pelo ar, mas é como se não tivesse ar disponível. A inflamação no órgão impede que o ar entre de forma suficiente e acaba não chegando aonde deveria. De forma mais simples, a lesão impede a passagem do ar", detalha o especialista. 

Sem conseguir inspirar a quantidade adequada de ar, o paciente intensifica o número de inspirações e expirações por minuto. Esse esforço, segundo Martins, causa lesões que "podem ir se agravando à medida que esse processo de inspiração e expiração for se intensificando". O comprometimento pulmonar pode fazer com que o paciente dobre a frequência respiratória, que é, em média, 16 por minuto.

Comprometimento

Fabrício Martins pontua que os artigos médicos mais recentes preconizam que o comprometimento acima dos 50% acende sinal de alerta, mas, reforça que "não há uma tabela uniforme para todos", o que indica que a relação gravidade x comprometimento depende de cada organismo.

Contudo, em geral, esses índices podem indicar a rapidez da recuperação do paciente. Com 25% a 30% do pulmão comprometido, o infectado tem maior probabilidade de uma recuperação mais rápida e sem grandes chances de sequelas.

"Quando este percentual está acima dos 50% já indica uma gravidade maior, com necessidade de avaliação médica urgente", esclarece o pneumologista . 

Essa avaliação ao qual se refere deve ser unificada entre radiografia (ou outro exame de imagem) e o estado clínico do paciente. Ainda conforme Fabrício, o período entre o 5º e o 7º dia - contados a partir da apresentação dos sintomas - é um marco importante para observar se as lesões estão em processo de piora ou se dissipando. "Por isso a importância de avaliar e reavaliar".

Danos e sequelas

Apesar dos avanços de conhecimento adquiridos desde o início da pandemia, algumas perguntas ainda estão sem respostas. Uma delas é se o paciente com significativo comprometimento pulmonar terá sequelas. Fabrício Martins, no entanto, explica que em pacientes graves, com mais de 50% do pulmão afetado, a recuperação "leva um tempo", sem ser preciso estimar um período.

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"Pode levar semanas ou meses. Assim como há pacientes que podem se recuperar rapidamente sem nenhuma sequela", diz. Taciano Clécio garante que, após 22 dias, "não restou nenhum dano". "Eu vivo normalmente, me sinto 100%, sem nenhuma sequela", comemora o radialista. O pneumologista Martins acrescenta, contudo, que "para pacientes mais idosos, o tempo de recuperação tende a ser mais lento".

A fisioterapeuta intensivista e coordenadora da reabilitação do Hospital Otoclinica, Roberta Catunda Costa, detalha que os pacientes que utilizaram ventilação mecânica, geralmente, têm uma perda de força muscular muito mais acentuada do que aqueles que não utilizaram.

"Isso consome muito a musculatura, dá muita fraqueza muscular. Tem tanto a fraqueza dos músculos periféricos, como da musculatura respiratória. Então, esses pacientes, além de ter a sequela do comprometimento pulmonar, que muitas vezes se revela como uma fibrose sequelar, eles ainda vão ter a fraqueza de toda a musculatura respiratória ali presente", detalha.

Diante desse diagnóstico, a especialista reforça que a reabilitação é "importantíssima nesse tipo de paciente porque é preciso trabalhar treinamento muscular respiratório e o treinamento aeróbico também, juntos".

Roberta adverte, no entanto, que não é possível generalizar os quadros, tampouco afirmar se haverá sequelas, pois, até mesmo para pacientes com o mesmo comprometimento pulmonar pode existir quadros [clínicos] totalmente diferentes, "mesmo tendo sido entubado, ventilado mecanicamente um pode ter conseguido ficar com mais força que o outro. Tudo vai depender da força muscular desse paciente".

Exercícios 

A fisioterapeuta relata que não existe uma porcentagem mínima de comprometimento do pulmão em que é indicada a fisioterapia. "O que existe, realmente, é o comprometimento das atividades da vida diária daquele paciente, do que a fisioterapia chama de funcionalidade. Se há algum comprometimento da funcionalidade da parte física, como da parte respiratória, aí é indicativo de fisioterapia, da reabilitação fisioterapêutica", detalha.

Após a fisioterapia, Renata Catunda revela a necessidade de um educador físico dar continuidade ao processo de recuperação e reabilitação. Ela explica que a fisioterapia faz a reabilitação pulmonar do paciente e o educador físico dar continuidade ao retorno das atividades físicas daquele paciente.

"É importante ter um acompanhamento multiprofissional. O fisioterapeuta entrega o paciente o mais funcional ao educador físico, que trabalha a fase final. Tem que ter também o pneumologista junto ao cardiologista e, de repente, o psicólogo. É muito importante um nutricionista também nessa fase porque tem muito paciente que perde a força muscular e precisa de suplementação. Precisa dessas pessoas para ter a reinserção [do paciente] na sociedade", conclui.

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