Grandes coberturas jornalísticas e pioneirismo marcam a trajetória do Diário do Nordeste

De fatos da saúde à política, jornalismo do Diário do Nordeste tem documentado a História do Ceará; legado e compromisso com a verdade construídos a partir do suporte impresso seguem, agora, totalmente digital

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Primeira e penúltima capas do Diário do Nordeste
Legenda: Capa da edição número 1 do Diário do Nordeste, em 19 de dezembro de 1981

"Muita gente com latas vazias num tanque de água suja. É a seca em Aracoiaba". Em 15 palavras e uma imagem meio embaçada em preto e branco, lia-se um retrato do Ceará de dezembro de 1981. Ao redor, outros caracteres registravam o aumento dos preços das passagens de ônibus e dos alimentos, e anunciavam ainda os 12 mil inscritos no vestibular da Uece. Era dia 19, um sábado, quando a primeira edição do Diário do Nordeste saía às ruas e iniciava uma missão que se mantém: a de documentar a História do Estado e de quem vive nele.

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De lá para cá, por outro lado, muita coisa mudou. Ocorreram tragédias, como a queda de um avião na Serra da Pacatuba, deixando entre as vítimas o empresário Edson Queiroz, em 1982; crimes, como o sequestro de Dom Aloísio Lorscheider, em 1984; doenças, como a dengue, cujo primeiro caso chegou ao Ceará em 1986; e até a mudança da moeda brasileira, com o Plano Real, quando em 1º de julho de 1994 o preço do jornal passou de Cr$ 2.000 a R$ 0,70.

Antes de tudo isso, porém, uma "edição zero" de teste passou pelas máquinas do parque gráfico. Nela já havia sido impresso o trabalho do jornalista Pádua Lopes, que encerrou em fevereiro de 2020, como superintendente, a trajetória de 38 anos no jornal.

"Fui recrutado para ser um dos colunistas políticos. À época, existiam três grandes jornais, mas o Diário foi o primeiro a circular no interior do Ceará. Chegamos a rodar em todos os municípios, foi um grande feito", orgulha-se. Entre as reportagens das quais nunca esquece, Pádua destaca a do acidente aéreo de 1982, o rapto de Dom Aloísio e, mais recente, o motim dos policiais militares.

"Nós ganhamos muitos prêmios, tivemos coberturas excepcionais. E essa credibilidade construída em 39 anos dá o suporte para que o jornal viva da marca e se sustente no modelo digital, que vai ser muito forte, um dos maiores do País. Nesse universo de notícias falsas, as pessoas precisam ter confiança no que é dito. E a história do Diário transmite isso", diz.

Os últimos 33 anos dessa trajetória têm sido acompanhados pelo jornalista Ildefonso Rodrigues, que chegou ao Diário do Nordeste como estagiário, no primeiro ano da faculdade; e hoje ocupa a função de diretor de jornalismo. Uma das grandes coberturas realizadas pelo periódico, aliás, foi assinada por ele: a da Chacina dos Portugueses, morte de seis europeus em uma barraca da Praia do Futuro, em Fortaleza, em 2001.

"O Diário esteve em várias coberturas de destaque nos cenários nacional, internacional e local; sempre com uma posição muito firme, se fazendo presente por meio dos repórteres. Desde a inauguração do (Açude) Castanhão, o furto ao Banco Central, até esse caso que tomou uma dimensão internacional. Eu fui o repórter que acompanhou todo o caso, um momento sensível e trágico, junto ao fotógrafo Eduardo Queiroz", rememora.

Pioneiro digital

Para ele, além dos fatos relevantes da atualidade, a boa conduta dos profissionais, a credibilidade e a isenção sempre pautaram do Diário do Nordeste - legado que teve o alicerce construído no jornal impresso e perpetuado na internet.

"Esse nome foi construído em um processo de longos anos, e a web carrega isso com a força da audiência, que caminha para o Diário do Nordeste porque a marca é referência. A credibilidade nasce com o impresso e a internet, agora, conduz isso", frisa.

Os passos do Diário no mundo online, aliás, começaram a ser trilhados em 15 de julho de 1995, quando se tornou "o primeiro jornal em todo o Norte/Nordeste a oferecer informações através da rede mundial de computadores". Essas aspas foram impressas na edição da quarta-feira seguinte, dia 19, escritas pela jornalista Marlyana Lima - que ingressou no veículo como repórter, em abril de 1992, e hoje é editora de fechamento.

"O processo do jornal anterior, que alcancei, era na máquina de datilografia, com a diagramação feita à mão. A pesquisa para contextualizar as matérias também era mais lenta. A internet veio e deu agilidade a todo o processo, mudando inclusive a apresentação das notícias. O jornal impresso acompanhou as tecnologias que traziam inovações", recorda.

No percurso de transformações, entretanto, ela defende que um aspecto permaneceu. "O jornalismo nunca vai perder a essência, que é a apuração, a busca pela informação precisa. Ter compromisso com a verdade é fundamental porque, o que escrevemos acaba sendo preponderante para tomada de decisão das pessoas. E, como disse [Charles] Darwin, aquele que se adapta é o que vai permanecer. Eu torço pela perpetuação do jornalismo. A transição do Diário para o digital tem esse sentido", opina Marlyana.

Mudanças recentes

Neste 28 de fevereiro, então, o digital se torna a espinha dorsal do Diário do Nordeste, mudança que condiz com a identidade de um veículo que sempre buscou acompanhar o mundo em tempo real - como ressalta Ruy do Ceará, superintendente do Sistema Verdes Mares.

"Iniciamos essa jornada de quase quatro décadas imprimindo o jornal em um parque gráfico dos mais modernos entre os jornais brasileiros. Mas entendemos hoje que, mais do que nunca, temos uma sociedade acostumada ao digital. Do acesso a um site ou rede social até a finalização de uma compra", pontua.

O início de um fazer-jornalístico 100% digital, destaca Ruy, exigiu dois ingredientes que compõem o DNA da própria profissão: "segurança e coragem".

"Segurança porque conhecemos bem o nosso público e sabemos que a grande maioria deseja um Diário do Nordeste mais digital, mais multiplataforma, com mais conteúdo e mais alcance. Coragem porque encerramos nesta data um projeto em papel que é histórico. O mundo se transformou e nós também estamos fazendo agora esta mudança para acompanhar o mundo, a vida e cada um, com seus desejos e peculiaridades", diz.

Linha do tempo de grandes coberturas do Diário do Nordeste

  • 1982 - Queda de avião na Serra da Pacatuba
    Entre as vítimas do acidente, estava o industrial Edson Queiroz, fundador do grupo empresarial do qual o Diário faz parte.
     
  • 1984 - Dom Aloísio Lorscheider vira refém
    Durante visita a unidade prisional cearense, o então arcebispo de Fortaleza tornou-se refém dos internos; equipe do Diário acompanhou o caso in loco.

    Dom Aloísio Lorscheider refém
    Legenda: Imagem capturada por Luciano Arruda, repórter fotográfico do Diário do Nordeste à época, ganhou o Prêmio Esso

     
  • 1986 - Primeiros casos de dengue no Ceará
    Secretaria da Saúde do Estado começa a contabilizar infecções pelo vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti até hoje.
     
  • 1994 - Criação do Plano Real
    • Cobertura de impacto nacional, plano para conter hiperinflação no Brasil também ganhou destaque nas páginas do Diário;
    • Visando acessibilidade da informação, Diário do Nordeste ganha versão em braile
     
  • 1995 - Diário é primeiro a publicar na Web
    Com servidor localizado na então Escola Técnica Federal do Ceará, Diário foi primeiro veículo do Norte/Nordeste a publicar notícias online.

    Diário Web
    Legenda: Edição de 19 de julho de 1995 aborda ingresso do Diário ao mundo online

     
  • 1998 - Seca assola território cearense
    Efeitos da grande estiagem que atingiu o Nordeste e o Ceará no ano também foram noticiados pelo Diário do Nordeste impresso e online.
     
  • 1998 - Aeroporto de Fortaleza é inaugurado
    O terminal de passageiros com capacidade para receber milhares de pessoas foi aberto para operação no final dos anos 1990.
     
  • 2001 - Chacina dos Portugueses em Fortaleza
    Seis empresários portugueses foram agredidos, baleados e alguns enterrados ainda vivos, em uma barraca na Praia do Futuro.
     
  • 2002 - Inauguração do Açude Castanhão
    Importante equipamento para o abastecimento de água em Fortaleza e no Ceará foi inaugurado após 7 anos de obras.

    Açude Castanhão
    Foto: Tuno Vieira

     
  • 2005 - Furto ao Banco Central
    Por meio de túnel subterrâneo escavado em três meses, quadrilha entra no caixa-forte do BC e furta R$ 164 milhões, em Fortaleza.
     
  • 2009 - Grandes enchentes no Ceará
    Ano ficou marcado na História como o “ano da grande enchente”, quando choveu 53% além do esperado para o ano. População teve prejuízos materiais e pessoais.
     
  • 2012 - Greve da PM no Ceará
    Às vésperas do réveillon, em 29 de dezembro de 2011, policiais decidem paralisar atividades; fim da greve foi em 4 de janeiro.
     
  • 2013 - Jornadas de Junho
    Manifestações levaram milhões de brasileiros e cearenses às ruas contra aumento de passagens e corrupção na política.
     
  • 2014 - Copa do Mundo em Fortaleza
    Maior competição esportiva internacional trouxe o mundo inteiro à Arena Castelão, às ruas de Fortaleza e às páginas do Diário.

    Copa do Mundo 2014 em Fortaleza
    Foto: Natinho Rodrigues

     
  • 2017 - Inauguração da primeira siderúrgica do Ceará
    Equipamento com importância ímpar para a economia do Estado, Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) é inaugurada em abril.
     
  • 2018 - Greve dos caminhoneiros
    Movimento durou 10 dias e paralisou transporte de alimentos, combustíveis e até medicamentos no Ceará e no Brasil.
     
  • 2019 - Atentados criminosos no Ceará
    Série de quase 300 ataques em todo o Estado, entre janeiro e fevereiro, atingiu transporte e equipamentos públicos.
     
  • 2019 - Queda do Edifício Andrea
    Prédio de sete andares desaba em bairro nobre de Fortaleza, deixando 9 mortos e 7 feridos; Diário foi destaque durante cobertura.

    Edifício Andrea
    Foto: Gustavo Pelizzon

     
  • 2020 - Motim da Polícia Militar
    PMs se amotinaram contra proposta de reestruturação salarial do Governo do Estado; período teve recorde de assassinatos.
     
  • 2020/2021 - Pandemia de Covid-19
    Coronavírus chega ao Ceará e muda rotina de toda a população. Temos escrito sobre milhares de vidas e perdas. A História está em curso.

    Hospital Leonardo Da Vinci Covid Ceará
    Foto: Camila Lima
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