O Ceará registra o maior número oficial de mortes de crianças, entre zero e 9 anos, por Covid-19 entre os estados do Nordeste, com a perda de 130 pequenos desde o início da pandemia. A vacinação infantil pode conter a transmissão, evitar quadros graves e o número de óbitos, como apontam especialistas.
As mortes de crianças cearenses são registradas na plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) com atualização nesta segunda-feira (10).
Os números dos demais estados foram consultados pelo Diário do Nordeste nos portais das secretarias estaduais da saúde com os dados mais recentes deste mês.
Oficialmente são 456 crianças nordestinas com a vida perdida para a Covid-19. Assim, 28,5% destas mortes se concentram no Estado.
A Bahia aparece logo após o Ceará com o registro de 89 mortes de crianças e fica na frente de Pernambuco, onde foram 75 pequenos mortos desde o início da pandemia.
No Ceará, as crianças de zero a 4 anos de idade são as mais afetadas com 114 mortes pela doença. Entre 5 e 9 anos, foram registrados 16 óbitos até o momento. Ao todo, 38.872 casos de infecção foram registrados nessa faixa etária.
“A partir do momento que a gente vê que tem crianças que evoluem a óbito, por menor que seja, sempre uma morte impacta a família e a gente tem uma motivação para trabalhar nessa vertente de combate”, reflete Michelle Pinheiro, infectopediatra atuante no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias).
Quando a gente pensa na parte de saúde pública, a vacinação das crianças, no ponto de vista da infectologia, é importante porque a gente consegue diminuir a circulação viral
Além disso, a imunização dos pequenos com doenças crônicas pode ser determinante para evitar quadros graves.
“Naquelas com comorbidades prévias, como paralisia cerebral, obesidade grave e doenças respiratórias crônicas, o quadro pode ser tão grave quanto o que costumamos ver nos adultos na fase aguda da doença”, explica Izabella Tamira, médica pediatra endocrinologista.
Existe com as vacinas, ainda, a proteção contra uma doença observada como consequência da infecção pelo coronavírus, como acrescenta a também professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral.
“Em crianças, temos a possibilidade de complicação tardia grave, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, a qual apresenta taxas elevadas de morbimortalidade”.
Grande parte dos quadros atuais de Covid-19 tem sido associados à variante Ômicron. Temos observado um menor número de pacientes adultos graves infectados pelo coronavírus, entretanto, essa menor chance de evoluir com gravidade se deve em grande parte aos avanços da vacinação da população adulta. E nas crianças ainda não vacinadas?
Em um contexto em que as crianças cearenses devem voltar às aulas presenciais no início deste ano, as vacinas têm relevância em destaque para conter a transmissão da doença. Além disso, as medidas preventivas e a testagem devem auxiliar nesse combate à pandemia.
“A recomendação é não diminuir o que a gente já vinha fazendo antes: máscaras e higienização. Por menor que seja o sintoma fazer o teste. Se estiver assintomático não precisa, porque acaba aumentando a demanda e os recursos são finitos”, pondera Michelle Pinheiro.
O Ceará recebeu 114.183 inscrições de crianças com até 11 anos em dezembro e 45.670 outros cadastros em janeiro até o momento.
O Ministério da Saúde deve receber 600 mil doses de vacinas infantis da Pfizer neste mês, como anunciou a Pasta nesta segunda-feira (10). Entre janeiro e março, o Governo Federal espera mais de 20 milhões do imunizante para crianças com distribuição aos estados.
O que os pais devem se ater
Sem a imunização das crianças e com o crescimento dos casos de Covid-19, quem cuida de criança não pode descuidar na prevenção.
“Seguimos contando com as medidas de distanciamento social e higienização para evitar a propagação do coronavírus e também de outros vírus respiratórios como o da influenza H3N2”, acrescenta Izabella.
Para a especialista, o comportamento dos responsáveis por crianças é uma parte importante desse processo de conter a doença. “Os pequenos nos observam muito e imitam nossos atos. É certo que, quanto menor a criança, mais desafiador pode ser a manutenção correta desses procedimentos”, pondera.
Nesse momento, não importa se a suspeita é gripe, Covid, rinite, alergia… Teve sintoma respiratório, não mandar pra escola. Avisar a quem teve contato e fazer a testagem. Assim contemos a propagação viral
Em casos de infecção, os pais devem avaliar os sintomas e buscar alternativas aos hospitais caso o quadro seja leve, como orienta Michelle Pinheiro.
“Os sintomas respiratórios leves, como coriza e febre baixa, se essa demanda puder ser resolvidas nos postos de saúde, ou se já tem um médico que acompanha a criança, fazer a consulta pela telemedicina”, frisa para evitar a superlotação das unidades de saúde.