Análise: título justo para um Ceará que se reinventou na competição

Em mais uma partida sólida taticamente, Ceará faz jogo de poucos riscos em Pituaçu, segura o Bahia e, em jogada bem trabalhada, volta a vencer o adversário e conquista novamente o título de campeão invicto do Nordeste

Legenda: O Ceará foi campeão da Copa do Nordeste pela segunda vez em 2020
Foto: Felipe Santos / cearasc.com

O Nordeste é mais uma vez alvinegro. De forma incontestável, o Ceará é bicampeão da Copa do Nordeste, soberano com duas vitórias nas finais contra o Bahia.

Após vitória no jogo de ida por 3 a 1 no último sábado, o Vozão tinha uma grande vantagem e voltou a vencer, agora por 1 a 0, ontem em Pituaçu, em Salvador (BA), se consagrando mais uma vez campeão invicto, repetindo 2015, quando também venceu o time baiano duas vezes.

A campanha alvinegra foi especial, com sete vitórias seguidas, terminando com o melhor ataque (21 gols) e artilheiro, o Vinícius, com cinco gols.

>Veja toda a repercussão do título alvinegro

A conquista alvinegra é a constatação de uma equipe que se reinventou durante a competição e, com sete vitórias seguidas, embalou na fase final, superando conhecidos adversários de peso da região, como Vitória, Fortaleza, e duas vezes o Bahia, certamente o maior favorito ao título antes do torneio começar pelo investimento e por Salvador ter sido sede única após decisão extraordinária devido à pandemia do novo coronavírus.

As duas semanas em Salvador, aliás, foram inesquecíveis para o Ceará, ao vencer todas as partidas. O Vovô garantiu classificação na 1ª Fase ao bater o CRB por 2 a 1, chegando forte para as fases finais, batendo Vitória e Fortaleza por 1 a 0, e chegando ao seu ápice, ao vencer o Bahia duas vezes.

Nos mata-matas, o técnico Guto Ferreira transformou o time, com a equipe ganhando solidez defensiva, entrega tática raramente vista e claro, espírito de decisão.

O título da Copa do Nordeste de 2020 deu ao Ceará importantes feitos financeiros e esportivos. Com as passagens de fase e o título conquistado, o time alvinegro acumulou R$ 3,87 milhões em premiações.

Além disso, o título valeu a classificação automática do time para as oitavas de final da Copa do Brasil de 2021 e uma premiação de, pelo menos, R$ 2,5 milhões para apenas dois jogos da referida etapa. Para um time chegar a essa fase, por vias normais, precisa superar pelo menos quatro adversários em disputas mata-mata.

Outros feitos do Alvinegro ao conquistar a Copa do Nordeste foram: se tornar o primeiro bicampeão no novo formato do torneio, desde 2013, como também o primeiro clube a ser campeão invicto duas vezes.

Legenda: Cléber festeja gol da vitória contra o Bahia - o seu segundo na decisão da Copa do Nordeste
Foto: WALMIR CIRNE/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Superior

A partida de ontem no Pituaçu foi mais um exemplo da equipe consciente e madura que se tornou sob o comando do técnico Guto Ferreira. Com a grande vantagem obtida no jogo de ida, o Ceará desde o início de jogo marcou o Bahia em cima, adiantando a marcação e ganhando tempo na maioria das jogadas.

Com um posicionamento tático bem feito, o Vozão segurou o adversário, destaque para os laterais Samuel Xavier e Bruno Pacheco, além de Fernando Sobral, que mantinham o auxílio constante aos dois volantes Fabinho e William Oliveira.

O quinteto, além dos dois zagueiros alvinegros, Klaus e Luiz Otávio, mais uma vez impecáveis no posicionamento e tiradas de bola, não deixavam o Bahia circular, fazer seu jogo com Rossi e Elber, os pontas ofensivos. Assim, isolava o centroavante Fernandão, e apenas Rodriguinho tinha mais liberdade para criar (o único ato falho da marcação alvinegra), mas nem assim o Tricolor baiano conseguia criar.

De tensão no 1º tempo, apenas a revisão do VAR em lance de pênalti para no Bahia que não foi adiante e uma finalização de Fernandão que Prass defendeu em dois tempos. No mais, controle absoluto do Ceará nos primeiros 45 minutos, que se não criou situações de gol, soube trabalhar a bola e segurar o resultado parcial.

No 2º tempo, com o Bahia voltando modificado e muito ofensivo, leia-se vulnerável, o Ceará se aproveitou de forma cirúrgica. Aos 15 minutos, Leandro Carvalho puxou contra-ataque, tocou para Bruno Pacheco, que cruzou rasteiro na medida para Cléber, na pequena área, só empurrar para o gol. O atacante, que chegou ao Ceará no decorrer do Campeonato Cearense vindo do Barbalha, mostrou-se uma das principais engrenagens da mudança tática da equipe de Guto Ferreira.

Era o gol da superioridade mental e tática de uma equipe que soube vencer e que se aproximava cada vez mais do título.

A última meia hora de jogo foi de um Bahia inerte, buscando honrar sua camisa mesmo sem forças para sequer assustar o Vozão. Já o Ceará continuou com sua aplicação e em contra-ataques, segurou a bola na frente e esperou o apito final para comemorar um título mais do que merecido: era o Vozão mais uma vez campeão invicto o Nordeste.

Comemoração

A conquista alvinegra foi especial para os jogadores e para o técnico Guto Ferreira, que assim como o Ceará, é bicampeão da Copa do Nordeste. O treinador, que chegou para o lugar de Enderson Moreira durante a pandemia, é campeão do Nordeste com o Vovô com 100% de aproveitamento. Com ele, o Vovô venceu todos os seus adversários.

Ele foi muito festejado pelos jogadores, com gritos de "É Gordiola" e "Bicampeão", com direto a banho de gelo durante a entrevista coletiva.

"À medida que fomos jogando, conversando com os jogadores, senti um propósito muito grande na cabeça deles. Eles sabiam o que queriam. Canalizar tudo isso passou pela lideranças do grupo, pela humildade dos jogadores. Quando isso acontece, tudo flui, a aí você se supera, atravessa obstáculos importantes e se consegue vitórias como essa. O título invicto foi uma façanha, um trabalho muito legal, parabéns para o Argel, para o Enderson, e para os jogadores", disse o técnico bicampeão Guto Ferreira.

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