Demolição de prédio na Maraponga complica rotina de moradores

Com o isolamento do quadrilátero das ruas no entorno da edificação, a comunidade protesta sobre a dificuldade de acesso à área e aos bens dos desabrigados

Escrito por Felipe Gurgel ,
Legenda: A Defesa Civil teve de interditar, por segurança, na última sexta, o quadrilátero que envolve as ruas Carlos Studart, Altair, Travessa Campo Grande e País de Gales
Foto: Foto: Gustavo Pelizon

A tensão se faz presente entre agentes da Defesa Civil de Fortaleza, moradores desabrigados e a comunidade do entorno do prédio que está sendo demolido desde ontem (28), no bairro da Maraponga. Na manhã deste sábado (29), o procedimento, de responsabilidade da construtora da edificação, já encaminhava 30% da demolição.

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Por segurança da área ao redor do prédio, a Defesa Civil teve de interditar, na última sexta, o quadrilátero que envolve as ruas Carlos Studart, Altair, Travessa Campo Grande e País de Gales. Casas vizinhas foram completamente interditadas, e outras residências próximas só tem o acesso liberado a partir das 17h. A comunidade reclama da dificuldade de acesso às vias e aos seus próprios lares. 

A queixa dos moradores e vizinhos também se dá em relação ao resgate dos bens pessoais de cada morador do prédio. Com exceção de um proprietário, todos os residentes eram inquilinos, segundo o analista Neto Barbosa, 35.

Morador do prédio há dois anos, quando se mudou do Montese para a Maraponga a pretexto de dividir a moradia com sua namorada, o analista se diz "revoltado, impotente, tudo que é sentimento negativo". 

"Ninguém tem acesso à nada. Pelo fato de saber dessa situação 30 dias atrás (quando o prédio começou a desabar parcialmente), e pela falta de zelo com nossos bens. O Estado nos deixou desassistido. Deviam separar, pelo menos, um setor pra gente tirar novas documentações", sugere.  

Neto reforça que, embora os proprietários do prédio tenham prometido o resgate dos bens, o procedimento não tem sido cumprido. "Só vimos a demolição. Eles estão preocupados com a multa diária de R$ 5 mil (enquanto não se resolve a situação). O resgate demandaria mais tempo. E só resgataram até agora uma máquina de lavar, uma geladeira e uma TV", situa o morador, no final da manhã deste sábado (29).   

Luciano Agnello, coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, reitera, diante da situação, que o papel do órgão municipal no "sinistro" é evitar ainda mais prejuízos com a área. 

"Nós isolamos a área por isso. Na sexta, quando iniciamos a intervenção, já tinham 15 casas interditadas. Mais 25 foram isoladas com o começo da demolição. Há risco de explosões por conta de botijão de gás das residências, do combustível de postos nas proximidades", esclarece o agente. Equipes da Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar complementavam a operação.  

Desabrigados

O morador Francisco Sousa, 55, autônomo, vivia com mais três amigos no primeiro andar do prédio. Naturais de Ubajara (CE), ele mora na Maraponga há 1 ano e 8 meses e conta que não conseguiu ter acesso aos seus bens, desde o início da demolição.  "Tudo que eu tinha tá lá, só saí com a roupa do corpo. Meus vizinhos têm me ajudado bastante. E eu só tenho um parente aqui em Fortaleza, um sobrinho no Mondubim", conta Francisco.

Trabalhador da construção civil "há quase 30 anos", frisa, Francisco relata que ele mesmo percebia problemas na estrutura do prédio. O autônomo admite que não tem esperança de recuperar seus bens. "Se eu fosse comer, beber, vestir, a depender da construtora, eu já tinha morrido de fome", vislumbra. 

Para o aposentado Hélio de Assis Alencar, 78, morador do segundo andar do prédio, incomoda, no momento, a falta de referências sobre a quem recorrer para garantir o básico à necessidade dos desabrigados. Ele tem dormido na casa de uma "filha de criação", na Maraponga, enquanto a situação não se resolve. 

"Ontem (sexta), nos prometeram, que fariam o resgate (dos bens), mas não consegui pegar nada. Eu era inquilino, há dois anos. Família nessas horas, some tudim. Procurei a imobiliária, mas eles só ficam levando na conversa", protesta.
 

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