Suposta vítima de Kat Torres, Desirrê Freitas lança livro sobre rotina de exploração com coach

A mulher de 27 anos é a testemunha que sustenta o inquérito que mantém a coach presa

Escrito por Redação ,
Montagem de Desirre Freitas e Kat Torres
Legenda: Desirrê Freitas conheceu Kat Torres há 7 anos
Foto: Reprodução

Desirrê Freitas, de 27 anos, afirma que é uma das vítimas de Katiuscia Torres Soares, de 34 anos, presa há quase um ano. A testemunha que sustenta o inquérito que mantém a coach Kat Torres espiritual sob custódia escreveu um livro para contar as experiências vividas por ela nos Estados Unidos. O exemplar já está disponível para a pré-venda, desde a quinta-feira (26).

Ao jornal O GLOBO, a autora do livro "@searchingDesirrê — Minha jornada pela liberdade" relatou em detalhes sobre a rotina de exploração sexual, violência física e manipulação que vivenciou. 

"Faço isso como um alerta, para que outras meninas não passem pelo o que estou passando. Inclusive, parte da renda do livro será destinado às vítimas de tráfico humano. Renunciei à minha individualidade e às minhas crenças para seguir as orientações dela, deixando para trás minha vida, família e amigos. As consequências foram inimagináveis", comentou a jovem.

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Desirrê conheceu Kat Torres há 7 anos 

Desirrê começou a seguir a página de Kat Torres em 2016, quando tinha 20 anos. A primeira consulta com a guru espiritual, segundo a jovem, ocorreu dois anos depois, em 2018. 

"Tive contato com ela por todos esses anos, até o ano passado. Nos tornamos muito próximas e a gente se falava muito por telefone. Foi quando ela me disse que estava passando por um momento difícil e que precisava de ajuda, porque não tinha amigos e família e que não confiava em mais ninguém além de mim. Fui ajudá-la nos EUA e acabou acontecendo tudo o que aconteceu", contou. 

A autora morava na Alemanha e foi ao encontro da guru nos Estados Unidos. Desirrê descreveu que foi obrigada a se prostituir em stripclubs e a se relacionar sexualmente com membros da elite americana, clientes da guru. A clientela de Katiuscia era formada por atletas famosos, empresários, políticos, produtores de Hollywood. 

"Eu cheguei lá e, num primeiro momento, tudo parecia normal. Depois ela conseguiu me influenciar, me manipular e me convencer a trabalhar nos clubes mediante ameaças. Comecei fazendo programas de até US$ 1 mil dólares, e depois surgiram clientes que pagavam até US$ 20 mil", relatou. 

A jovem ainda descreve que foi forçada a tirar o método contraceptivo para engravidar de um cliente milionário. "[Kat] me convenceu a tirar o DIU para engravidar dele. Depois, ela mudou de ideia, mas eu já tinha tirado e não pude parar de trabalhar em nenhum momento. Por conta disso, peguei uma infecção, fiquei doente, tive que tomar antibiótico", relembrou.

Desirrê descreveu ainda que teve que usar drogas a mando da guru para satisfazer clientes. "Ela me forçava a fazer tudo o que os clientes queriam para arrecadar mais dinheiro. Inclusive com uso de drogas. Tive que usar cocaína por várias vezes", afirmou. 

Guru espiritual ameaçava se matar

Conforme a vítima, um dos métodos de manipulação da suspeita era a manipulação psicológica, ameaçando se suicidar ou se mutilar

"Ela usava vários métodos de manipulação, todos possíveis. Ou usava a "Voz" (entidade criada por Katiuscia e que deu nome ao livro publicado por ela, que originou sua seita), dizendo que eu seria punida se não fizesse o que ela estava mandando. Fazia chantagem emocional também ou dizia que ia se machucar, se matar. Por vezes também usava da agressividade: gritava muito com a gente", narrou. 

Ela também descreve que a Kat utilizou técnicas semelhantes com outras vítimas, se aproveitando da "fragilidade de cada pessoa". Segundo a vítima, a guru utilizava histórias familiares e pessoas para cooptar ainda mais suas vítimas para perto de si. 

"Falava que todos estavam contra nós, que só podíamos confiar nela e na Voz. Obviamente, nada aconteceu do dia para a noite. Ela me manipulou por anos, me convenceu e eventualmente cortei contato com todo mundo. Quando tudo estourou na mídia ela dizia: 'Olha o que fizeram com você, destruíram a sua vida'. E eu não via na época que estavam me ajudando", descreveu. 

Retorno ao Brasil

Quando as investigações vieram a tona, Desirrê não se considerava vítima, no primeiro momento. Hoje, no Brasil, ela relata que ainda busca entender o que ocorreu e o trauma que passou. 

"Eu negava que era vítima, neguei por muito tempo, e depois foi um processo para entender que havia sido vítima de manipulação. Fui vendo que não foi algo da noite para o dia, foram anos, tudo planejado por ela. Quanto mais eu fui escrevendo o livro, mais eu fui entendendo. Chorei bastante escrevendo", descreveu. 

A jovem segue com esperança justiça seja feita. "Isso não está nas minhas mãos, está nas mãos da Justiça brasileira. O que eu puder fazer para ajudar como alerta de forma pública ou com as investigações, eu vou fazer", concluiu. 

O que diz a defesa de Kat Torres

Ao O GLOBO, o Rodrigo Alves da Silva Menezes, que representa Katiuscia Torres Soares, alega inocência da suspeita

"Em apertadíssima síntese, a defesa da Katiuscia Torres Soares enxerga somente o oportunismo midiático e a busca do sucesso a qualquer custo. Mesmo que sob mentiras como é o caso", afirmou.

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