Sequestro e roubo: entenda como funciona o 'golpe do amor' por aplicativos de relacionamento

A frequência com que criminosos recorrem a essa prática também assusta: é uma vítima a cada três dias

Escrito por Redação ,
tinder
Legenda: Golpes começam em aplicativos como o Tinder.
Foto: Pixabay

Um esquema de sequestro e extorsão envolvendo aplicativos de relacionamento tem chamado atenção das autoridades nos últimos anos. Em 2023, o chamado "golpe do amor" representou nove em cada dez casos de sequestros relâmpagos em São Paulo, segundo a Polícia Civil.

A frequência com que criminosos recorrem a essa prática também assusta: é uma vítima a cada três dias. Por meio de aplicativos como Tinder, Bumble e Happn, 52 mulheres já foram usadas como isca para homens nesse esquema nos últimos três anos.

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Nesses moldes, a Polícia conseguiu localizar a vítima de uma quadrilha em cativeiro na capital paulista. O resgate, realizado em 21 de dezembro do ano passado, ocorreu após os agentes terem acesso a imagens de câmeras de segurança da vizinhança e à localização do GPS do homem.

Os vídeos mostram um homem chegando em um carro à casa da suposta acompanhante. Ele desce e aguarda na calçada. É neste momento em que é rendido por criminosos, imobilizado e ameaçado com uma arma. Em seguida, todos entram no veículo e seguem para o cativeiro.

Agentes do 72º Distrito Policial foram informados da suspeita de sequestro em andamento, segundo o Boletim de Ocorrência. Dois homens foram presos em flagrante.

Apesar do fim feliz neste caso, nem todos tem a mesma sorte. Dos 168 homens sequestrados pelas quadrilhas entre 2021 e janeiro deste ano na Grande São Paulo, cinco deles acabaram mortos no cárcere privado.

O 'golpe do amor'

No caminho até o golpe, o ritual é o seguinte: os bandidos usam identidade de terceiros para entrarem em contato com as vítimas nas plataformas de namoro e marcarem encontros falsos em bairros isolados.

Ao chegar ao local combinado, a pessoa é feita refém enquanto os criminosos realizam transações financeiras em seu nome e roubam seus bens, como veículos. Foi o que relatou a vítima do caso citado acima e outros, entre 25 e 65 anos. 

No início, as quadrilhas eram formadas por homens que pegavam fotos de mulheres aleatórias e desconhecidas para fazer contato com outros homens e efetivar o golpe. Hoje, a estratégia mudou e mulheres conhecidas passaram a ceder suas imagens para esse tipo de crime, como esposas, namoradas e amigas - mas com nomes falsos para driblar as autoridades.

Isso porque usuários dessas redes passaram a perceber a diferença e a tomar providências para se resguardarem. Mas com o passar do tempo, os criminosos conseguiam fazer com que eles se deslocassem para encontros presenciais, quando o sequestro era realizado.

Às vezes, as quadrilhas optavam por efetuar os crimes com mais cautela, levando mais tempo, mas evitando a descoberta em um primeiro momento. É o caso de um empresário de 50 anos que encontrou a falsa acompanhante de 22 anos em um shopping do interior paulista. O "date" correu tranquilamente, até ela sugerir a inclusão de uma amiga de 20 anos em um momento íntimo.

Ele aceitou e, juntos, seguiram para a suposta casa da segunda mulher no Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo. Chegando ao local, ela a encontrou com mais três criminosos armados.

Desarticulação

Das 52 mulheres presas por envolvimento nos crimes, 25 foram só no ano passado. Em 2022, 19 foram detidas, enquanto em 2021, foram seis. O levantamento feito pela Divisão Antissequestro (DAS) foi divulgado pelo G1 e pelo Jornal Hoje. 

Na última quinta-feira (15), mais duas mulheres foram presas - uma delas, inclusive, é reincidente e estava em prisão domiciliar.

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