Mexicana é condenada a se desculpar durante 30 dias por criticar políticos nas redes sociais

Dona de casa acusou presidente da Câmara de Deputados de nepotismo

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(Atualizado às 09:13)
Karla Estrella
Legenda: Karla Estrella teve uma condenação inédita e inapelável por violência política de gênero
Foto: Reprodução X

Uma arquiteta e dona de casa mexicana cumpriu, nesse domingo (10), a pena judicial de desculpar-se por 30 dias seguidos por ter criticado um casal de políticos governistas no X, antigo Twitter.

O caso de Karla Estrella, 47, cuja condenação foi inédita, se soma a denúncias de jornalistas e veículos de comunicação sobre as pressões crescentes por fiscalizar o poder, ao ponto de a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) advertir para "uma tendência preocupante" de novas formas de "censura judicial e legislativa" no México.

"Eu te peço desculpas (...) pela mensagem que esteve carregada de violência simbólica, psicológica (...), assim como de discriminação, baseada em estereótipos de gênero", escreveu Estrella no X, durante o último mês. 

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Acusação de nepotismo

O caso remonta a fevereiro de 2024, quando a mulher, muito ativa no X, acusou de nepotismo o deputado Sergio Gutiérrez Luna, atual presidente da Câmara de Deputados e membro do Morena, o partido da presidente de esquerda Claudia Sheinbaum.

A beneficiária do suposto abuso era a esposa de Gutiérrez, Diana Karina Barreras, que então era candidata a deputada, mas não foi mencionada na publicação.

Sua mensagem foi uma das muitas que milhões de mexicanos publicam nas redes sociais contra seus líderes políticos, habitualmente por suspeitas de corrupção.

Para Estrella, no entanto, a deputada Barreras denunciou o caso, que terminou com uma sentença inapelável: culpada de "violência política" de gênero. Segundo a corte, a publicação "afetou" o desempenho profissional de Barreras, ao colocá-la na posição de "subordinação a uma figura masculina, minimizando suas capacidades e trajetória".

Embora Estrella tenha explicado que sua mensagem só criticava o deputado, os magistrados refutaram seus argumentos.

"Sou uma cidadã normal, que usa suas redes para opinar, para se divertir, para se informar. Não tenho o poder de mudar a política no México, nem essa foi a intenção", afirmou Estrella, ainda incrédula diante da mobilização de recursos públicos para processá-la.

Apesar de os denunciantes militarem em seu partido, a presidente Sheinbaum considerou a sanção um "excesso", ao destacar que "o poder é humildade, não soberba".

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