O que é ansiedade? Veja dúvidas respondidas sobre o tema

Profissionais respondem principais perguntas sobre o quadro clínico

Escrito por Diário do Nordeste ,
Mulher com expressão preocupada, representando a ansiedade
Legenda: Ansiedade elevada e transtorno de ansiedade passam por diagnóstico profissional
Foto: Shutterstock

A ansiedade é um estado de humor e, caso se apresente de forma extrema, pode se tornar um transtorno clínico - que necessita de diagnóstico e tratamento com profissionais da saúde mental. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o Brasil é o País com a maior taxa de pessoas com ansiedade no mundo. Dados de 2020 apontam que 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade. 

O Diário do Nordeste conversou com o psicologo Rodrigo Maia, doutor em Psicologia e professor do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), e com a psicopedagoga Juliana Arruda, doutoranda em Educação e professora na Universidade Estadual do Ceará (Uece), para responder algumas dúvidas sobre os sintomas da ansiedade.

Confira perguntas e respostas: 

O que é a ansiedade? 

A ansiedade é um estado de humor inerente ao ser humano, natural, e um recurso adaptativo na sobrevivência do indivíduo, explicam os professores. Mas, quando experimentada em níveis elevados, acompanhada de alguns sintomas, a ansiedade pode se tornar patológica

Para Juliana Arruda, o principal diferencial da ansiedade natural para a ansiedade patológica é o nível de impacto na rotina do paciente.

"Você não consegue mais dormir direito, você não pode mais comer direito, você come em demasia ou come de menos, ou dorme demais ou dorme de menos". 
Juliana Arruda
Psicopedagoga

Rodrigo Maia explica que podem ser identificados três níveis de ansiedade: ansiedade natural, ansiedade elevada e transtorno de ansiedade. Os dois últimos passam a prejudicar as funções vitais e precisam ser identificados e tratados por profissionais da Psicologia e Psiquiatria. 

"Quando eu começo a não poder viver como eu gostaria de viver, quando não como mais o que deveria comer, não participo das minhas atividades sociais, estou mais isolado, estou começando a entender que essa ansiedade está virando patológica e que eu preciso de ajuda", explica Juliana.

Transtorno de ansiedade

O psicologo Rodrigo Maia aponta que a ansiedade caracterizada enquanto transtorno leva a um sofrimento subjetivo e tem impactos intensos na vida do paciente.  

"Há casos em que ansiedade se caracteriza enquanto um transformo ansioso, como, por exemplo, um transtorno de pânico ou um transtorno de ansiedade generalizada. Esses transtornos bem mais graves precisam de um diagnóstico multiprofissional, que conte com a presença de um médico psiquiatra e também psicólogo".
Rodrigo Maia
doutor em psicologia

Quais os sintomas?

Conforme os especialistas, a ansiedade tem dois principais tipos de sintoma: os somato-fisiológicos (físicos) e os psíquicos. Rodrigo Maia e Juliana Arruda elencaram os sintomas mais comuns em quadros ansiosos:

Sintomas psíquicos

  • Inquietação intensa
  • Angústia
  • Preocupações exageradas e catastróficas
  • Insegurança 
  • Instabilidade
  • Dificuldades de concentração
  • Insônia

Sintomas físicos

  • Taquicardia
  • Vasoconstrição ou vasodilatação
  • Tensão muscular
  • Formigamento ou adormecimento de órgãos
  • Tremor
  • Sudorese intensa
  • Tontura
  • Crises respiratórias

Juliana Arruda ressalta que a ansiedade pode se manifestar de diversas formas, variando os sintomas de pessoa para pessoa. 

Reflexos da ansiedade no corpo

A ansiedade e seus sinais envolvem contextos e significados que variam de acordo com cada pessoa. Os reflexos do quadro ansioso no corpo, como os sintomas mais comuns citados acima, também são características individuais.  

"Dependendo muito do seu ponto físico mais fraco, é como se o corpo respondesse a essa ansiedade a partir da individualidade de cada um", explica Juliana. 

Crises de ansiedade 

Uma crise de ansiedade é um fenômeno agudo, no qual são experimentados sintomas do transtorno de forma abrupta.

O doutor Rodrigo Maia aponta que uma crise tem duração curta e começo, meio e fim. Dessa forma, os sintomas começam de forma leve, aumentam de intensidade e voltam a diminuir. 

mulher em crise de ansiedade
Legenda: Crise de ansiedade tem curta duração e sintomas abruptos
Foto: Shutterstock

"De acordo com literatura em psicopatologia, a crise de ansiedade, que pode estar presente em um transtorno de pânico e outros transtornos ansiosos, tem duração de aproximadamente 20 minutos. Podendo ser menor ou maior", aponta o psicologo. 

Há algumas exceções para o caso, quando ocorrem crises mais prolongadas, em quadro clínicos mais agravados. "O que a gente observa também é que existem episódios em que a pessoa apresenta uma ansiedade mais elevada. E aí o episódio pode durar dias ou até semanas. Aí já é outra característica, mais presente no transtorno de ansiedade generalizada", afirma o professor. 

Rodrigo também aponta que alguns pacientes podem ter diversas crises seguidas, levando a uma sensação de desconforto prolongada. 

Como aliviar os sintomas?

Pessoas com ansiedade elevada e/ou transtornos de ansiedade devem ser acompanhadas por profissionais da Psicologia e Psiquiatria. 

O professor Rodrigo Maia explica que há diversas possibilidades para aliviar os sintomas da ansiedade, que devem ser avaliadas a cada caso clínico. Ele cita três tipos de terapias que podem ser utilizadas no alívio dos sintomas:

  • Terapias farmacológicas: uso de psicofármacos, como ansiolíticos
  • Terapias não farmacológicas: como a psicoterapia
  • Práticas integrativas e complementares: meditação, ioga, técnicas de respiração e relaxamento

O uso de qualquer um desses recursos como tratamento deve passar por acompanhamento profissional. 

Como diagnosticar a ansiedade?

Os especialistas explicam que é comum que pessoas com transtorno ansioso e ansiedade elevada saibam identificar seus sintomas, principalmente quando eles começam a afetar o dia a dia. 

"Um critério muito importante, que é sinalizador para gente, é que cada um sabe seu limite de suporte da ansiedade. São indicadores: sono, alimentação, questões vitais e sociais, trabalho, estudo", explica Juliana Arruda.

O diagnóstico preciso de uma quadro de ansiedade elevada ou de um transtorno ansioso e só pode ser realizado por profissionais. "A pessoa pode perceber esses sintomas, mas sozinha ela não pode fechar o diagnóstico", afirma Rodrigo Maia.

A diferenciação entre o nível natural de ansiedade e um quadro patológico é possível apenas com atendimento profissional. "Esse diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar. Normalmente, quem confirma o diagnóstico de uma ansiedade, de um transformo ansioso, é um médico psiquiatra. Mas o profissional da psicologia também trabalha com esse diagnóstico, especialmente se se tratar de um transformo ansioso", ressalta Maia.

Ansiedade e depressão 

A depressão também afeta um grande número de brasileiros. Conforme a OMS, 5,8% dos brasileiros têm a doença. Os especialistas afirmam que os sintomas entre os dois quadros são semelhantes e há casos de pessoas com os dois transtornos.

"A literatura aponta que os dois quadros podem estar frequentemente juntos, concomitantes. A diferenciação para a pessoa é um pouco difícil. Por isso, a necessidade de um acompanhamento com um profissional da área da saúde mental", explica o doutor Rodrigo Maia. 

O medo, as preocupações e a insônia, assim como outros sintomas psíquicos comuns às duas condições, precisam ser avaliados para entender qual quadro clínico está os causando. 

A professora Juliana Arruda ressalta que a depressão altera os índices hormonais do corpo humano e influencia no equilíbrio.

"É uma presença muito constante de pensamentos negativos, e pode causar também alterações químicas no cérebro. Depende muito dos nivelamentos da depressão, e é uma tristeza, um sentimento que vem sem explicação", explica a psicóloga. 

Ansiedade em crianças

Em crianças, a ansiedade se manifesta mais intensamente em questões comportamentais. Devido à dificuldade de comunicação das crianças, o quadro pode ser mais difícil de ser identificado. 

"A criança não consegue falar como nós adultos falamos. Então, geralmente essas questões psicológicas das crianças aparecem pelos gestos, pelos comportamentos. Ela muda o comportamento na escola, ela muda o comportamento na família, ela fica diferente. Às vezes (demonstra) por um desenho, pela fala. A criança pode ficar mais infantilizada, ou o contrário".
Juliana Arruda
professora do curso de psicologia da Uece

Dessa forma, é importante que os responsáveis pela criança estejam atentos ao comportamento e à rotina dela. Juliana reforça que as crianças se comunicam, principalmente, por meio ações e gestos. 

Ansiedade na gravidez

O fenômeno da ansiedade gestacional é observado em mulheres grávidas, principalmente entre as de primeira gestação. As mudanças biológicos e psicológicas com a gravidez 

"Em razão dessas mudanças, essa ansiedade gestacional pode ser observada de maneira mais proeminente. De acordo com a literatura, tem mais relação com os medos com relação ao corpo e às mudanças de papéis, os temores em relação à vida do bebê e também ao parto", aponta Rodrigo Maia.  

A psicóloga Juliana Arruda afirma que, como o nascimento de uma criança requer planejamento, a ansiedade pode acometer de forma mais intensa às mulheres grávidas. 

A especialista aponta que a instabilidade do contexto de pandemia costuma intensificar as preocupações das gestantes. 

"Porque elas precisam sempre ter um dia de amanhã, pensando no dia do parto, nas consultas. E como a gente tá muito sem planejamento na pandemia, pelo próprio isolamento, a ansiedade pode realmente trazer de forma mais intensa para as gestantes", aponta Arruda. 

Sobre os especialistas

Rodrigo Maia é doutor em Psicologia e professor do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Eele tem especialização em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento e Hospitalização (2014) e em Neuropsicologia, além de mestrado e doutorado em psicologia.

O pesquisador desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão com enfoque em temáticas como: psicologia da saúde, desenvolvimento humano, neuropsicologia, psicopatologia e terapia cognitivo-comportamental.

Juliana Arruda é psicologa, psicodedagoga e doutoranda em Educação e atua como professora na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e na Unichristus. A pesquisadora tem formação clínica em Osvaldo Dante Di Loretto- SP e tem experiência na área de Psicologia e Educação. 

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