'Vai acabar levando bala': ex-policial deve ir a júri por matar empresário no CE
Ainda enquanto policial, o agente teria transportado o executor do crime e monitorado a vítima.
A Justiça do Ceará decidiu pronunciar, ou seja, levar ao Tribunal do Júri o ex-policial penal Ítalo Emmanuel Cardoso Soares. O homem é acusado de, enquanto agente, ter participado do homicídio de um empresário no Interior do Estado. Outros dois denunciados foram impronunciados.
Segundo a acusação, Ítalo participou da morte planejada da vítima Thyago Machado Pessoa. O Ministério Público do Ceará (MPCE) disse na denúncia que o policial tinha como função transportar o executor da ação de Fortaleza até o Crato, prestar suporte logístico, monitorar a rotina da vítima e a presença policial na área do crime.
Francisco Sérgio de Oliveira e Alexandre Magno Matias da Silva seriam os outros dois responsáveis identificados pelo assassinato. Sérgio foi denunciado como o originário credor de uma dívida mantida por Thyago e quem teria repassado todas as informações sobre o débito autorizando "Alexandre Magno resolvesse a situação".
No entanto, o juiz não se convenceu da existência de indícios suficientes de autoria sobre a dupla e impronunciou Sérgio e Alexandre.
A defesa de Ítallo afirma que "a decisão de pronúncia fala de muita coisa, mas, quando chega a Ítalo, sobra só um detalhe: um número de celular que nunca foi apreendido, periciado ou comprovado como sendo dele".
Segundo os advogados Jader Aldrin e Júlio César Costa, não existe testemunha, imagem, áudio, presença no local ou vínculo com os outros investigados. "Tudo se apoia apenas na suposição de que ele usava esse chip. E suposição não é prova", afirmou a defesa.
Conforme documentos obtidos pela reportagem, o juiz reiterou "que há outras eventuais linhas investigativas não exploradas pelo Estado". As demais defesas não foram localizadas pela reportagem.
'Crime teria alto grau de complexidade'
O assassinato aconteceu no dia 20 de abril de 2024, por volta das 9h, no Crato. Francisco Gleyson foi denunciado pelo MP por ter efetuado disparos de arma de fogo contra Thyago.
"O crime foi previamente planejado e envolveu divisão de funções entre diferentes agentes. As investigações, a partir da extração de dados dos celulares da vítima e do executor, revelaram que o delito foi motivado por dívida preexistente entre a vítima e Francisco Sérgio de Oliveira, posteriormente transferida a Alexandre Magno Matias da Silva, vulgo 'Escobar', que assumiu a cobrança de forma violenta e ameaçadora, tornando-se o autor intelectual do homicídio"
A acusação aponta que o crime teria alto grau de complexidade, "havendo indícios de participação de outros indivíduos ainda não identificados na estrutura do grupo criminoso responsável pela execução".
No dia 18 de junho deste ano foi realizada a instrução e ouvidas testemunhas. Nas alegações finais, o Ministério Público do Ceará pediu a pronúncia do trio.
DEMISSÃO
Em fevereiro deste ano, Ítalo Emmanuel foi demitido da Corporação. De acordo com a publicação da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) no Diário Oficial do Estado (DOE), o agente foi preso em flagrante no dia 15 de junho de 2021, por suspeita de participar de uma extorsão de R$ 25 mil, no bairro Dunas, em Fortaleza.
A demissão foi noticiada pelo Diário do Nordeste e, na época, a defesa do policial disse que ele realizou apenas uma cobrança de uma dívida, o que "não daria margem a indicação de crime de extorsão".